Poeta de Gaveta

CRIAR III

                                                 esCrever

                                                      Redações

                                              ConcIsas

                                                      Analíticas

                                                        cRiativas

 

(por Luiz Cláudio Jubilato)

CRIAR II

                                 Compreender

                 interpretaR

                              analIzar

                            linha As

                                  EntRelinhas

(por LUIZ CLÁUDIO JUBILATO)

CANTIGA PRA DECANTAR

Ventos do mar

arrepiem os pelos do meu corpo

toquem em mim

que a minha alma sabe voar

 

Calor da terra

aqueça a pele do meu corpo

grude em mim

que meus abraços fazem acontecer

 

Estrelas do céu

entorpeçam meus olhos

aconcheguem-se a mim

que a minha mente tem asas pra sonhar

 

Ruídos da selva

invadam meus ouvidos

entrem em mim

que meu coração aprendeu a viver

 

(por Luiz Cláudio Jubilato – 20/05/2013)

 

 

FRATURA EXPOSTA

(Por Luiz Cláudio Jubilato)

 

Cheiro de merda

é a guerra

seus odores, fedores, horrores

 

Corpos esquálidos

é a guerra

ossos quebrados, dilacerados, rasgados

 

Fedor de mijo

é a guerra

suas cruezas, tristezas, incertezas

 

Homens crus

é a guerra

sexo anal, brutal, bestial

 

Terra arrasada

é a guerra

criancas marcadas, amordaçadas, estupradas

 

Pênis rijo

é a guerra

bucetas rasgadas, dilaceradas, esterilizadas

 

Cheiro de puteiro, fedor de homem nu, horror das estacas enfiadas no cu

Horror de corpos pendurados nos paus de arara, a vida nas prisões é coisa rara

Fedor de excrementos empesteiam os ventos, carne nas mãos de carrascos lamacentos

 

Caveirões arrastando gente pobre pelo barro e esgoto das favelas e ruelas.

Policiais atirando a esmo na vielas pegando sombras de cidadãos pela goela.

Bombas e fuzis e minas não reconhecem aliados ou opositores nem regras nem lugar.

Homens se travestem de feras, de demônios, verdadeiras máquinas de matar.

 

Como faremos pra mudar tudo isso

jovens corações

calando bocas medrosas que creem somente em orações?

 

Como faremos pra acabar com tudo isso

jovens idealistas

erguendo punhos cerrados para consolidar nossas conquistas?

 

Como faremos pra matar tudo isso

Jovens soldados

empunhando gritos de ordem para libertar os condenados?

 

Como faremos para não deixar mais tudo isso acontecer

jovens revolucionários

levantando nossas bandeiras para salvar os desgraçados?

 

A guerra no dia a dia dessa nossa vida mundana é também nossa fratura exposta.

Para os vencedores tem perfume de flores; para os derrotados, tem cheiro de bosta.

 

PRATO FEITO – TRATO FEITO

 

(Por Luiz Cláudio Jubilato)

 

PRATO FEITO

 

como as tuas entranhas estranhas, entre perna e barganhas, caminho torto, para mim

como a comida em toques sutis vis por um tris, sem vontade dignidade, semblante absorto para mim

como quem me devora me apavora e demora, entre tropeços e adereços, pele arrepiada para vir

como o teu dia a dia repleto de porções anêmicas polêmicas, sem pendências comigo, para ir.

 

TRATO FEITO

 

Contra mim, impassível não entrega teu corpo nem se desapega dos teus escombros

nem foge nem fica, estaca como estátua escondendo-se descarnada desalmada em cima da cama

nem gagueja nem pragueja, pára como pária submissa carregando meu peso sobre os ombros

Apesar dos teus ardis, aprendi com cada objeto, cada dejeto, que não és uma dama, mas sim mucama.

 

PRATO FEITO – TRATO FEITO

 

Não me envolvo com tuas carícias nem absolvo as tuas malícias armadas pra me entristecer

Ofereceste a mim na cama como prato feito de comida farta, mas sua frieza não tarda torpe a aparecer

Trata-me com indiferença, como se fosse uma doença, trato feito, com desrespeito para me vencer

És  meu engano escarrado e cuspido como amante, outrora estonteante, cuja beleza insiste em envelhecer.

 

THE END

 

O final de um amor infinito se resume em raiva e culpa

cada um usa seus medos e inseguranças como desculpa

os outrora amantes civilizados que juram amor eterno

agora brigam por panelas, cachorros e até por um terno

as juras de amor que, no namoro, soavam como trato feito

no fim do casamento, acumulam ressentimentos num prato feito

 

 

BREGA

(Por Luiz Cláudio Jubilato)

 

Conheço o teu mundo fútil de cor e salteado

por isso fiz esse poema pensando em ti

por mais que me sentisse abandonado

 

Conheço teu beijo morno de cor e salteado

teu corpo nunca aqueceu o meu

por mais que pedisse desesperado.

 

Conheço teus carinhos frios de cor e salteado

tua boca jamais tocaram meus lábios

por mais que implorasse ensimesmado.

 

Conheço teu coração tolo de cor e salteado

teus ouvidos nunca ouviram minhas súplicas

por mais que gritasse minha dor atordoado.

 

Sei que esse poema é muito brega

com um refrão pisado e repisado

tal qual uma velha canção sertaneja

cantada por um velho músico desafinado.

 

NÃO SOU MÃE

(Por Luiz Cláudio Jubilato)
PARA MINHA MULHER, UMA SUPERMÃE
Não sou mãe, mas, se fosse, estenderia as asas para aquecer meus filhotes nas noites frias de fome e/ou de desespero.
Não posso ser mãe, mas, se pudesse, seria também boca, para beijar e acalentar meus filhos em cada vitória, em cada fracasso, em momentos de solidão, em instantes de deslumbramento.
Não imagino como é ser mãe, mas, se imaginasse, teria de imaginar-me geratriz de gerações, flor no pântano, socorro de gemidos desesperados, mesmo tendo vaticinado, sem sucesso, a possibilidade de dar errado.
Não seria capaz de ser mãe, mas, se fosse capaz, teria de carregar na barriga sorrindo de contentamento o DNA da promessa… promessa da perpetuação da família.
Nasci homem, por isso não sei o que é carregar na seiva que corre nas veias um amor incondicional à prova de tempestades, reveses, esquecimento, abandono e até desprezo.
Não sei o que é doar um pedaço de mim com fé no coração, sorriso nos lábios e certeza na mente.
Ser mãe é muito mais que educar, é mentir para salvar, é cantar para enxugar as lágrimas, é segurar a mão para resgatar a cria do abismo para aconchegá-la no colo, afagar seus cabelos, como se os braços fossem o ventre da natureza.
Qual mãe não é tudo isso e muito mais?
A TODAS AS MÃES, TODOS OS DIAS FELIZES NESSA VIDA QUE, APESAR DE TODOS OS PESARES, VALE A PENA VIVER.

Ah! TESTADO

Atesto para os devidos fins que, apesar da minha vida cibernética, da minha roupa antisséptica, minha preocupação estética…Fui vampirizado pelos pseudo estetas de plantão, os animais políticos da situação, os intectualóides de ocasião… Pelo noticiário direcionado, o discurso encomendado, o crítico pseudo-intelectualizado…. Engoliram, sem que eu percebesse, meu resto de humanidade, de sensibilidade, de intelectualidade… Quem são eles? Os donos da mįdia? Os proprietários dos escravos do capital? Os deturpadores do que é conceitual?

 

Atesto ciente do meu fim que minha cara como minha alma cabem dentro de uma tela. Me tornei um monstro manipulado, um beócio ridicularizado por quem enfim, descaradamente, manda em mim… Fui vampirizado….  agora idiotizado, domado, sem religiosidade, sem Deus, sem credibilidade. A minha alma gira medida em gigabytes, megabytes, terabytes… Minha cara virtual montada, construída, mais nítida que na vida dita normal. Hiperrealismo, sem idealismo, sem didatismo, mas com individualismo, ceticismo… Espírito crítico sem cosmovisão, sem observação, mas com deturpação, com submissão… Quem são eles? Os disseminadores do caos? Os incentivadores do mal? Os engenheiros da sociedade? Os opressores da dignidade?

 

Atesto com um determinado fim que estriparam a verdade, estupraram minha dignidade, maquiaram a realidade… Minha suposta identidade vem antes do @, o carimbo que atesta minha existência, depois. Esfrego meu corpo, não faxino meu espírito torto, não limpo a minha pele, minha conduta submissa me repele… Não tenho nenhum alento, não experimento nenhum sentimento, apenas tormento… Deturparam a ciência, comeram minha inteligência, deglutiram  minha consciência. Quem são eles? Os que zombam de nós? Os que fizeram da nossa revolta uma mentira cheia de nós?

 

Atesto para todos os fins, que os usurpadores da honestidade engambelam quem tem dignidade. Argonauta de um mar nunca dantes navegado, navego agora por um ciberespaço, sem dimensões nem compasso… O Google converteu-se na minha memória, no meu saber, no meu conceber, na minha história… A Wikipedia confronta o meu pseudo-conhecimento, o meu discernimento, o meu descobrimento. Minha face no Facebook, me traz amigos que na rua jamais distinguirei, através da tela jamais abraçarei. O Instagran é o meu Dorian Gray, recusa-se a me envelhecer, jamais minhas rugas irá remover. Eternamente jovem, sorriso engarrafado, semblante congelado, ser robotizado… Quem criou tudo isso? Os que riem de nós? Os que nos transformaram em compradores sós?

 

Atesto para qualquer fim que fui idiotizado. Aceito, como normal, o beijo ensaiado, o sexo coreografado, o homem puro animal. Sou apenas um número nas estatísticas, na conta do cartão de crédito, para o call center, para o entregador de pizzas… Quem são eles? Os que abusam de nós? Os imbecis que fizeram da nossa felicidade uma realidade atroz? Quero um mundo que se viabilize – “Eu sou um ser humano: por favor, não dobre, não perfure, não mutile”.

AVE, PALAVRAS

Amador: ama a dor
Regador: rega a dor
Semeador: semeia a dor
Armador: arma a dor
Cultivador: cultiva a dor
Divulgador: divulga a dor
Relator: relata a dor
Vencedor: vence a dor
Complicador: complica a dor
Elevador: eleva a dor
A palavra na mente de um escritor incongruente brinca somente
com o significante
ou o significado que às vezes mente.
                                                                  (POR Luiz Cláudio Jubilato)
(Por Luiz Cláudio Jubilato)

ACORDE COMO AMOR

O acorde arranha a noite. Acorde.

que a escuridão não é boa conselheira.

 

Como o alimento nutre a vida. Como.

que a comida sacia o corpo.

 

O amor atiça o cio. Amor.

que o desejo entorpece a alma.