Poeta de Gaveta

JF SÓ

Juiz de Fora. Somente… Só mente… mente… só…

Juiz de…Fora… juízo de Fora… história longe de ora… Juizforanos mundo afora…

Parto. Fujo do útero da minha mãe. Parti para fora pra sempre. Cidadão do mundo. Parto. Partido. Dividido.

Sou cidadão do mundo. Mundo imundo. Mundo fecundo. Desmundo.

Saio do útero da cidade. Ganho estrada. JF. Apenas imagem. Congelada no retrovisor do ônibus… depois do carro. Partidas

Outras vezes. Tantas vezes Parti… tantas lembranças paridas… Sempre… Parto… Dividido… decidido…

Nunca me senti aqui… nunca fui de lá… Fiquei no meio do caminho… Onde minha perna manca me levará?…

Não sei muitas coisas… Muitas delas jamais saberei… Até quero… Mas não poderei… Faltam testemunhas… Gente

Nunca mais voltei Estive de volta Parei Vi Constatei Apalpei Tropecei Dei as costas Não olhei pra trás Andei pra frente Não voltei Jamais voltarei. Fim. The End.

Lembranças? Lambanças?… Passadas… Finadas? Quem o sabe! Nem eu.

Não mais o Bar do Beco, suas mulheres. Maquiagens de palhaço de circo Mesas de lata.  Passageiras. Guichê . Prazer pago. Mal pago. Depois frustração. Potes de esperma. Sós. Somos todos sós. Nascemos sós. Pernas de fora seios de fora necessidades de fora. Na madrugada o samba canção Mesas de lata. Vermelhas ora brahma ora cocacola. À meia madrugada Bar da Bebel: alcoólatras anônimos sinônimos de ninguém. O Privê: bêbados conhecidos Sinônimos de alguém. Turma. Agora. Fechado. Enterrado. Com nossas lembranças. O alicerce do edifício as sepultou… garrafas vazias leo roberto Geraldo beto pc… Nunca mais todos se foram uns continuam juiz outros fora

Nunca mais a chuva molha bobo eriçando os pelos. A pele maltratada. Corpo gelado. Inconformado. Coração. Atormentado. Os amores seus odores dissabores infratores os amores possíveis os desejos impossíveis dois corpos exprimidos no muro que a consternada lei da física se ajoelhou consternada diante do desmentido dois não ocupam sim o mesmo lugar. No espaço. Ofegantes. Cansados. Extasiados. Suados. Boca na boça. Sexo roçando sexo. Se espurrando. Até gozar. As mulheres lindas feias as feias feias feias lindas. Mulheres comuns. Incomuns. Todas ali. No Galdêncio. Na escola de samba. Ensaiavam a dança do acasalamento. Era sempre sãbado. Era sempre de noite.

As que viam através da gente as que nos viam através das lentes. Você é lindo dentro desse carro importado diziam elas com bocas batons vermelhos. Promessas. Elas. Todas elas hoje têm rugas, estrias… Como nós casaram Engordaram Tempo cruel Não perdoa Maltrata mais o belo O que todo mundo vê O que nos chama Assim há muito mataram nossas fantasias de despeitados que precisam ter o belo a fantasia na vida.

Para pais, capitalismo, futuro, família, filhos, tudo… Por isso passeatas Nossas bandeiras rotas Nosso romantismo tolo tosco de ocasião “Vida… Morte… Vida…” com torresmo debaixo do bigode do bigode este sim revolucionário dicionário de palavrões Nossos corações com cerveja a “Pulsar” de ódio de paixão de revolução. Mudar tudo. O mundo. Com Discurso. Punho cerrado. Só na mesa do bar

A única responsabilidade de não ter responsabilidade. Alguma. Nenhuma. Tudo agora é Passado. Repassado. Transpassado. Amassado. Impresso em folha de papel. Nesta folha onde o Tempo é finito. O ontem. Fim. Só lembrar. Retratos pregados na memória recuperados em rápidos encontros? ou desencontros? Nossa identidade. Nossas impressões Como éramos igualmente comuns. Muitas rusgas nenhumas rugas.

Todos ficaram. Só memória. Só quem viveu as tem. Ou ela nos tem? Ficou aquela posição congelada Só está o ONTEM Só. Um pedaço dele morre todo hoje. Existe o HOJE. Só. O agora. Nos punhos. Cerrados. Novas. Novas exigências. Experiências. Obrigação de vencer na vida. Ou apanhar dela. Ela imprime suas marcas. Nos vincos nas mãos na testa no pescoço em volta dos olhos…. Cabelos brancos… ou falta deles. Barrigas proeminentes. Poucos encontros nos passam a limpo. O que é o sucesso? O domado ou o domador? Nossa identidade se perdeu sem bússula. Amor é contato. Hoje o silêncio de elevador constrangedor nada a fazer. Nem a dizer. Distâncias trituram torturam a falta dos porquês. Nada temos mais a nos dizer. “Vidas Secas”. Olho pra eles “eu me lembro das pessoas que um dia eu fui” Eles não.

Bolsos vazios. Bocas cheias palavras palavras discursos vãos. Nus. Copos sempre vazios. Privê frequentadores. Indiferentes. alguns contentes outros dementes. Contatos nascentes. Todas as noites quase semelhantes. Sem beber iguais. Juiz de Fora. Correntes das quais difícil cidade emoldurada. Risadas. Piadas. Feliz idade. De um tempo contado… Ficou pra trás. Morreu. Já não É… virou tema, poema ao toque de um dedo. Vida. É. Corrida como na janela de um trem. A distância longe dos olhos das mentes dos corpos dos corações… Tudo vai ficando ficando desmanchando uma espécie de “Simfonia solitária em dor maior”. Lembrança dói. Constroi e desconstrói.

Cicatrizes não fecham feridas meus fantasmas minha vida no calçadão tatuagens história de uma passagem escondida debaixo da pele. Pedaços de mim ficaram por lá naquelas esquinas onde escolhi caminhos para trilhar. Amar. Desamar. Programar. Jurar. Dizer. Desdizer. Retratar em contos poemas riscos rastilhos não mais. eu mesmo. juiz de mim. Sei que estou melancólico. Me vejo de binóculo. Mal me reconheço. Me desconheço.

Raízes. Juiz de Fora. onde aprendi. Desaprendi. Ri. Sofri. Escrevi meu MANIFESTO Em dose. Intensa. Extensa. Pretensa. Minhas raízes invisíveis. Indizíveis. Longas caminhadas. Madrugada adentro. Dói dentro. Drogas arrancadas uma a uma dia após dia. Que desperdicei. Fui mais longe do que queria. Juiz de Fora apenas algo estranho da qual saí, mas que nunca saiu de mim. Nem vai sair como uma doença. uma tatuagem uma cicatriz. Meu amor meu desamor meu berço Meu tumor vou deixando na estrada por onde eu passar. Onde pisar com meu pé sujo de tempo Onde eu me sentar.

Vivo agora outro mundo outro país. Outro lar. Homem dividido ao meio. Corpo. Alma. Coração. Já fui de lá estando aqui aqui já fui de lá. Agora. Partido ao meio. Não sou nem de lá nem daqui. meu lado esquerdo se esqueceu do direito. De mim… Não. A vida cumpriu seu papel. Me rachou de vez. Sou de mim. Dos meus. A morte não me assusta. a VIDA sim… A vejo de fora… por fora… afora. Agora. Hoje. Só. sem revolução.

A Avenida rio branco que vem e vai sempre para o mesmo lugar Feliz paraibuna que está só de passagem alguém disse com voz embostada sem nenhuma mentira porém sem nenhuma verdade. Falou quem não vive nela. Não tem presença física lá. Agora JF está lá longe. Talvez até a noite chegar. E eu poder deitar pensar me deixar levar

O tempo cruel. Da última vez, vi as pessoas, seus contornos esmaecidos. Rotundos. O que era belo ficou comum. O que era feio ficou comum.  Juiz…  Fora… De fora… Pra fora. Não há reconheço mais. Não a quero mais. Nunca voltei. Estive nela. Com ela. Pela janela do apartamento a medi. A medida criou uma roupa que não me cabe mais. Jamais voltarei. Não tenho  a posse dela. Nem lembrança consciente. Minha mente mente.  Terei JF. Só. Na carteira de identidade na certidão de nascimento Na impressão digital. Nada mais. Cadê o João XVIII da minha adolescência? Da minha pobreza intelectual? Da construção da minha moral? Onde estão as pessoas? Dona Terezinha? Danilo? Sérgio? Seu Raul?

As pessoas estão não onde não se mexem mais Só se eu programá-las em sonhos. Estão incondicionalmente presas sorrisos ensaiados de fotografia abrem feridas eu era feliz e não sabia… Só vejo juiz de fora enfiada no retrovisor do ônibus do carro se indo indo indo indo…

Saudades do que eu era. Nunca mais serei. Nem poderei o tempo não deixará jamais… ele não perdoa…Passa a vida a ferro… Mas deixa o poema… Sem ele não tenho visão nem inspiração… Nada…

A água de chuva cai. Essa chuva. Não volta mais…

memórias ficam pingando como ela ou mergulhadas na cerração.

memórias são novelos rolos de filme instantes atropelados raiva paixão

E como doem…

 

 

VITA,VÃOS E SEUS DESVÃOS

(PROF.:LUIZ  CLÁUDIO JUBILATO)

 

Ruas vêm, ruas vão. Os passantes tropeçam nos seus próprios calçados, nos vãos. Nos pedaços de calçada, nos desníveis, nas poças d’água, nos pedintes, nos vendedores de falsidades, nos proxenetas travestidos de gente.

Passageiros enfrentam-se do queixo para baixo. Os homens olham para trás, as mulheres visam e desvisam os olhos sempre para frente. Guerra. Ombro a ombro. Balé de mancos: um pra lá; dois pra cá.

Passantes passageiros espremem-se entre a parede e a sarjeta. Emburrecidos, nem se viram emparedados; equilibristas, põem um pé aqui, outro ali; um na calçada, outro no asfalto. Roçam nos outros. Não se olham. Não se veem. Nunca se sentem. Jamais se sentirão.

Engenheiros quebram as ruas com as esquinas. Nelas penduram a cangalha entre os postes. Todo gado tem de olhar pra cima. Para os lados. Para frente. Pra trás. Firmar o corpo pra não ser empurrado. É a regra, a lei para os boçais.

A cangalha amarela avisa: “Olha! A morte é vermelha. Pare. Pense. Está à espreita no corpo parado ou nos riscos de pneus no asfalto; a liberdade é verde, pode ser mera ilusão. Andar guiado por sinais. Prisão. Algemas invisíveis. Muletas. O vermelho projeta a grade por trás dos olhos, é sangrar; O verde é a esperança. Quebra os grilhões. Nos tira da inércia. Será?

Quantos sacrificaram vidas avançando; quantos a mantiveram ao parar? Quantos morreram parados; quantos escaparam ao se projetar? A necessidade nos obriga a seguir. Cumpriremos. Temos de engolir qualquer competidor. Deglutir um opositor. Carregamos o cabresto. Estamos armados de impaciência, suor, desejo, metas, distância. Querem nos adestrar os gurus de gestão, os chefes de setor, os comensais. Estamos debaixo do relho. Gemeu, está fora. Despedido. Mandado embora.

Senho franzido. Corrida suada. Olhos fixados na presa. Impregnados das incertas certezas. Temos de seguir os manuais para resolver irresolutas questões. Há uma bíblia guiano nossas atitudes, encarcerando em mandamentos também em tópicos nossa inensatez, nossa lucidez, nossa estupidez.

Somos passantes passageiros como que na janela de um trem. Passageiros no guichê de uma rodoviária. Passantes no eterno check in do aeroporto. Por um segundo, nos encontramos,  nos percebemos, nunca nos sentiremos, mesmo se a máquina parar. Seres máquinas. Escolha própria. Pessoal.

Passantes passageiros carimbados com o fedor na pressa da cidade que borbulha, anestesia, estupra, consome, violenta. Nós um dia sairemos dela, ela, com seus nós, jamais sairá de nós.

Ruas, seus vãos, uns os veem, outros desvãos. E todos nós habitamos nossos corpos, as mentes dos outros. Que nos desprezam. Que nos amam. Que nos querem dentro de si ou não. Estamos sós, com nossas saudades, desejos, medos, construções. Queremos o mar. Queremos a terra. Queremos a segurança. Queremos voar. As vitórias não nos redimem, as derrotas também não. Carregamos conosco nossas carnes já sustentadas por nossos ossos. A vida é mera condição.

Estamos estacados na esquina. Cidade quebrada. destinos quebrados, senão emaranhados. A prisão ou a libertação não interessam.  Ignoramos o verde e o vermelho. Esticamos a mão. Gritamos: táxi!!! Cheio. O condutor finge não nos ver. A nossa existente inexistência à beira da calçada. Não é um corpo, mas mera mão.

Se vazio, o condutor pára para saber se , do nosso destino, se dignará a participar. Olha os nossos trajes, afinal correspondeu somente ao nosso sinal, ao nosso anseio. Somos apenas agora a nossa mão. Abre os dentes sem simpatia. Somos agora a carne apenas para preencher o estômago do vazio. Sustento. Nada mais.

Os dias são assim enfim: táxis param ou avançam obedecendo a sinalização. Cheios de vida, não param para ninguém. Carregam os  protagonistas das prmessas. Das comédias, tragédias, séries de possibilidades. Os vazios procuram nas calçadas os coadjuvantes, diretores dirigidos, roteiristas de bares soturnos onde escrevem todos os dias o roteiro da sua cultivada também adubada solidão.

 

 

COBRA

quinta-feira, 05 de setembro de 2013

(LUIZ CLÁUDIO JUBILATO)

 

A Obra cobra.

Eu. Checar o dentro de mim vislumar o fora de nós

A Obra veneno.

Eu. Meu tormento me remoendo por causa do imundo

A obra desdobra.

Eu. Protagonista ferino trama rindo de tudo ferindo o mundo

 

A Obra devora

canta fala cheira afoga come fede até se empanturrar capítulo a capítulo de nós autor leitor

insiste com suas idas e vindas em me mudar eu soberano autor dono de destinos proprietário da trama

cada vez que nos enfrentamos em nossos muitos eus ela me repele me abraça me compele

aceito o desafio de transformá-la, atualizá-la, reorganizá-la, do início até o clímax, até o ponto final

ela cospe na minha cara minha pura inocência de momento quanto as minhas prerrogativas eram criancices ingênuas

ela não aceita esse novo risco eu me arrisco a um novo encontro e então ela exige nosso desencontro

 

A Obra tem identidade

Reage não abre mão de sua identidade não quer ser reescrita ela é a mesma mas eu autor não

toda obra tem sua claustrofobia sua verdade sua mentira sua dignidade sua incomensurável liberdade

a obra é cobra venenosa dobra-se nas entrelinhas se desdobra nas entrelinhas paralisa os músculos hipenotiza a razão

 

A obra é o ser e o não ser

Não sou eu não é você somos todos nós não é ninguém

PAI

(Luiz Cláudio Jubilato)
Num belo dia de sol, minha mulher me deu um menininho de presente que carregava os traços dela e os meus também.
Não andava nem falava, mas mandava na vida dela e na minha também. Meu mundo girava em torno dele e do dela também.
Um dia disse “eu te amo”. Ela, descrente, recuperou sua fé. E eu que estava de joelhos, me fiz mais homem, me pus de pé.
Aí veio uma menininha, que sorria o tempo todo para mim.
Seu sorriso e cabelinhos encaracolados viraram parte de mim.
Cada tropeço doeu muito nela, mas doeu muito mais em mim.
Um beijinho dela faziam todas as vozes cantarem por mim.
Juntos eles são a nossa força e também a nossa fraqueza.
Juntos eles são nossas limitações e também a nossa destreza.
Nós os parimos para serem cidadãos desse mundo tão duro.
Terão nossa força, farão sua caminhada, construirão seu futuro.
Fazem xixi e cocô na nossa roupa e, mesmo assim, nós os amamos. Eles mandam na nossa casa, sujam nossa cama e, mesmo assim, os adoramos.
Pais, vivemos o orgulho de sentir nossos filhos com nossos traços, nos aconchegaremos nos seus deliciosos abraços
Levarão nas suas atitudes a educação que a nossa casa lhes dá,
Carregarão pela vida inteira o nosso DNA.

RAPA DO TACHO

(Por Luiz Cláudio Jubilato – 09-06/2013)

 

TÔNTU QUI NEIN PIRÚ DI NATÁU!

 

Tô andanu nessa rua. Sein rúmu. Nein direção. Qi neim um bosta n’água! Andu tãu fudidu. Qi u môrru. Túdu êli. Mi chama di chulé! Já fui gambá! Já fui côru di pica! Já fui pelôtu! Num sei cômu guêntu. Túdu issu, mânu. Só guêntu, purquê vumitu tudu nus meu cadérnu, véi. Qué sabê cúmu aprindí a iscrevê, véi? Num tívi iscóla. Só intrei. Num dia. Naquela porra. Prá robá. Num tívi fessô. Aquêlis babaca. Qi sábi. Qi sábi túdu,. Mais só sábi u qui tá nus lívru. Aprindí a lê. I iscrevê mau. I porcamênti. Nu líxu. Pégu quarqué pedáçu di papér véio. Tívi sórti di trombá nêssis córgu da vida cum fessô craquêru qui mi deu umas dica. Firmeza? Êli mi díssi qui a gênti divía iscrevê cômu fala. Acêntu é fêitu bunda di muié gorda. Teim sêmpri qui sentá. Nu lugá ôndi tá mais fórti. Pôntu é qui nein cagá. Dá vontádi. Pára. Vírgula. É qui nein gilléti. Corta prus dois ládu. As veiz, nêssi rôlu tôdu, meus pensamêntu gira tântu. Qi paréci pirú di natal. Tá ligádu?

Fálu túdu daquelas paráda qui vêju nas rua, parcêru! Nus bêcu, nas birosca. Firmeza? Nus baile funk. Nus bôndi i nus putêru tambein Tá ligádu? Aí, intãu, na rua dus bacana. Qi dei di cara cum playboyzinhu tôntu. Qi teim aquela cara di tôntu. Di quein tá dôidu pra cê robádu. Tá ligádu? Tá cum aquela peita colata cum a cara du Manu Brau. Teim casa cum tântu múru in vorta qui paréci cófri, cumida na mesa, cama e mãi isperânu prum ispôrru di ternura purque êli demorô muíntu pra chegá in casa i dexô ela morta di preocupaçãu. Saiu vívu, foi pra aula e vortô tárdi. Tá ligádu, mânu?

Ântis ela levantô as mãu pru céu, mânu. Nessa cidádi, saí vívu, cum a muchila. I u celulá nas mãu. I vortá vivu. É tê muita sórti. Firmeza?Mais nãu dévi abusá. Sórti é qui nein trepada. A gênti nãu teim tôdu dia, véi. Ela tá nu portãu da casa cófri. Boa di robá. Ela abraça êli cum apitíti danádu. Passa us dêdu pêlu côrpu du babaca. I nus moicânu amuntuádu. Nu áltu da cabeça dêli. Boióla! Bunda móli. Êli teim carínhu, famía. Amô. Futúru. Eu num tênhu bêju, porra nenhuma. Nein abráçu, nein casa, nein mãi. I só presênti. I óia lá. Vorta i meia. Vêndu armôçu. Prá comprá janta. Tênhu erva prá mi agradá. Ingânu u istômugu cum cráqui. I bótu adrenalina nas emoçãu. Botânu história nu papér di pãu. I depênu uns otáriu. Di veiz in quându. A vantági é qui sô máchu. Meu píntu fica dúru. Cum muié. Só dei u rábu prus pulíça. Pra sarvá a vida. Dispois di um assártu.

Vi êli nu ôtru ladu da rua. Rínu num sei. Di quê. Aquêli risínhu fiudaputa. Di quein nasceu pra tê futúru. Prá mandá nus bôbu. Qi neim eu. Tá ligádu, mânu? Nunca vai tê sentimêntu di curpa. Fôda-si pra gênti, parcêru. Num vai nunca sabê. U qui é curpa. Vai explorá us troxa a vida toda. Prá vivê. Nu bein bãu. E nóis? Foda-si pra nóis, parcêru. Quein mandô nascê póbri! Olhei nu zóio dêli. Quându êli cruzô cumígu. Na rua. O sângui subiu nas venta. Num sei purque nãu arranquei. As tripa dêli. Ali mêrmu. I tomei u celulá. Qi nunca vô tê dinhêru. Prá comprá. Trocá a vida dêlis. Pela minha mórti. Reisínhu fiudaputa. Minha vontádi era matá. Tudu fiin di papai, véi. Tocá u terrô nu mundu, na favela, nas casa cófri mermu, véi. Ninguéin vai mi tomá. U qui num tênhu. Quéru túdu u qui nunca tívi. Dá porrada na vida. Firmeza?

 

A VIDA NUM VÁLI PORRA NENHUMA!

 

Eu tava andânu pela rua. Sein olhá prá nada. Pensânu nu play. Qi tinha pai. I mãi. I aí a bala vêiu du bêcu. Passô pela fuça du sujeitu. Ricochetiô na parede. Intrô nu báçu. Rasgô aquêli bichu pirdídu pru pó di cábu a rábu. U ômi grunhiu i caiu grunhínu fêitu um pôrcu. Trombô a boca cum asfártu. U bêiçu ficô fêitu papa di sângui. Infiô a cara na merda. Tá ligádu? Ficô qui nein hemorróida. Tava ferrádu quându. U zômi chegô, mânu. Distribuíru porrada. Pra tôdu ládu. Quería pegá u bandídu. Qi fudeu cum. Aquêli bunda móli. Qi si dexô pegá disprivinídu. Firmeza? U sujeitu era mula da milícia. Tá ligádu? Carregava a parada pra favela. I trazia ôtras parada iscúndida nas cuéca. Alguéin. Muitu dôidu. Dóidu de pedra. Atravessô u samba. Ficô gananciôsu. Botô u pau. Na mesa. Desafiô us traficânti. Di farda. Íssu vai dá merda, tá ligádu? U caverãu vai varrê a favela. Di áltu a báxu, mânu. Procurá u babaca matadô. A discurpa é pegá u bandídu. Mais é póbri qui tôma nu cú. Pra intregá u burráudu. Us bandídu, na verdádi, sãu êlis. Mais a farda protégi êlis. Túdu quântu é otoridádi ganha cum a milícia. As da pulítica lá di cima. Us rícu fiudaputa. Qi veín zuá aqui pra dizê lá nu asfártu. Qi tein mânu di fé aqui. Êlis até cria as tar di ôngui. Pra cherá. Sein sê prêsu. I posá di papa óstia. Lá nu inférnu du asfártu. Us viádu du guvêrnu faiz quarqué coisa. Até boquéti. Si pricisá. Prá si dá bein, inchê us bôrsu. Puríssu êlis fecha u zói. U jôgu agora era símplis, firmeza? Quein mata. Quein num dévi. Mórri cum a boca cheia de furmiga, sabênu purque. Tá ligádu? U zômi vai tocá u terrô, véi. Ninguein passêlis pra trais, véi. Êlis qué bufúnfa. Vãu torturá criança, batê in muié. Istripá ômi. Até discubri. Tá ligádu? Vãu revirá us bêcu i us cachôrru. Pêlu avêssu. Nóis súmu qui nein cocô. Véin a pulíça. I pisa in cima.

 

VACILÔ, DANÇÔ!

 

Pôcu dênti na boca. Us qui sobráru, tava cariádu. Báfu di carniça. Firmeza? Cunhici u Báfu di Múmia. Êli mêrmu, vêi. Ântis da mórti detoná cum êli. I fazê dêli. Êssi prisúntu. Quiría. Purque quiria sê chéfi du tráficu. Só isquecêu, vêi. Qi túdu chéfi teim um chéfi. Nu môrru tamein teim muítu traíra. Muítu sacana qui qué negociá cum zômi. Dá a bunda pra êlis pur íssu, Faiz boquéti, U carái. Qué ficá rícu, tê pássi lívri pra pegá arma a vontádi nas mãu dêlis. Tê puta a vontadi e grâna pra torrá sein si preocupá, véi. Êssis viádu. Êli sabia díssu, mais feiz questãu di num sabê. Viu u qui num pudía, Achô qui ia subi na vida. Isquecêu qui póbri Só sóbi na vida. Quându isplódi u barrácu. Só toma laranjada. Quându sai briga na fêra. Mêrmu assim, virô  leva i trais. Feiz acôrdu cum us vagabúndu dus pulíticu metídu a bêsta, qui qué jogá pra turcida fudênu cum quein num ineressa prêlis. Êlis num qué aparecê, Prá posá di salvadô dus ôtru rícu fiudaputa. Mais nu fúndu nu fúndu qui qué ficá cum túdu prêlis i tirá di túdu réstu. Firmeza? Êssis babaca puláru fora. Iscondêru o rábu. Quându víru. Qi num tinha como peitá a milícia, véi. Intãu dançô. Vacilô. Si fundeu. Feiz acôrdu cum gênti mais safada. Qi êli. Traíra. Di sulução, Bãfu virô pobrema, mânu. U môrru teim lei. U zômi nãu adimíti vacílu. A milícia é dona. Du môrru. Dna das arma, Dona das droga, Dona dus traficânti, dona. Di túdu. Bota a cara pra batê. Mórri sein gemê, Mata gargaiânu, Gospe nu prisúntu. I toca u bôndi. Pra frênti. Prá matá. Mais um. Êssi prisúntu, num sirvia mais prus rícu. Qi num pudía peitá a milícia, Purque nunca ia sujá as mãu na merda. Intãu quemáru u arquívu na boca du bêcu. O vagabundu matadô ia sê chéfi, prometêru u zômi fórti du asfártu, lá di cima du guvêrnu, mânu. Isquecêru só qui a milícia num é burra. U Báfu, vagabúndu Leva i trais. Era ômi dêlis. Êlis achava. Tá ligádu? Êlis acháru qui tinha gênti. Querênu butá as mãu. Nu mônti dêlis, véi. Alguein ia pagá. Aí quându ela sênti Qi teim chêru de merda nu ar. Ela toca u terrô, véi. Ninguein pódi cuela, véi. I quein pódi, pódi; quein num pódi, Si sacódi, véi. U zômi lá di cima num pódi cuêlis. Si arrependêru i sartáru fora. Pra num dexá pista, quemáru u arquívu. Nóis. Si num presta mais, Vira arquívu, mânu. I arquívu é quemádu a bala. U túmulu fica nu mêi da rua.

 

QUEIN TEIM DINHÊRU MANDA, QUEIN NUM TEIM, DÁ U RÁBU!

 

U pôrcu du Báfu, caiu di boca na merda, mais dexô herdêru. É sêmpri assim. Um si fódi, dexa u matadô nu lugar. Ainda quându teim as costa quênti, Bafu achava, véi. Inquântu intereçá prá milícia, Fica nu lugá. Si pisá na bola. Mórri, mânu. A  mílicia compra êli igual êlis sãu comprádu. Pur gênti, graúda. Nóis, na favela, sômu qui nein píntu saínu du ôvu. Nóis násci sozínhu, a mãi é galinha, U pai é u gálu dôidu. Sái pra cumê ôtras galinha, nein olha pra trais i nunca mais vorta. U negóciu é fazê pintim, sein tê obrigaçãu di alimentá. Depois num pódi reclamá du trôcu. U môrru nãu sábi u qui é pai nein mãi. É cobra cumênu cobra. U negóciu é sobrevivê. A mulecada cheira dêsdi piquena. Mata dêsdi cêdu só prá vê fazê careta. Nãu tãu nein aí pras coisa  Nein pras pessoa. Sábi qui vãu morrê cêdu nas mãu di bandídu qui qué cumê êlis e dispôis usá como aviãu. Quein vai aléin dus déis ânu si acha ispértu, levanta as mãu pru céu, mânu. Só qui u múndu num é dus espértu. é di quein teim dinhêru. I êlis num teim dônu até us déis, nein dinhêru us dezesseis. piedádi nunca. Até caí nas graça du chéfi da boca, tôdu múndu divídi túdu. Dispôis quein é mais mau fica vívu. Quein faiz u mió boquéti, fica vívu e já pensa in sê chéfi Di boca. Botá túdus du môrru chupânu u pau dêlis, Mandô nu môrru. aí é cada um pur si. Quein for mais máchu ganha a vida até morrê na ponta da faca dus mais véi ou morrê na ponta da bala do dônu da boca ou crivádu de bala cuspida pêlu caverãu ou torrádu nu microondas, nôvu ainda, Báfu caiu môrtu pela bala do fíu. Agora u fíu era u chéfi. Muítu pió du qui u pai, êli vai mandá nu môrru até a milícia dexá. E a milícia num vai dexá. U pai dêli era gênti dela. Ela achava. Matô assim, teim de morrê cumênu capim. É a lei dus bichu era a lei du zômi Di farda. Cum puta mêdu di morrê, Pau di Grílu, vagabundu agora qué fazê. Acôrdu. Si a milícia afroxá, êli prométi dá dinhêru grôssu préla. Intregá u mandânti da trairági, dêli. ajoelhô pru zômi. i ajuelhô tein di rezá. Falô in grana, a milícia topô. Mais quiria, purque quiria u nômi du mandânti. Pau tein di rezá, apesá di êlis discunfiá qui era um figurãu du tar du guvêrnu. Agora fudeu pra êli, véi. Vai pagá, nein qui seje cum u rábu, tão ligádu? Pintu di Grílu ia durmí cum oio abértu I ôtro fechádu.

 

MAIS FILIZ QUI PÍNTU NU LÍXU!

 

A milícia ia matá u nôvu Pau nu ártu du môrru, Só num matô, purque viu sângui nu zói du bíchu alein du pó. Êli, pra num batê côas bota, quis fazê um acôrdo cum zômi I acôrdu é acôrdu. Até num sê mais, mânu. Ficô sabênu pur chegádu meu, qui quiria aparecê prêle, prá ganhá pó. Qi eu tinha inveja di um play dus jardim, Purissu eu sabia di túdu. Qi êli fazia. I ôndi fazia. Mi arrastô preu dá u sirvíçu. Pôis u treís oitãu véiu inferrujádu tava quênti na minha cabeça. Eu trimí. Qi nein vara vêrdi. “Fala papagái fiudaputa. Vumíta logo. Essa porra, viádu. Quein é u tar boyzinhu. Desimbuxa, Malândru. Porraaaa”. I eu, mijânu pelas perna abáxu, intreguei a parada, mânu. “Leva a gênti Lá”, Mi bateu na cara o u Pau di Grílu. Tá ligãdu? Pensei in dá uma bifa nu pé du uvídu dêli, Mais inguli a raiva. Levei us jumêntu na casa cófri. U play tava chegânu cum a porra da muchila i a porra du celulá. A mãi tava nu portãu isperânu, praquêli maudítu carínhu nus moicânu du babaca, véi. Foda-si. Tomara qui morra us dois agarrádu um nu ôtru. Uns pivéti passáru a vigiá a casa. U Pau marcô qui nóis ia entrá nu cófri. Prá pegá as parada nu dumíngu. Ôndi nãu teim muita gênti in casa Ou, si teim, tá coçânu u sácu i vênu aquela porra du domingau du faustãu. firmeza? Vai ficá uma párti maió pra nóis i u réstu pru zômi da milícia, véi. A gênti ia si ferrá, si êlis discóbri. Falei, íssu vai dá merda. Purque ninguein ingâna u zômi.Qi num sãu otáriu. Nu qui u portãu da garági foi fechânu, intrâmu na casa. Já intrei dânu uma muquetada na fuça du play, mânu. Vuô uns dois dênti. Êli si espatifô nu chãu. O véiu falô lógu, “Qi é íssu, seis sábi cum quein tãu falânu i u qui tãu fazênu?” “Sábi ôndi tão?”  U Pau di Grílu num pensô duas veiz i muquetô a fuça du véiu I Juãu Ninguéin muquetô a véia. Qi caiu tudu cheím di sângui. “Seis vãu si fudê, seus fiudaputa” Falô u véiu Levô um chúti nus bágu. Gruniu qui nein um pôrcu. A muié gritô. “Éli é u chéfi du chéfi da milícia dosseis seus merda. Éli é qui pôis ocê, seu Pé di quarqué coisa Ôndi ocê  tá, seu viadim. “Seis vai morrê cum a boca distentada, cheia di furmiga, Seus viádu Seis tãu fudidu, quându a milícia discubrí quein seis é”. “Seis erráru u pulu, seus fíudaputa”. “Êli é tamém vereadô, seus bosta. É otoridadi”. Gelei. Ficâmu qui nein pirú in véspra di Natal. Si bein qui nunca vi ninhum. Mi fudi, mânu, pensei. Tô môrtu. Vô virá cumida di urubu. Puis túdu múndu numa fria. Num fui atrais prá sabê quein morava ali. Si num môrru nas mãu da milícia, môrru nas mãu dus bandídu. U play oiô pra mim cum raiva. Chutei a cara dêli. Só quiria cortá u sácu dêli. Pindurá aquéli fiudaputa nu varáu pêlus moicânu. Viadínhu. Merdinha. Us muléque quiria mi matá, pur causa da minha burrici. Tô fudídu. Mais u sângui mi subiu. Mi fudi. Já qui tô fudidu. Lévu éssa bichona. Cumígu. Túdu êlis ficaram di zói ni mim. Túdu êlis, nu fúndu, quiría fazê u mêrmu. Pús u pau pra fora. Ia cumê u cú dêssi viádu. A véia gritô. Us muléque mi seguráru. Vi nu zói di cada um. Qi êlis uniria tamém.

 

TÂMU JÚNTU!

 

Saímu corrênu I dêmu di cara cum zômi, na porta. Íamus. intocá nu môrru. A milícia tava di tocáia. Êlis ovíru túdu. carculáru túdu. dispois qui a véia cantô a missa. Inchêru nossa cara di porrada. A casa du chéfi du chéfi. Da milícia. Tava sêmpri múitu vigiada. Êlis víru. Qi nóis tava rudiânu a casa I fôru procurá nóis, mânu, tá ligádu? Marcáru tôca, aí nóis intrô. Ovíru barúi. Di porrada. I grítu lá dentru I já ia intrá pra vê. U zômi da milícia cunfundíru túdu. Acharu qui nóis tava ali. Pra cobrá dívida. Eu tava. U carínhu. Qi u boyzínhu cum cara di viádu tinha. I eu nunca tívi. A cama quentinha. Qi nunca vô tê, mânu. U Píntu di Grílu, pensô êlis, matô u Báfu di Puta, seu pai, mandádu pêlu chéfi du chéfi dêssi véiu. Qi qué ficá cum negóciu dêlis. Atiráru nu qui víru. I certáru nu qui num víru. Foi assim mêrmu. U figurãu, pulíça aposentádu, vereadô. Foi u contratânti. mandádu. Pêlu chéfi. du chéfi dêssi véiu. Chéfi dus miliciânu. Êssi ôtro chêfi é figurãu. Di um tar di planártu, véi. Deputádu. É íssu. Cum êssi nômi. Dévi sê fíu di puta. I puta rampêra, tá ligádu? Túdu é fêitu na surdina. Ninguéin. Sábi di ninguéin. Ninguéin vê cara. Di ninguéin, parcêru. U Píntu di Grílu si metêu nêssi burácu. Sein pai, nein mãi. Nein vela. Jogô suas ficha nu iscúru. Foi cumídu. Ía sê banquêti di furmíga. Cúma metranca na cabeça. Tôdu papagáiu. ábri u bícu. U chéfi du chéfi da milícia intregô túdu, dispois di tê u búchu rasgádu a faca cega. Putaquiupariu. Tremí nas perna. Nunca tinha vístu. Tripa. Di fora. Us muléqui pirou, tá ligádu? Túdu nóis quiria fugí, mais êlis tava di zóio ni nóis, véi. Êlis tinha sângui nu zói. Si u véiu contratô u Píntu pra quemá u Báfu arquívu cum a promessa Di fudê a milícia prá ficá nu pudê da boca, du môrru. Da putaquiupariu I ainda dá mólí pra êssis deputádu vereadô I u carái. Agora, si ferrá I carregá túdu nóis cum êli. Quein manda passarim acumpanhá murcêgu. Passarim qui acumpanha murcêgu dôrmi di cabeça prá báxu.

 

QUEIN TEIM CÚ, TEIM MÊDU!

 

Us píntu menó fôru levádu pru ártu da favela juntu cum Píntu maió chorânu qui nein viúva in velóriu di amânti di píntu grândi, i u chéfi du chéfi da milícia pidínu pinícu “Mi máti, mais dêxa minha muié i meu fíu vivê!” U chéfi da milícia gargaiô “tá di sacanági êssi babaca” U chéfi   Píntu da boca foi u primêru a intrá nu microondas pra virá churráscu di urubu cum a cara toda fudida gemênu cum u côrpu tôdu quebrádu piricía arroiz di quinta tá ligádu Cabô u acôrdu véi U chéfi vereadô I u iscambáu du chéfi dêlis têvi a cara chutada pur túdus miliciânu A cara virô papa di sângui  toda muída cum as porrada Ântis cumêru o cú da muié  I du fíu dêli na frênti dêli pra êli vê tá ligádu Êli divía sabê qui quein teim cú Teim mêdu firmeza Nessa óra delirei, u play tava mais ferrádu qui azeitona in boca di banguélu firmeza Foi estrupádu mêrmu Matáru us dois, êlis num quiria tistimunha véi Dispois puséru a gênti na ponta du môrru I passáru fôgu na gênti Sein tistimunha Êlis num quiría mânu firmeza Rolâmu a ribançêra uns in cima dus ôtru Túdu nóis gimía Fiquei pur báxu Cum tirú qui intrô nu ládu da frênti i saíu du ládu di trais dus ômbru Nasci di nôvu véi Saí dali túdu istropiádu véi Tô agora aqui nêssi burácu di múndu ti contânu íssu purgui sei qui tu num é cagueta mânu Si tu mi canguetá Mórri nóis dois Vâmu vê capim pela raiz meu mânu véi Nóis num é nada nêssi mundãu di deus Num têmu arma Num têmu dinhêru, nein têmu dônu Nóis é sobrivivênti qui nein micróbiu in catárru, nóis sobrevívi nu istêrcu qui nein minhoca, nóis vivi i sobrivívi  da merda, dus réstus dus ôtru, dus iscremêntu dêlis. Nóis é líxu nêssi lixãu… Nóis é a rapa du táxu.

NÓS

 

 

Nós nos vemos presos a nós

Quanto mais fugimos de nós

Mais acabamos atados a nós

 

Quanto mais tentamos nos ver livres de nós

Mais presos ficamos a nós

 

Como nós, muitos se atrelam a nós

Como nós, vários se entrelaçam a nós

 

Como nós, muitos se alimentam de noz

Até o mundo é uma casca de noz.

 

Nós somos como noz

 

(Luiz Cláudio Jubilato – 30/06/2013)

CANIBAL

DEUS dentes

 

Ando emoldurado pela neblina e as luzes dos postes. Respiro a cidade com seus guetos, templos, suas vestais e o seu despudor. Nada disso me interessa. Sou um deus, com botas de couro. Piso as poças d’água, sem me molhar com a podridão. Entre a paz e o medo, caminho dividido como um mortal. Venho impregnado de certezas. Me atropelam as incertezas. Carrego o mundo tatuado em vincos. Nas palmas das  mãos: trilhas, picadas, as estradas principais, as vicinais, ruas e avenida. Todas em mim. Expremo um chiclete entre dentes. Mordo meu destino com avidez. Pareço um ruminante. Búfalo. Força desmedida. Sem saber pra que, nem por que. O vermelho na minha boca parece borra de sangue, mas não é. Cachup engana. Parece, mas não é. Ando empanturrado de arrogância. Pança cheia de sanduíches. Não creio em armas, nem guerrilhas. Creio no que vejo. Marginais. Revóleres. Vejo possibilidades. No corpo, ossos proeminentes. Músculos indecentes. Criados com anabolizantes. Esculpi a fantasia de gladiador. Enfrento qualquer ladrão com o poder da minha espada. Minha hóstia. Minha crença. Em mim. A religião do eu sozinho. Encastelado na minha fé em mim mesmo. Bato na cara dos outros. Sem correr. Sem temer a morte.

 

ESQUINA quina

 

Na esquina, vermelhidão, estátua de pele e pelos. Masculina feminlidade. Denunciam – talvez o rosto; talvez os olhos… de gazela… de leão… talvez o coração… Ele cobiça carne. A minha. A nossa. Abate qualquer uma. É um açougue. Ambulante. Comerciante de corpos. Ajusta sua mira. Vislumbre de caçador. De matador. Sem perdão. Sem remorso. Sem pudor. A quina da parede onde se apóia.  E também o salto. Maachuca suas costas. Nunca temeu a dor. Rela nela. O chicote. O cuspe. O desdém. Acostumou-se ao desprezo. Dói. É. Como estaca no peito. Como pedras pontiagudas. Ferida no corpo. Não na alma. Deseja ter o meu ser. Ele mal se aguenta dentro das calças. Sexo, a sua profissão. Orgasmo, seu parque de diversões. Mesmo frustrado. Mesmo pago. Arrasta pelas ruas, esquinas e becos a arma sedutora: a boca. Enorme. Disforme. Pelo batom. Cor de sangue. O físico travestido. De mulher. Esconde o homem. As mãos… Ah! as mãos… O pomo de Adão proeminente. Como placas de neon. Indecente. As unhas escuras. Capazes de arranhar alma corpos e almas quaisquer. Basta cortarem o caminho. Feito faca. Feito destino. Atroz. Feroz. É. Lutador. Pegador. Sabre em riste. Dedo em riste. Pênis em riste. Cara triste. Cobra o pagamento. Pela lambida. Pela chupada. Estupro na noite. De vários. De todos. Sobras de tudo. Amor de ninguém. Aceita fácil. É assim. Sempre foi assim. Atormentado. Quase fera. Transgressor.

 

CINZA

 

Cidade cinza. Pessoas cinzas. Sentadas sobre fatos. Jornais sanguessugas. Enchem a barriga de crimes. Transpiram imundície. O inumano. A demonização da vida. Dos marginalizados. Para os que trazem a religião nos bolsos. Mercadores da fé. Refestelam-se para o bem de. Maldição dos outros. Pecados dos outros. É. Sordidez. Estupidez. Ele sabe disso. Ele é a cor. Explícita. Berrante. Agride. Tem garras. O Botox não disfarça sua idade. O silicone não compra outra natividade. Esconde-se onde a luz não está. Por trás da maquiagem. Onde os puros não se criam. Apenas os torpes. Os viciados em ação. Sua casa são as esquinas. Seu condomínio, os quarteirões. Os becos imundos. O submundo de luz baça. De lençóis tatuados com manchas. De desprazer. Medido pelos minutos. Pelos poucos reais. Pagamentos irreais. Pelo trabalho suado. Marginalizado. Desgraçado. Desgarrado. Incriminado. Pelos falsos profetas. Não quer ser salvo. Não vê saídas. Suborna, com voz forçada. Doce. Gutural. Quem se atreve. Se aproxima. Querendo. Implorando. Quem porta propostas. Amorosas.  Sorri. Cobra. Expreita a presa. Prostitui-se dentre possibilidades. Ama o indecoroso. Nunca se submete. Tece teias. Aranha que é. Somente a calcinha arrochada. Disfarça. O perrturba. O expreme. O incomoda. Parte da cidade dorme. Outra parte se mantém sonâmbula.  O medo mantém virgens os à procura de afeto. Não de sexo. Idiotas. Hímen. Lugar estranho para colocar a honra familiar. Desde criança não sabe o que é virgindade. Dignidade. Marginal que é.

 

A BÍBLIA porrada

 

Arrogante, creio ser capaz de ser o bem. Amado. Idolatrado. Arrasto. Deus mortal. A minha solidez. Minha estupidez. Sinto-me rocha pontiaguda arrebentando. A parede. Aguentando trombadas. Elas esculpem. Meu caráter. Meu senso. Minha Bíblia são minhas convicções.  Meu altar. Minhas varizes queimam como ácido. São o meu sacrifício. Em prol da humanidade. Creio. Minha doação ao risco. Creio. Minhas lágrimas e minhas pernas me levam a nadar sobre o submundo. As ruas infectas. Gente porcaria. Creio. Mastigo minha língua. Uso a água da chuva. Me sinto limpo. Creio. Empurro o sangue goela abaixo. Dobro a esquina sem ser tocado. Coração na boca. Peito arfante. Driblei o destino. Repeli olhares pidões. Quero a segurança da moral. Da hipocrisia. Dos bons costumes. Na insegurança segura. Da minha casa. Da bíblia. Arisco. Não corro riscos. Não me afogo na lama do pecado. Acredito. Nas regras sociais. Nas leis. Nos mentirosos. De roupão. Ladrões de consciências. Trôpegas. Acríticas. Na falsidade. Sou alicerce. Sustentáculo. Me submeto. Impassível. Corrigível. Aos ditames. Das incontáveis igrejas. Da religião. Da pregação. Cheia de meias verdades. Massacradas pela autoridade. Escravizadora. Comercial. Da demência. Causada pela falta de indignação. De imaginação.

 

+  EU carne

 

Passo. Não olho pro lado. Só pra frente. Olhares me dissecam. Dilaceram. Minha carne. Minha pele. Minha idoneidade conservadora. Bajuladora do poder. Macho contido. Supostamente heterossexuado. Sem batom. Não porto máscara. Acho. Nem fantasia. Acho. Não é carnaval. Pelos menos acredito no não. Ele ataca. Masculinamente mulher. Musculosamente quase mulher. Promessas rasgam meus ouvidos. Ouvidos moucos. Não quero ver. Nem ouvir. O medo risca minhas entranhas. Martelo a tecla. Não posso ceder. Quero catequisá-lo. Só não o faço porque chove. Acho. Tenho a minha missão. Acho.Não me digno a colocá-la diante de um ser. Que a sociedade. Dita do bem. Rosna que é enfermidade. Penso em correr. Ele tem missão. A dele. Perscruta. Quer. Muda de direção. Não esfrego na cara possibilidades. Não quero. Acho. Não vou. Curioso. Escondido atrás dos olhos. Tenho a visão arrebatadora. Da falta. De moral. Social. Ele a ignora. Se escangalha de rir. Troca de presa. Sem aviso. Sem juízo. De valor. Valor capitalista. Elitista. Pseudo. Pseudo tudo. Fico com raiva. Acho.

 

CANIBAL animal

 

O que aplaca sua volúpia? Seu desejo de abater? Carne nova. Imberbe. Ou homens supostos. Escondidos atrás de alianças. Avança em direção a um carro. A placa está coberta. Considera se vale a pena. A vítima está ali. Escondida pelo vidro enegrecido de propósito. Parada. Sem saber de seus dentes de sabre. Tem também sede de amor. Bandido. O propositor some na noite. Engolido pelas Sombras. Transeunte carcomido pelas circunstâncias. Do desejo incontrolável. Que agride sua essência. Em crise de normas. Se perderá nos descaminhos da vida. Vira número. Comedido. Casado. Frustrado. A caçada recomeça. O preço transmuta-se . Em sustento. É comida. E comedor. Pantagruélico. Guloso. Intimidador. Ainda não amanheceu. Há carne à solta. corpos anônimos. Para serem consumidos. Mercadorias. Consumadas ou consumir. Afia a genitália. Range os dentes. Hora do ataque. Pretendo crucificá-lo. A sociedade. Já o fez. Quero sair de mim. De si. Dali. Quem a caça? Quem o caçador? Quem o mal? Eu vestal. Ele o mal. Quem de nós todos. É o animal? O predador? O comensal? O canibal?

 

(Por Luiz Cláudio Jubilato – 02/06/2013)

CORPO

 CORPO NU

COMO EU

COMO TU

CORPO CRU

AO NORTE – PELO MEU

AO SUL – PELO TEU

nÃO  LÊ / OUTRO + s LEEM

Olho

nÃO  CRÊ / OUTRO + s CRÊEM

DEla CADÊ ELA

boCA

MInha CAMINHA

cara MASCARA

MÁScara na

cara ESCANCARA

FALA MUDA

LÍNGUA  

                        FALSA FERE

                                                                       entender

MENTE SABER  uma + forma + de +       sentir

procurar

existir

CORPOS

ATados suaDos amaRRados  amaDos canSAdos

como o teu, como TU +  como o meu, como EU

                                                           (por Luiz Cláudio Jubilato – 31/05/2013)

EScriTA

esCRita

esCrever

 analis

 I

A

R

 

esCrever

 poet

I

Z

A

R

 

esCrever

transform

A

R

                                                      (por Luiz Cláudio Jubilato – 21/05/2013)

CRIAR IV

 

 

 

          O aluno Criar é diferenciado

                                                busca CRiar mergulhos profundos nas linhas e entrelinhas

                      e assim CrIar textos concisos e inteligentes

                                      para CriAr também novas formas de instigar o leitor

                     dessa forma, o CriaR atinge a qualidade total

 

                                                      (por Luiz Cláudio Jubilato – 21/05/2013)