Poeta de Gaveta

POEMETO SEM VERGONHA

(O BOCA DO INFERNO – 19/06/14)

Vejo a torcida gritar
antes de o Brasil jogar
o hino brasileiro tocar
o povo a capella cantar
a pátria de chuteiras se embebedar
Neymar, movido pela glória, chorar
a FIFA, à nossa custa, se refestelar
A desorganização imperar

Penso como sem produzir
o país prestes a ruir
o desgoverno prestes a cair
a economia prestes a sucumbir

Depois que a copa acabar,
a realidade voltará a incomodar
a inflação voltará a grassar
o trabalhador voltará a reivindicar

o bode expiatório o governo encontrará
o cidadão mais impostos receberá

como, sem faturar,
salários e impostos pagar?

POEMETO DESCARADO

(O BOCA DO INFERNO – 20/6/2014)

Não sei o que é pior:

A propaganda da FIFA, impregnada de estereótipos, com a qual apresenta o Brasil ao mundo: as favelas, estádios no meio da selvas, araras azuis… E a ponte estaiada? Alguém viu o Cristo Redentor por aí?

ou

A propaganda indecorosa da FIFA de oferecer 300 mil dólares às ONG brasileiras, distribuídos em dez anos, para salvar o tatu bola da extinção. E o Fuleco? Alguém viu por aí?

POEMETO TORCIDO E CONTORCIDO

(O BOCA DO INFERNO – 20/6/2014)

O Brasil venceu a Croácia, porém o juiz roubou descaradamente
O Brasil empatou com o México porque o time parecia demente

A Espanha voltará para casa desolada.
A Inglaterra provou mais uma vez que não é de nada.

A Argentina venceu o Irã, por causa de um pênalti não marcado.
A Alemanha empatou com Gana, porque, sem jogar, já tinha ganhado.

No Brasil, os melhores times jogam no domingo
Os piores só jogam na segunda.

SORTE, BRASIL.

ALDRAVAS

I

Como

como

como

 

 

vivo

como

vivo

 

 

II

Escrevo

penso

vejo

 

 

Reescrevo

repenso

revejo

 

 

III

Leia

leia

leia

 

 

Crie

imagine

ceie

 

 

IV

um

cretino

recuperado

 

 

um

Desatado

 

 

V

completamente

 

 

mudo

desesperadamente

desnudo

 

 

 

LITERARIAR

(LUIZ CLÁUDIO JUBILATO – 21/03/2014)

A literatura converte seres em palavras. Ou não?
A literatura cavalaga entre o bem e o mal. Ou não?
A literatura imiscui-se entre o amor e a dor. Ou não?
A literatura inventa o vingador e pune o matador. Ou não?
A literatura agarra-se ao contador e/ao inventor. Ou não?
A literatura é dizer sem revelar/ esconder e se mostrar. Ou não?

Literal / corporal / animal / hormonal / racional. Ou não?
Literal / o que é / o que parece ser / o que não é. Ou não

Livrar / livro / ar / respirar / chorar / amar/ libertar. Ou não?
Livrar / o livro / o libertar / o livro / o enganar. Ou não?
Livrar / o humano / o desumano / o sub-humano. Ou não?

A literatura converte palavras em instrumentos. Ou não?
A literatura descreve / insere / desfere / fere. Ou não?
A literatura pune / resume / infunde / difunde. Ou não?
A literatura vislumbra o real / confunde-se com o visceral. Ou não?
A literatura é pura diversão / pura confusão / pura difusão. Ou não?

Literariar pode ser o mesmo que criar e recriar. Ou não?
Literariar envolve o fazer / o escrever / o ler. Ou não?
Literariar significa inventar / olhar / procurar /observar. Ou não?
Literariar com antônimos / sinônimos / homônimos. Ou não?

A LITERATURA: certezas / incertezas / tristezas / prestezas / presas
O LIVRO: comer / enlouquecer / desfacelecer / mexer / remexer

PERDER O RUMO / PERDER O PRUMO / INCENDIAR / TRANSMUTAR

O CONCEITO MORAL DE IMORALIDADE

(LUIZ CLÁUDIO JUBILATO – 4/3/2014)

 

Enquanto rabisco bobagens nessa tela estúpida que me corrige quando me concentro em errar. Meu vocabulário intoxicante atesta minhas idiossincrasias. Escrevo para não me entenderem. Não tenho saco para essa história de ser fácil para ser compreendido. Se entenderem, o recurso final atende pelo nome de suicídio moral. Imbecilidade cultural.

Lá fora, um ser quase humano, tornado voz, berra. E chora. Depois, o choro miúdo farfalha. Cochicha. Não importa o barulho do cano de descarga dos ônibus, da descarga das casas. Não importa o comedor de fogo puto, xinga, não ganha um centavo no sinal. Minha pena forjada na minha burrice, transcreve o barulho, o incômodo, agora minha torta inspiração. Não dá o tempo de baixar o vidro. O sinal abriu. Dá para ver a cara devolver a moeda para o bolso ao primeiro sinal do amarelo virar vermelho. Sorriso verde. Sai.

Xinga baixinho, quase sussurra, a moça da bengala. O mundo ouve o clic da máquina. Não quer. Não deve ouvir. Flash. A objetiva avança. Só ela. As pessoas, não. Estacam. Jornalista: Vive de lapsos, de momentos, de flagrantes. Fragrância de crime. Manter equidistância profissional? Que nada! Notícia. Notícia. Mundo tosco. Vida torta. No ponto do ônibus, cada olho tem um norte. Nem um olha em frente. Nem um olha pro lado. Nem uma boca pra depor. Contar a estória. Mais uma? Igual? Nem um olho pra chocar. Clic.

Só mais uma subtração de valor pessoal, disse o policial no jargão policial. No ponto do ônibus, toda estaca é surda-muda. Nenhuma é testemunha. O medo fede. O medo feromônio para bandido. Sobrevivente? Craqueiro indecente? Canelas finas fogem. O cão sarnento corre. Único. Toma uma atitude. Arrebenta o medo com um latido. O ganido. A raiva na baba rasga o silêncio das motos sirenes apitos ônibus buzinas. O barulho empurra minha pena pra frente.

O repórter arrasta pelo braço a personagem do momento. Desconhece sua bengala. Sensacional: “A vítima cega, na Rua dos Cegos, roubada. Tinha posse da sua marmita. Sua marmita, seu arroz, feijão e ovo”. Onde estaria ela agora? O comandante esbraveja na entrevista com pinta de macho alfa. Esbraveja. Polícia. Incompetênci. Quem é o bandido? A polícia que atira ou o bandido que tira? A câmera desliga. Depois da matéria. Sensacional: “O comandante enfia a viola no saco. A prefeita não foi encontrada. Seu assessor também não. Nem o assessor do assessor”. O silêncio da autoridade é tapa. Deixa vergão. A cara da população. A polícia é vítima. O mundo é redondo. A polícia sabe; cada um de nós, também. A pena corre. Foge da minha mão. Tem agora coração. Propriedade.

Abro a porta da sacada. Estou no 14º andar. Minha visão cega corrompe a cegueira da moça cega. Vejo o mundo de cima. 14º andar. Minha indignação dura até a hora do almoço. Polenta com frango. Não vi a cara dela. Não como de marmita. Só o pescoço. Só lembro do policial ganindo no jargão policial : “Ainda bem que subtraíram uma marmita, não subtraíram uma vida”. Será? Quem é mais bandido: o bandido que sente culpa ou a polícia que inventa desculpas? Não entende que comida é vida.

Pretensiosos, escritores, poetas, intelectuais, poetas, idiotas de todas estirpes veem o mundo de cima. 14º andar. Tecem suas teses antropofágicas. Antropológicas?Supostamente lógicas. Ajoelham-se diante das evidências. Ficam de quadro. O rabo abanando. Estacas. Nem sequer imitam um cão sarnento ganindo. Interferem de longe, acobertados pela distância entre ler e entender. A pena põe o ponto na imaginação. Não na razão. Burrice. Burrice. Burrice. Animal. Escrita comercial. História fotografada pra jornal.

Esses caras parasitam a vida dos outros. Vampirizam seu anomimato. Vivem de sugar a pele, o corpo, o destino, o choro. A reinventar os outros que acham que existem de fato, quando só existem no fato. Olha que história faminta por emoção? Exagero? Comoção? A marmita da cega, com ovo e feijão, roubada na rua dos cegos.

Enquanto rabisco nessa porra desse teclado que insiste em não me deixar errar. Minha pena corre em desabalada carreira. A moça e/ou o jornalista é/são inspiração. Acho que a ponta do meu dedo corre para o final da linha, como quem põe final a uma vida. Não é ponto de ônibus, nem ponto final. É ponto crucial.

Lá fora o mundo é real. Gente come gente. Comem-se com seus olhos, suas bocas, suas palavras, sua burrice, suas ideologias, seus estratagemas, suas drogas. O mundo é redondo disse o meu avô. O cão, único a morder uma canela fina, de um bando ido, me diz no 14º andar: o mundo é uma droga. Ninguém toma partido. Todo mundo desaprendeu a gritar. Clic. Desaprendeu a pensar. Clic Clic clic clic

HERRO

 

(LUIZ CLÁUDIO JUBILATO – 12/3/2014)

 

Dizem os puristas da gramática que erro (ponto central)

De qual gramática falamos (interrogação ambígua)

Da que surra para induzir ao acerto (interrogação raivosa)

Da que enquadra para punir o erro (interrogação medrosa)

Do que apanha por se envergonhar (interrogação duvidosa)

Do que usa o erro pra se expressar (interrogação óbvia)

Nunca tive intenção alguma de acertar (vírgula)

Nunca aprendi o que significa acertar ou errar (ponto marginal)

Acertei errando (vírgula) errando acertei (ponto fora da curva)

Fiscalizo nas linhas algum deslize (vírgula)

o óbvio me trai (vírgula) foge para nas entrelinhas (ponto dentro da curva)

Impresso no texto (dois pontos) “Herrar é umano” (ponto providencial)

A lousa acorrenta o professor ao sempre acertar (ponto crucial)

Eu provocador como e cago como qualquer animal (ponto individual)

Sei que não sei (ponto crucial)

Erro ao abocanhar (vírgula) ao dilacerar (ponto central)

O que é o corrigir (vírgula) senão apontar um dedo indicador (interrogação capciosa)

O sabedor (vírgula) mais que conhecedor (vírgula) corrige o corretor (ponto visceral)

Eles coitados não sabem que não sabem (ponto marginal)

Não tenho o direito de errar (vírgula) sou professor (ponto providencial)

Mal sabem que um professor é um enganador (ponto de interrogação grudado a um ponto de exclamação)

Engana a si mesmo (vírgula) pois se acredita soberbo na arte de ensinar (ponto de autoembromação)

Que pena (ponto de exclamação) aprende a errar mais que a acertar (exclamação só)

Aperfeiçoar está preso ao errar (ponto ancestral)

O que nos faz humanos é ter um telencéfalo altamente desenvolvido e um polegar opositor (ponto de vista)

Porém, sem fama ou dinheiro, isso não nos torna menos animais (ponto final? ou inicial? ou cabal?)

O EXÉRCITO DE UMA MULHER SÓ

(Hoje são 3 de novembro dia do aniversário da minha mulher – DATE)

(LUIZ CLÁUDIO JUBILATO)

Uma mulher feita de forças extremas em um corpo só
Faz nossas tristezas e agonias, com seu sorriso, virarem pó
É um ser mulher dotada da sensibilidade de desatar nós
Não tem como não estar inteira em cada centímetro de nós

Não é apenas mulher, mãe, companheira, cúmplice
Quando chega é um acontecimento
Preenche com sua presença suave fortaleza
A beleza de cada momento

DATE – palavras não conseguem definir como você é especial

Dá-nos seu Amor intenso, sem meio termo, verdadeiro, integral
Dá-nos sua Ternura com intensidade extrema, sua marca digital
Dá-nos sua Essência, traz em cada palavra equilíbrio fundamental

DATE = Dar Amor, Ternura, Essência
Dar-se inteira, verdadeira, incondicional

Queremos eu, seus amigos, filhos, família sempre estar com você
Usufruir dos seus carinho e cuidados sem dó

Quero viver toda a vida com cada centímetro de você
Meu exército de um mulher só.

NOS ANOS ENTRAM A MESMA SINA

01/1/2024 / – LUIZ CLÁUDIO JUBILATO)

 

Hoje é primeiro de janeiro, um dia para se comemorar

num segundo, morreu um ano, entrou outro em seu lugar.

 

Não importam os jornais, as notícias, hoje é um dia de comemoração

nada de bobagens, apenas ressaca, bebida, orações, é um dia de comunhão.

 

Hoje é um ótimo dia para se pensar em galgar um passo a mais nesta escalada

que Dilma, que Lula, que Aécio, que Sarney, Renan, Dirceu, Genoíno, que nada.

 

Hoje é um dia lindo, o espocar dos espumantes e dos fogos ainda ecoa no ar

nenhum constrangimento, depois de corpos estranhos abraçar e bocas beijar.

 

Que dia fantástico, não há o que reclamar, depois de eternas juras de amor

que poluição, que nada; que violência, que nada; também nada de dor.

 

2014 chegou correndo, nem bem chegou e já escorre pelos dedos da nossa mão

2015 já fazemos planos, concretiza-se nos calendários, deixará de ser previsão.

 

Cuidado, o tempo presente é droga leve, não devemos aproveitar e “viajar”,

ela só abre uma janela

amanhã o efeito terá passado, a dose, então, será mais pesada para compensar,

nos viciaremos por causa dela.

Fatiamos o tempo em dias, semanas, meses, semestres e anos

tudo isso para que possamos comer devagar os nossos planos

 

 

 

QUERÊNCIA

(LUIZ CLÁUDIO JUBILATO – 21/12/2013)

QUERO que meu texto tenha garras e arranhe como um animal

que  arranque as máscaras e escancare o mal, seja visceral

QUERO que o meu texto não seja simplesmente compassivo

quero que seja permissivo, com discurso incisivo, decisivo

QUERO que o meu texto seja atemporal, não seja sentimental

que destrua as grades do tempo, rasgue as vestes das vestais como um vendaval

QUERO que meu texto seja meretriz, uma força motriz

quero que destrua preceitos, marque a cara dos imbecis como uma cicatriz

QUERO que meu texto quebre, machuque, que venha a estraçalhar

que faça com que os enganadores sejam punidos e não continuem a enganar

QUERO que meu texto cheire detestável como bosta

que faça com que o fedor vomite o que e quem o vê como aposta

QUERO que meu texto seja lido, mas jamais obrigue o leitor a dizer amém

que possa ser lido por os que não o leiam com desdém

Meu texto é feito de suor, mas também de revoltas

detestaria ler um texto que não me provocasse reviravoltas

para que serve um texto que não diga nada a ninguém

que viva de provocar rusgas nem retorça alguém