Um absurdo

(Artigo: Professor Luiz Cláudio Jubilato)

Como machucam certas palavras mal-ditas. Uma ex-jogadora, das mais importantes do vôlei brasileiro, me deixou indignado. Ela pode discordar ou concordar com o que quiser, com quem quiser, contudo não pode se sentar sobre fatos. Apesar de o presidente (candidato) dizer que o número de mortes por COVID foi superestimado, a OMS e muitos cientistas respeitados já afirmaram que estão subestimados. Muita gente morreu na expectativa de uma UTI, muita gente morreu em casa e vai por aí. A maioria foram pretos, pobres, miseráveis: “abaixo da linha da pobreza” é uma expressão ridícula.

Voltando à jogadora abastada, vestida de ciclista, que focou a câmera em seu rosto e pespegou: “Sou contra a vacina”, “mas vou tomar assim mesmo”. Afirmou, sem vergonha: “Vou tomar a Pfizer”. A bordo do seu vasto conhecimento científico, afirmou que é a melhor, pois se toma apenas uma única dose.

O que ela pretende, ao tomar a vacina? Viajar pelo mundo.

O dinheiro é dela, o sonho é dela. Pode ir para onde quiser, fazer o que quiser, porém é, no mínimo, absurdo, para não dizer outra coisa, que, para uma pessoa pública. que trata de vida saudável na internet, posicionar-se de uma forma tão bisonha.

Do mesmo jeito que sempre fui fã da atleta, passei a ter aversão à pessoa. Não porque disse que não acreditava na vacina, mas porque foi para a web dizer que não disse o que disse. Ela mesma, aos risos, documentou com a própria câmera. Ao negar, desrespeitou ou desprezou a nossa inteligência.

É uma pessoa sobre a qual sequer posso tecer opinião pessoal, pois não a conheço e não quero conhecê-la. Posso, no entanto, conjecturar: ou é cega ou caolha ou tem algum problema cognitivo ou crê na burrice dos brasileiros. Não cabe aqui discutir o caráter, não se trata disso, mas de desprezo: São mais de 500 mil pessoas mortas. Será que nunca se perguntou o motivo que levou a maioria dos países a não permitirem que pessoas não vacinadas atravessem as suas fronteiras? Por que os outros líderes mundiais tomaram a vacina em público para servirem de exemplo? Por que Biden está doando vacinas ao Brasil?

Desprezíveis os fascistas que não usam máscaras com medo de parecerem doentes e frágeis. Desprezíveis os negacionistas. Não é à toa que viramos uma piada pronta. Triste, uma pessoa andando de bicicleta, pregando vida saudável, se mostrar mais no chão do que o pneu da sua bicicleta.

 segunda-feira, 28 de junho de 2021

sandices

(O Boca do Inferno direto do sanatório)

Todas as vezes que um “indivíduo” chega ao poder se elege à custa da máxima “isso eu nunca farei isso, jamais roubarei do meu povo”. Primeiro discurso: “Estamos em um momento muito difícil, todos sabem”, aí vem a cacetada: Vou ter que cortar verbas da saúde e da educação. Fácil: Se faltarem remédios, equipamentos e mínimas condições de trabalho, não há problema algum, joga a culpa nas costas dos médicos, que querem ganhar muito e trabalhar pouco. Se o problema forem as escolas caindo aos pedações, a falta de equipamentos, a violência, é fácil resolver, basta jogar nas costas dos professores a culpa: são um bando de vagabundos que só pensam em ficar em casa e não querem trabalhar.

O problema agora é muito mais grave, as universidades federais não têm verba para continuar a funcionar. Ouvi da boca de um idiota, que se diz professor, que a UFRJ tinha que fechar mesmo, aquilo lá não passa de um bando de maconheiros e comunistas. Devido ao uso da língua mãe, dá para imaginar o tipo de professor que esse ser representa. Pior, outros gargalharam e concordaram. Pensei cá com os meus botões: “Onde será que esses energúmenos estudaram?”. Cheguei à conclusão de que não poderia ser em lugar algum. Não é possível que uma escola, por pior que seja, ajude seres desse nível a existirem dessa forma tão abjeta.

Para começar, será que nunca perceberam, nem perceberão o quanto uma universidade emprega professores supergraduados com um salário “mérdico”, sem equipamentos (lógico que há os que se viram), porém sem apartamento funcional, auxílio gasolina, auxílio paletó e auxílio do auxílio? A quantidade enorme de empregos diretos e indiretos que geram. O quanto suas clínicas populares contribuem para melhorar as condições de saúde das populações mais carentes e também o quanto uma grande parte se dedica à pesquisa científica? As contribuições da UFRJ, UsCAR e Unifesp para a ciência são inestimáveis.

Lamentável é pessoas grandinhas com dois ouvidos e algum neurônio comprarem o discurso de que universitários pertencem a um bando de professores maconheiros e comunistas. Se o Brasil tivesse tantos professores comunistas, seria o único país comunista do mundo e não esse bando de ditaduras sanguinárias que se intitulam comunistas.

Enquanto jornais estampavam nas suas capas que um aluno genial da escola pública ganhou uma bolsa em Havard e todo mundo e todos ficaram exultante, fiquei deprimido. Sempre é assim, os bons sempre se vão, como se ganhassem um prêmio. É u prêmio, mas com uma cara danada de exploração. No mundo capitalista, ninguém dá nada a ninguém, é a eterna lei do retorno. Não é assim: “Investi no meu filho a vida inteira, agora é hora de ele dar retorno?”.

Não é toa que somos subdesenvolvidos: os EUA é o maior importador de cérebros do mundo. Busca-os nos países subdesenvolvidos onde sempre há um geniozinho à disposição. Há departamentos em empresas em que só há imigrantes. É a lei do eterno retorno.

Um amigo mudou-se para os EUA para trabalhar na área de exatas em pesquisas, devido ao seu alto desempenho, recebeu ofertas de emprego: ele foi o mais jovem professor a defender sua tese de livre docência na USP e suas filhas impressionaram tanto os professores, que universidades, lógico, deram bolsas para que estudassem nelas. O Brasil é um dos maiores exportadores de cérebros do mundo e de matéria-prima também. Qual vale mais, aquele que transforma ou aquilo que é transformado?

Dependemos da China e da Índia para termos insumos para fazermos vacinas, uma vergonha. Temos Institutos de pesquisa respeitadíssimos no mundo inteiro. Dependemos de multinacionais para usufruirmos de tecnologia: nossos computadores têm apenas vaga lembrança: vêm de outros países muito mais avançados. Desenvolvemos tecnologia de ponta para produzirmos mais matérias-primas: a China, nosso novo dominador, agradece.

Enquanto estamos rotulando professores fechando universidades, outros países (inclusive o Chile, para falarmos de um dos nossos vizinhos), não querem saber qual a ideologia que nossos professores pregam, querem saber do que são capazes.

Destruímos o cerrado, a Amazônia, a mata atlântica para batermos no peito que produzimos grãos e carne como ninguém. Ótimo. Para nós mesmos? Não, para exportação. Se o preço do açúcar for mais atrativo no mercado mundial do que o do álcool, você será mais um revoltado, entrevistado pela tevê. Ou mais um resignado, o que é comum por essas plagas. Se São Pedro não ajuda, ligamos as termoelétricas para pagarmos mais pela energia e reclamarmos das bandeiras tarifárias. Deixamos o meio ambiente se degradar, emboscados pelo agronegócio, que nos traz mais divisas, e não podemos reclamar de sofrermos com a umidade relativa do ar pior que a do deserto do Saara, rios e reservatórios secando.

As universidades, os professores, maconheiros ou não, comunistas ou não, estão indo embora do Brasil. Eles poderiam, como podem, nos ajudar o seu país, desde que haja investimento em ciência.

Um certo “empresário” gritou a plenos pulmões que, se as esquerdas não forem embora, serão expulsas do país. É um “dejá viu” apatetado. Uma pessoa não é mais eficiente com as duas mãos? E os que não estão de um lado nem do outro, porque pensam com a própria cabeça, fazem o quê? Ficam ou vão embora organizar a casa dos outros, para que esse “empresário” continue importanto produtos industrializados? O agronegócio fatura, mas não consta que John Deere seja brasileira, muto menos a Bayern.

Veremos as universidades fecharem? Sim. E veremos pessoas nas escolas aprendendo mandarim? Foi assim com a chegada de Dom João VI (começamos a aprender a falar francês, a adquirir hábitos franceses). Nos anos posteriores à segunda guerra mundial se tornou obrigatório saber inglês, afinal fomos aculturados. Se não fossem os brasileiros, a Disneylândia já teria fechado; se não fossem os chineses, o Brasil estaria no buraco, faltariam peças para a maioria dos aparelhos e veículos, como quando o topete de Trump sobretaxou os produtos vindos de lá.

Vamos fechar as universidades para voltarmos a ter capitães do mato, porém, não se enganem, hoje usam terno e gravata e não negociam, impõem, possuem métodos mais sofisticados, querem mentes para criar para eles, corpos para seduzirem e matéria-prima da qual possam usufruir fartamente.

Aos terceiro-mundistas, cabe a ilusão de que é melhor ganhar na megasena, para nunca mais terem que trabalhar.

Ah! Tenho um ex-aluno que se confessa de direita e fez um texto muito bom sobre o momento vigente. O que nos torna fortes é a diversidade. E, lógico, estudar, para não parecermos idiotas defendendo o que os abastados querem de nós: corpos e mentes.

Pensar dói, mas vale a pena.

 quinta-feira, 17 de junho de 2021

A ETERNA LUTA ENTRE A VERDADE, A MENTIRA E A CARA-DE-PAU

(O Boca do Inferno)

DARWIN” E A MENTIRA: “As espécies que sobrevivem não são as espécies mais fortes, nem as mais inteligentes, e sim aquelas que se adaptam melhor às mudanças”. Essa frase nunca foi dita nem escrita por Darwin. Na verdade, está em uma placa da Academia de Ciências da Califórnia. No Museu de História Nacional de Londres, em uma exposição sobre Darwin, atribuíram a ele a frase: “Na luta pela sobrevivência, os mais aptos ganham à custa de seus rivais, porque conseguem se adaptar melhor ao seu entorno”.

MAQUIAVEL E A MENTIRA: “Os fins justificam os meios”, A frase atribuída a Maquiavel, na verdade, nunca foi dita ou escrita por ele. Na verdade, está no poema Ovídio de Heroides.

LULA E MENTIRA: “Nunca na história deste país…” nem precisa ser atribuída a Lula, porque foi berrada aos quatro cantos na campanha política.

BOLSONARO E A VERDADE: “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim” – foi o trecho final do discurso de Bolsonaro, na votação pelo impeachment de Dilma Roussef, transmitido por dez entre dez emissoras na câmara dos deputados, entre vaias e aplausos e uma enxurrada de protestos.

GOBELLS E A VERDADE DA MENTIRA: “Uma mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade”, frase atribuída a Joseph Gobbels, ministro de propaganda de Adolph Hitler, A frase foi dita originalmente em um pronunciamento para diretores de teatro no dia 8 de maio de 1933. Dois dias depois, houve uma grande queima de livros na Alemanha, uma estratégia do Ministério da Propaganda nazista de Goebbels.

DE GAULLE E A METIRA DA VERDADE: “Este não é um país sério” – Charles de Gaulle (presidente francês sobre o Brasil)

OS INCRÍVEIS E O PAÍS À BEIRA DO ABISMO DO “MILAGRE DO DELFIM”: “Este é um país que vai pra frente” – Os incríveis, trilha sonora de uma famosa propaganda durante o regime militar.

MARTIM DE LUTHER KING E A CONSTATAÇÃO: O pastor Martim Luther King disse: “Nunca se esqueça que tudo o que Hitler fez na Alemanha era legal” e “A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar” estão provadas e comprovadas na sua biografia.

MONTEITO LOBATO E A VERDADE NUA E CRUA: “Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê”. Monteiro Lobato, escritor nacionalista, do período pré-modernista. A Igreja fez fogueira dos seus livros.

Tire suas conclusões.

 quarta-feira, 16 de junho de 2021