NÃO NATUREZA – NÃO CHORE POR MIM, POR NÓS

Nascemos para morrer. Óbvio ululante. O problema: intervalo. O recreio. Produzimos lixo. Nossa pele. Nossos cabelos. Caem. Não servem como adubo. Só entopem ralos. Caem com as carícias do amor, do sexo pago. Tempo de Cronos. Constrói-se com rugas. Tempo de Kairós. Constrói-se com fugas. Carpe diem. Tempo, cabelo, pele, ralos, carpe diem: grandes negócios. A casa morre com a limpeza biodegradável. Somos adubo degradável. Insepultos, somos tão-somente putrefação. Depositários de calamidades. Morte, adubo, limpeza: grandes negócios.

O cais já não é mais porto seguro. Não há portos-seguros. Só comandantes assegurando portos. O porto é a desilusão de quem se foi, sem passagem de volta. O quarto de segredos e travesseiros metamorfoseou-se em escritório do pai ou pensão do irmão. Cortaram-lhe a raiz. E agora Raimundo, você não é mundo, nem rima, muito menos solução. Solução: bom negócio.

A mão do verdugo bate: nocaute. Tudo ficou escuro. Onde há salvação? Sem quarto nem paredes de proteção. Não é mais porto. Não é mais seguro. A janela do computador não permite. Temos cada vez menos pessoas com quem falar: eterno outono. As folhas caem aos borbotões. Lógico, a chuva é ácida, abre chagas nos corpos; no chão de garrafas pet. Foi terra um dia. Nossa vida. Nossa sobrevivência. Carne, ossos: grande negócio.

Somos venenos ambulantes. Reciclados. Recicláveis. Adubos de funerária. A terra tem tumor. A vida tem câncer. Adubo, funeral, tumor, câncer. Negócio: grande negócio. Órgãos? Negocio. As consciências sem consciência? Negocio. Quem espezinha ao megafone carrega até o corner os órfãos de qualquer coisa. Oradores não têm defeitos. As frases têm efeitos. Ouvidos compram qualquer verdadeira mentira. Põe a fome de todo tipo de joelhos. Crença, verdades, mentiras, oradores, ouvidos. Negócio: grande negócio O problema, o intervalo entre o nascer e o morrer. O problema, de fato, o fazer? Ou o não fazer?

Deus não chama ninguém para antecipar a morte. O homem o faz. Não há mais Deus. Deus é mera companhia: Vá com Deus. Fique com Deus. Jesus virou carne barata. Nada mais que garoto propaganda. Nome de refrigerante. Com açúcar. Verdugo de bíblias impressas em gráficas de homens de negócios. Religião: belo negócio. Pasto onde se vende milagres em quilogramas: grande negócio. Show da fé.

As pessoas rezam para os anjos e os santos e os mandatários da saúde, do dinheiro, do poder. Por Deus, engalfinham-se. Milionários refestelam-se. Hora do mercado. Ganham os que financiaram o divórcio. Em nome de Deus, desequilibra-se o desequilíbrio. A professora ensinou. Passou o dever de casa. O caderno morreu na gaveta. Na gaveta está a natureza: árvore de papel; o lápis, árvore tornada caixão de grafite. Cérebro tornado pasto de alienação. Pasto para cajado de espertalhões. Alienação: grande negócio.

Naquele lugar onde impera a palavra distorcida pela entonação. Ovelhas olham umas para as outras esperando o gesto para se descobrirem que só vem se for a mando. Cada um carrega seu fardo, sua cruz. Resignados. O mundo lá fora. Estão nas cordas. Espera-os o chicote no fim do mês. O destino traça linhas. O revólver cospe morte. O pistoleiro tem nome, sobrenome, endereço, carteira de identidade. Intitula-se dono. Semeia o caos. Sufoca os descobridores dos crimes da caneta. Arma de um verdugo. A chuva é ácida, assídua. O planeta morre. Morre seco. Ou morre afogado. A bordo a miséria, a fome sem direção. Corpos alimenta os animais como se fossem redes ou garrafas pet. Não há cais seguro. A caneta brande de pé. Mais crimes. Não. Não há fuga. Só submissos e omissos. Gritos da fome escritos na cara. Não. Não viu a placa? Estacionamento: EXCLUSIVO PARA IATES. Garantido o estacionamento de iates. Garantida a caneta. Destruída, a natureza clama. Reclama. Contaminação. Reclamação traz guerra. Destruição. Aí vendem-se armas para todos os contendores. Guerras. Reclamação. Armas. Destruição. Reconstrução, Negócio: grande negócio.

A natureza se vinga. Arrasta homens aos borbotões. Entopem represas. Água: grande negócio. Reciclagem: grande negócio. Crime de negligência: grande negócio. Garantido o mandato. Ou o mandado. Entre o nascer e o morrer. O problema: pirulito que bate, bate / pirulito que já bateu. Quem gosta de mim é ela / quem gosta dela sou eu. Nascer: grande negócio. Viver: grande negócio. Morrer: grande negócio. Negócio. Tenho a natureza. O ácido. O veneno. O adubo. A motosserra. O trator. A escopeta. O incompetente. O indecente. O conivente. E o dinheiro. Dinheiro: grande negócio.

 quinta-feira, 27 de maio de 2021

COMENTÁRIOS SOBRE A PROVA DE REDAÇÃO DA UNESP de 8/5

60 testes e a redação.

Texto 1
Tempo é dinheiro.
(Provérbio inglês, já prefigurado numa frase de Teofrasto [372 a.C.-287 a.C.], filósofo da Grécia Antiga.)
(Paulo Rónai. Dicionário universal de citações, 1985.)

Texto 2
Lembra-te que tempo é dinheiro. Aquele que com o seu trabalho pode ganhar dez xelins1 ao dia e vagabundeia metade do dia, ou fica deitado em seu quarto, não deve, mesmo que gaste apenas seis pence para se divertir, contabilizar só essa despesa; na verdade, gastou, ou melhor, jogou fora cinco xelins a mais.
(Benjamin Franklin [1706-1790]. Conselho a um jovem comerciante, 1748. http://founders.archives.gov.)
1 xelim: até 1971, quando ainda estava em vigor no Reino Unido, um xelim equivalia a 12 pence.

Texto 3

“Time is money – order more clocks.”
(Mark Anderson. https://andertoons.com)

Texto 4
Vi quem só andava com o mesmo chinelo
Com o preço de uma casa no seu sapateiro
Olhei pro braço dos cria, tá geral de Rolex
Finalmente pude entender porque tempo é dinheiro
(Djonga [1994- ]. “Hoje não”. Histórias da minha área, 2020)

Texto 5
Inventamos uma montanha de consumos supérfluos. Compramos e descartamos. Mas o que estamos gastando é tempo de vida. Quando eu compro algo, ou você compra algo, não compramos com dinheiro, compramos com o tempo de vida que tivemos de gastar para ganhar aquele dinheiro. Com uma diferença: a única coisa que não se pode comprar é a vida, a vida se gasta. (José Mujica [1935- ]. Human [documentário de Yann Arthus-Bertrand], 2015.)

Texto 6
Uma das coisas mais sinistras da história da civilização ocidental é o famoso dito atribuído a Benjamin Franklin “Tempo é dinheiro”. Isso é uma monstruosidade. Tempo não é dinheiro. Tempo é o tecido da nossa vida. É esse minuto que está passando. Daqui a 10 minutos eu estou mais velho, daqui a 20 minutos eu estou mais próximo da morte. Portanto, eu tenho direito a esse tempo, esse tempo pertence a meus afetos. Antonio Candido [1918-2017]. www.cartamaior.com.br, 08.08.2006.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: Tempo é dinheiro?

Disponível em: https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/noticias/unesp-publica-provas-e-gabaritos-da-2-fase-do-vestibular-2021/349978.html. Acesso 10/05/2021

A UNESP não decepciona. Não foi uma prova tão criativa como as de anos anteriores, mas muito interessante para bons leitores, como sempre. Há grande valorização de alunos que possuem boa cultura geral, bom conhecimento da norma culta. As respostas estão claramente definidas nas instruções das questões. As opções são diretas. Qual é o grande inimigo? O tempo. Pouco tempo para a execução da prova.

A prova de redação, mais uma vez, traz um questionamento muito pertinente para os dias atuais. É a terceira vez que a UNESP trabalha com um tema ligado ao dinheiro (riqueza): “A riqueza de poucos é sustentada pela pobreza de muitos” (2017) e “Compro, logo existo?” (2019). O tema de 2021, apesar de ser uma ponderação filosófica, no mundo capitalista virou um ditado popular. Aí é que está o perigo: ser fácil demais.

O perigo é ficar preso na discussão superficial sobre “capitalismo” e se esquecer do “tempo”. Tempo e dinheiro estão atrelados. Na estressante vida moderna, doenças psicológicas e condutas nada éticas estão ligadas a essa relação.

Primeiro: a pergunta tem que ser respondida pelos parágrafos do corpo do texto e diretamente pela conclusão.

Segundo: Se o aluno ler a coletânea, com calma, observará que ela, praticamente, oferece uma linha de raciocínio.

Terceiro: texto repleto de exemplos práticos, cotidianos, comportamentais, éticos, mas principalmente comportamentais.

Quarto: as questões 35, 36 e 37 trazem também informações capazes de ajudar o aluno pouco informado a sair do “senso comum”.

Um tema, como eu disse, perigosamente fácil.

 segunda-feira, 10 de maio de 2021

UNESP SEM MEDO 2

A redação da UNESP tem um traço importantíssimo, o tema “comportamental” procura sempre surpreender. Por exemplo, o de 2020: “O carro será o novo cigarro?”.

É muito comum que seja uma pergunta. Caso seja, não se assuste, a coletânea ou textos motivadores ajudam muito.

Jamais copie trechos dos textos ou parte deles.

1. Cuidado ao retirar partes do texto, usando “aspas” ou fazer uma paráfrase. São recursos que você pode usar, contudo o excesso no uso, pode configurar cópia.

2. Você é um “ser social”, portanto, tudo o que ocorre no mundo, logicamente, ocorre com a sua geração, a sua classe social, o mundo em que vive. Nunca cairá um tema sobre o qual você não tenha conhecimento. Organizando essas questões, você terá uma redação pronta.

3. A “intervenção social” não cabe nesta prova, apenas na prova do ENEM. Cabe ao texto reescrever a introdução na conclusão e justificar o título.

4. Não se esqueça de que, se o tema for uma pergunta, o texto deverá respondê-la, principalmente a conclusão, que deve também justificar o título.

5. Você tem que evitar os erros crassos de ortografia, de construção do projeto de texto dos parágrafos, como repetir palavras ou ideias.

6. Diversifique o uso das conjunções, (mas, entretanto, portanto… são muito comuns).

7. Não cite frases filosóficas, poéticas, sociológicas que não estejam contextualizadas. Citar por citar não configura repertório cultural. E não existe essa história de colocar um “repertório em cada parágrafo do texto.

7. Antes de pensar em repertório, pense em construir um projeto de texto coerente, coeso, isto é, o que realmente está dentro de quase todos os critérios.

8. Fuga ao tema é o maior critério de eliminação. O tema e a tese devem estar muito claros na introdução. O examinador não pode ter dúvidas.

Dica:

Se o tema é uma pergunta, a resposta será a sua tese.

Se o tema não é uma pergunta, transforme-o em uma, transforme-o em uma, a resposta será a sua tese.

CUIDADO COM MODELOS CORINGA, EXISTEM MIL NA INTERNET

 quarta-feira, 05 de maio de 2021