MAIS DO MESMO PARA LIDAR COM O ALUNO QUE TAMBÉM É MAIS DO MESMO

As grandes metas de um indivíduo devem ser baseadas em premissas que orientem o seu esforço para alcançá-las. Parece óbvio, mas infelizmente nem todos os jovens (e alguns nem tão jovens assim) que se preparam para exames importantes entenderam isso. Tal lacuna produz efeitos bem simples, porém devastadores: esse pretenso candidato a uma vaga no ensino superior comporta-se apenas como um receptor passivo (não crítico, não questionador) de saberes que, em sua cabeça, acumulam-se aleatoriamente. E, com essa “bagagem”, ele ou ela ainda não é o que a universidade espera, razão pela qual acaba voltando para mais um ano de cursinho (ainda que nem todos os não aprovados sejam compatíveis com esse perfil, ok?).

O cursinho é, sem rodeios, o limbo. Ali o aluno está no não-lugar, na posição de um indivíduo empacado entre o Ensino Médio e o Superior, mas que não quer abraçar carreiras como a técnica, por exemplo. Em suma, é uma droga. Mas eu não quero minar a autoestima de meu leitor que esteja nessa situação; quero, antes, motivá-lo. Motivação sem mistificação, pois não adianta fazer crer que se você não passou foi só porque deu o azar de seus concorrentes serem melhores. É melhor aceitar o mais rápido possível que houve algo que você deixou de fazer ou fez errado ou fez mal.

Aceita a premissa de que o não aprovado cometeu um equívoco, o próximo passo é entender o que deu errado. Essa é uma etapa de autoanálise, mas vale muito ouvir o que seus ex-professores têm a lhe dizer. Eles, como observadores privilegiados, poderão oferecer uma visão que, talvez, você mesmo não seja capaz de ter de si. Baseado em minha experiência, posso lhe adiantar um fato importante: a esmagadora maioria de meus ex-alunos que não lograram sucesso devem isso, em primeiríssimo lugar, à DEFICIÊNCIA NA LEITURA. Note bem que eu não escrevi “de leitura”, pois isso indicaria apenas o “ler pouco”. O que eu quero apontar é o “ler pouco” somado ao “ler e aproveitar pouco do que leu”.

Ok, você se identificou com esse perfil, e agora? “Partiu” PRONATEC? Não, pelo menos não ainda. Eu creio com veemência que nunca é tarde para que um aluno motivado e determinado mude seu destino. Para tanto, porém, é preciso desenvolver o hábito da leitura. Notem: hábito. Isso indica que não adianta ler como uma tarefa mecânica. A única mudança que pode surtir efeito é um redirecionamento do modo como esse sujeito-aluno se relaciona com o objeto-texto e faz dele – abusando aqui da metáfora bíblica – sua rocha. Ou seja, não há salvação fora da leitura.

E essa constatação não é nada nova. Eu, aliás, sinto-me uma maritaca com Alzheimer a repetir tantas vezes isso, mas o que fazer se, como professor, meu trabalho depende da adesão do aluno? Repito e repito e repito. Confesso que não salvo todas as almas, apenas uma parte. O que é ótimo, pois os anos vêm me ensinando a ser prático: se todos resolvessem se “emendar” e virassem, de súbito, alunos exemplares, não haveria lugar para tanta gente boa; faltariam aqueles cujo despreparo serve de consolo ou justificativa para os próprios estigmas sociais.

Então, suponho que eu e você, leitor ou leitora que alcançou este parágrafo após uma leve enrolação proposital, estamos nos entendendo. Eu lancei o anzol e você o mordeu, ou melhor, leu. Ora, passados esses minutos (que espero aprazáveis) minha metalinguagem plantou aí uma semente que pode, ou não, frutificar. Você pode desligar esse celular, tablet ou computador, pegar aquele livro perpetuamente protelado e dar-lhe a chance de começar a mudar sua vida. Ou então, continuar aqui e assistir ao vídeo viral ou rir dos memes contra o PT, ou vendo o treino de abdômen que dura apenas cinco minutos e faz com que se percam cinco quilos de gordura só na barriga. A escolha é sua. Eu estou com sono, mas há um livro aqui do lado que está pedindo mais meia horinha de atenção.

 domingo, 08 de março de 2015