Poeta de Gaveta

Mensagem de um Ancião

Um semblante meigo, a pele enrugada, um sorriso cerrado, olhos brilhantes iguais aos de uma criança em uma manhã de natal. É assim que me vejo, ao olhar meu reflexo no espelho.

Vejo que o tempo passou, tudo esta mudado e eu ainda estou aqui como um jacarandá, forte, com as raízes fincadas no chão.

Porém, sei que não sou mais uma criança, embora tenha a ingenuidade de uma. Setenta anos, tanto tempo se foi, quantas coisas vi e ouvi.

Pude ver a queda do muro de Berlim, ver a ascensão de uma nação e a queda de outra.

Vivi em um tempo mais simples, sem televisão ou computador, pude ter a honra de ouvir a voz de cantores consagrados no meu simples rádio, ir ao cinema e assistir clássicos como Bonequinha de luxo em uma tela sem cores, onde podia soltar a imaginação.

Posso me dizer feliz, pois pude ver o rei Pelé jogar,assim como pude assistir a luta de uma geração se tornar realidade e ver o fim de uma era,a era fria e sombria da ditadura.

Encontrei o amor, me casei, tive filhos, os criei, os vi crescer, seguir seu rumo, viver suas próprias vidas.

Enfrentei adversidades, tive medo, momentos de angústia, aprendi lições, fui feliz.

E agora, estou aqui preso em um tempo que desconheço. Desconheço os valores, desconheço o rumo que essa geração irá tomar, desconheço o que acontecerá com o mundo.

Por conta de minha idade e das transformações que estou vendo, todos pensam que estou com medo, mas pelo contrário estou disposto a enfrentar os novos desafios: aprender a usar o computador; entender a juventude e aprender a conviver com ela.

Todos acham que estou no fim de uma jornada, mas eu discordo. Ainda tenho muito que viver muito que aprender. Quero conhecer lugares, conhecer pessoas, pode não parecer, mas ainda tenho sonhos e pretendo realizá-los.

O que importa não é a idade física e sim a idade da alma. Eu por exemplo, me considero um adolescente, cheio de inseguranças, ilusões e sempre disposto a mudar o mundo.

Muitos me perguntam se penso na morte ou se tenho medo dela, não sejamos hipócritas é lógico que tenho medo do desconhecido, mas não penso nela porque dentro de mim há muita vida e sei que no dia que ela chegar poderei partir sorrindo, pois dei o meu melhor,vivi cada dia como se fosse o último, vivi ao extremo.

Mas, não quero me preocupar com esse assunto chato agora. Como já disse, tenho muito que viver muito que aprender.

E por favor, não me chamem de senil, pois não sou inválido e muito menos uma vítima do tempo. Sou um jovem, um jovem de coração que ainda há de dar muita felicidade para seus familiares.

 

*Esta é minha singela homenagem a todos os anciões do país. Parabéns atrasado pelo seu dia.

 

Michelle F. Zanin

Soneto

Soneto de amor

Soneto de amizade

Soneto de paz

Soneto de alma.

 

Linda canção

Canção melodiosa

Conduz a memória para o desconhecido

Almeja simplicidade.

 

Soneto complicado

Soneto ardente

Sempre crescente.

 

Soneto da vida

Carismático soneto

Declamado no doce coreto.

 

Michelle F. Zanin

Quando crescer eu quero ser,

O melhor, o resto e o raro.

 

Quero ser tudo.

Tudo quero ser,

Inclusive o nada.

Pois o nada está em tudo.

Quero estar em tudo.

Quero ser nada.

 

Renan Baptistin Dantas

Ó Luis

Ó Luís,

Por onde andaram teus ideais?

Fizeste pacto com o Diabo e tudo mais.

Após vencer então as batalhas globais,

Deixaste antigas convicções e velhos companheiros para trás?

Por quê? Perguntam dois velhos senhores que já não mais trabalham,

Em tuas palavras eles acreditaram.

Em ti vossas esperanças colocaram, se decepcionaram,

E hoje já se cansaram.

Ei, companheiro Luís,

Já se esqueceste da fome?

Do suor em volta do torno derramado,

Do dinheiro contado.

Hoje já vive mais folgado,

Por vários ladrões cercado.

Lembra-te então do Pau-de-arara,

e vê se toma vergonha nessa cara!

Se fizeste de coisa rara,

Mas era só mais um nessa velha e calejada estrada.

Renan Baptistin Dantas

Não pise em mim!

Com seus passos cinzentos

repletos de marcas

com seu estilo moderno

Seus cadarços apressados

sua mente cronológica

seu mundo ultrapassado…

 

Não pise em mim…

Desescute o ódio da buzina

 

ao seu lado.

 

Desejo apenas aquilo que falta

silêncio, momento que passa

só desejo sua alma descalça.

 

Felipe Nassar

Saudade é

Quando a alma quer voltar

De onde nunca quis ter saído

De onde fez sentir-se confortável

De onde sente-se feliz

 

Saudade é

Como uma barreira semipermeável

Que impede a passagem da alegria

E possibilita a da solidão

 

Thais Livon Sampaio

Por quê?

Não prefiro as definições

Qual a pergunta mais difícil?

O porquê?

Porque é a única que permite qualquer resposta

Porque é escorregadia, imprecisa

Segue até o limite de quem pergunta

Por que se conformar com qualquer resposta,

Com alguma resposta

Se, afinal,

Não há nenhuma pergunta definitiva?

 

Victor Hugo de Carvalho P. Turcato

Tempo de agora

Tempo de tarde

Tempo da manhã

Tempo do relógio

Tempo de crescer

Tempo de sorrir

Tempo de envelhecer

Tempo de viver

Tempo de morrer

Tempo de ser

Tempo de estar…

Há tempo para mim.

Rafaela Carla da Silva Nascimento

O último grito

A cada piscar um calafrio

A cada suspiro uma nova aflição,

Procuro dentro de todos os lugares palavras

Tento, tento, mas não consigo, desisto?

 

Jhonatan Prates da Silva

A noite chega e , feito um manto negro,

Esconde.

A verdade, o passo, a própria mão, o sujo…

Transforma o mais alto pico da imaginação

Em realidade.

E a realidade perturba,

Martiriza.

Amedronta pelo corredor vazio,

O vazio debaixo da cama,

Do pântano, do peito,

Da escuridão, da lama.

 

Lívia Oliveira Godoy