Poeta de Gaveta

Poema gramatical para um ex-amor pretério

Dos tempos pretéritos

Do subjuntivo modo

De nosso amor imperfeito

Indico afirmativamente

No presente do persuasivo

Que novo amor irá imperar

Nas formas nominais de teu codinome.

 

Particípio agora

Com toda fome

Meu infinitivo desejo

De tornar-me teu gerúndio

Gerando-te, mais que um novo tempo

Um modo novo de vida

No presente mais-que-perfeito

Do poesitivo.

 

Paul Degas

Os templos modernos

Da afeição e doçura

Venho beber nos templos modernos

São edifícios sem vitrais, sem incenso

São lugares escuros, marginais

Antros  para loucos

Para poucos

São templos insanos

Peripécios

Os bares secretos onde bebo saudades

Nestes tempos memoráveis

Moderno demais para estar lúcido

Saudoso e em pranto para estar morto

Desnudifico-me  e puro fico

Em paz comigo

Em tempo….

Nos templos modernos….

 Paul Degas

No presente

Íamos ao cinema

Íamos às estrelas

Ao ápice íamos

Nos embriagávamos

De poesia e de nossa solidão

E não íamos a nenhum lugar

O mundo estava em nosso coração

Onde está o nosso coração?

 

Paul Degas

Entrem a intenção e o gesto

Gestou o tempo das intensas intenções

gestaram-se canções

cansadas licenças de sãs e insones metaficações

foi-se o fórceps

foram-se as fodações

fincou-se-me uma deliberada unção

o mágico som de dizer sem falar

de sentir e ousar para o não e o sim

entrar sem bater ou pagar

sons de grátis sentir

sãos de puro devir

escancarar as portas e proclamar :

“Entrem, gestos marítimos de longe levar

entrem, piratas do amor

entrem, guardiões do mistério

sem se licenciar ou despir…”

E entre o advérbio e a dúvida

danço ébrio demais

“Entrem, entrem,

entrem sem bater em mim

gestas e intenções…”

 Paul Degas

Cora-me, Coralinda

A tua poesia doce

A tua casa velha

Atua o teu coração corajoso

A tua vida infinda

Tudo

Tudo me cora

Tudo me apruma

Tudo me dá lume novo,

Coralinda.

 

Paul Degas

Tchau

Você estava se tornando

um adjunto adverbial de circunstância

eu não estou mais propenso a ponderar análises

quero mesmo um complemento nominal

sujeito adverso que sou

Você desinenciou-se demais

e nas terminações verbais em que não a via

esvaíram-se os objetos todos, indiretos inclusive

Nossa via de acesso tornou-se mão-única, só eu dava

e de tão sozinho ficava mais triste que um tigre intransitivo.

Agente da passiva não quero ficar

os termos de minha oração requerem muita presença

mas você insistiu em não estar

Sua ausência causou uma confusão morfológica em mim

e antes de tornar-me um sujeito inexistente

asfixiado pela sua indeterminação

interjeito uma saída sensata.

Amantes coordenados

nunca subordinaríamos nossas intenções

e eu nem poderia ser um aposto a escorar você

por causa que nesta vida, querida, vocativo é acessório

e a essência deve ser reflexiva.

 

Paul Degas

Fim de Linha

Luiz Cláudio Jubilato