NÃO SEI POETAR, mas, se soubesse, viveria intensamente a textura das palavras
e sua multiplicidade de máscaras, roupas, sons e tons…
NÃO SEI DANÇAR, mas, se soubesse, viveria as partes do corpo, como se redigisse um poema
ora sapateando para dar consistência às palavras, ora cantando para dar ritmo aos versos
ora rodopiando para envolver o leitor
NÃO SEI CANTAR, mas, se soubesse, usaria a voz para encantar as pessoas,
ora arrebatando-as com os sons graves, ora enlouquecendo-as com os tons agudos,
ora levando-as ao delírio com a melodia.
NÃO SEI AMAR, mas, se soubesse, saberia poetar, dançar e cantar com espontaneidade
Não teria esse sapato impregnado de distâncias nem essa camisa suja de tempo
NÃO SEI MATAR, mas, se soubesse, carregaria a vida dentro de mim
só para arrancá-lá do peito a fórceps para jogá-la na vala comum de um mau poema
ou na temática tosca de um romance sem fim
PORQUE o problema maior não consiste em arrastar nas veias a vida e a morte
É estar aqui.
Luiz Cláudio Jubilato