Há muito a poesia não me possui
Cansou-se
Divorciamo-nos
Há calafrio em mim
Os lábios dela eram ferrolho
A saliva, água viva
A língua, sedutora
O beijo, ácido
Corroía à meia noite,
Refugava ao meio-dia
O sangue ferve
O peito dói como cólica de parto
Os olhos duros, a voz de cão danado
Cansei de lapisar
Cansei de dedilhar
Cansei de musicar
Não sei tocar
Divorciamo-nos
Não cala o frio em mim
E pronto
Como é estranho o olhar através de um anteparo
Um helicóptero pousa no prédio
Barulho de milhões de mariposas
Nada de poesia
Concreto
Só concreto