Poeta de Gaveta

HERRO

 

(LUIZ CLÁUDIO JUBILATO – 12/3/2014)

 

Dizem os puristas da gramática que erro (ponto central)

De qual gramática falamos (interrogação ambígua)

Da que surra para induzir ao acerto (interrogação raivosa)

Da que enquadra para punir o erro (interrogação medrosa)

Do que apanha por se envergonhar (interrogação duvidosa)

Do que usa o erro pra se expressar (interrogação óbvia)

Nunca tive intenção alguma de acertar (vírgula)

Nunca aprendi o que significa acertar ou errar (ponto marginal)

Acertei errando (vírgula) errando acertei (ponto fora da curva)

Fiscalizo nas linhas algum deslize (vírgula)

o óbvio me trai (vírgula) foge para nas entrelinhas (ponto dentro da curva)

Impresso no texto (dois pontos) “Herrar é umano” (ponto providencial)

A lousa acorrenta o professor ao sempre acertar (ponto crucial)

Eu provocador como e cago como qualquer animal (ponto individual)

Sei que não sei (ponto crucial)

Erro ao abocanhar (vírgula) ao dilacerar (ponto central)

O que é o corrigir (vírgula) senão apontar um dedo indicador (interrogação capciosa)

O sabedor (vírgula) mais que conhecedor (vírgula) corrige o corretor (ponto visceral)

Eles coitados não sabem que não sabem (ponto marginal)

Não tenho o direito de errar (vírgula) sou professor (ponto providencial)

Mal sabem que um professor é um enganador (ponto de interrogação grudado a um ponto de exclamação)

Engana a si mesmo (vírgula) pois se acredita soberbo na arte de ensinar (ponto de autoembromação)

Que pena (ponto de exclamação) aprende a errar mais que a acertar (exclamação só)

Aperfeiçoar está preso ao errar (ponto ancestral)

O que nos faz humanos é ter um telencéfalo altamente desenvolvido e um polegar opositor (ponto de vista)

Porém, sem fama ou dinheiro, isso não nos torna menos animais (ponto final? ou inicial? ou cabal?)