Poeta de Gaveta

O QUE DIREMOS AOS NOSSOS FILHOS?

(PROFESSOR LUIZ CLÁUDIO JUBILATO – 18/10/2023)

 

Pegamos em hastes. Pregamos nelas panos.

Rabiscamos palavras de ordem.

Fizemos passeatas. Nossa arma são nossas vozes.

Instituímos com paus e pedras a desordem.

Cortamos essas hastes com nosso suor.

Carregamos cartazes, faixas. Berramos: “NÃO”.

Não temos heróis. Não temos certezas.

Não temos barreiras. Berramos: “SIM”.

Sim, faremos a revolução. Sim, destruiremos a corrupção.

Sim, teremos o pão. Berramos: “SENÃO”.

Senão invadiremos o congresso.

Senão, quebraremos tudo: PELO SIM, PELO NÃO.

 

O que faremos, agora, dos nossos corações…

 

Há gente blefando

Os que protestavam, sumiram das ruas.

Os que já protestaram um dia, nem descolaram a bunda dos sofás

Os que corrompem, solaparam nossos ideais, caparam refrões das nossas canções,

cegaram nossos olhos com bombas de gás

Não, não chegamos até agora a lugar algum.

Sim, sim nossa vingança contra as raposas políticas ficou para trás

 

O que faremos, agora, com os nossos corações…

 

Agente matando

A polícia infiltrada estropiando palavras de ordem,

vontades e corpos.

A polícia com seus cassetetes e truculência reduzindo ideias,

opiniões a pós

A polícia apoiando líderes

comprados arrastando nossa força por caminhos tortos

A polícia atrás de escudos e

bandidos mascarados massacraram as convicções de todos nós

 

A gente começou

Vencendo a luta por 20 centavos.

Perdendo para partidos conchavados.

Partidos de olhos arregalados nas próximas eleições

Politiqueiros com a boca aberta para engolir milhões e milhões

 

Bandeiras e anseios traziam reivindicações amplas demais

Problemas estruturais não se resolvem apenas com decretos federais

Nossas garras, como queríamos, não arrancaram o Brasil dos falsos trilhos

Não temos agora o que dizer, no futuro, aos companheiros, nem aos nossos filhos

 

Nossa boca

Hoje desdentada, não mais grita, acostumada a calar amordaçada.

Hoje cariada, mostra o desespero das nossas vozes desafinadas.

 

O que faremos, agora, sem as multidões, nem as nossas razões,

nem as nossas canções, muito menos nossos corações?