Juiz de Fora. Somente… Só mente… mente… só…
Juiz de…Fora… juízo de Fora… história longe de ora… Juizforanos mundo afora…
Parto. Fujo do útero da minha mãe. Parti para fora pra sempre. Cidadão do mundo. Parto. Partido. Dividido.
Sou cidadão do mundo. Mundo imundo. Mundo fecundo. Desmundo.
Saio do útero da cidade. Ganho estrada. JF. Apenas imagem. Congelada no retrovisor do ônibus… depois do carro. Partidas
Outras vezes. Tantas vezes Parti… tantas lembranças paridas… Sempre… Parto… Dividido… decidido…
Nunca me senti aqui… nunca fui de lá… Fiquei no meio do caminho… Onde minha perna manca me levará?…
Não sei muitas coisas… Muitas delas jamais saberei… Até quero… Mas não poderei… Faltam testemunhas… Gente
Nunca mais voltei Estive de volta Parei Vi Constatei Apalpei Tropecei Dei as costas Não olhei pra trás Andei pra frente Não voltei Jamais voltarei. Fim. The End.
Lembranças? Lambanças?… Passadas… Finadas? Quem o sabe! Nem eu.
Não mais o Bar do Beco, suas mulheres. Maquiagens de palhaço de circo Mesas de lata. Passageiras. Guichê . Prazer pago. Mal pago. Depois frustração. Potes de esperma. Sós. Somos todos sós. Nascemos sós. Pernas de fora seios de fora necessidades de fora. Na madrugada o samba canção Mesas de lata. Vermelhas ora brahma ora cocacola. À meia madrugada Bar da Bebel: alcoólatras anônimos sinônimos de ninguém. O Privê: bêbados conhecidos Sinônimos de alguém. Turma. Agora. Fechado. Enterrado. Com nossas lembranças. O alicerce do edifício as sepultou… garrafas vazias leo roberto Geraldo beto pc… Nunca mais todos se foram uns continuam juiz outros fora
Nunca mais a chuva molha bobo eriçando os pelos. A pele maltratada. Corpo gelado. Inconformado. Coração. Atormentado. Os amores seus odores dissabores infratores os amores possíveis os desejos impossíveis dois corpos exprimidos no muro que a consternada lei da física se ajoelhou consternada diante do desmentido dois não ocupam sim o mesmo lugar. No espaço. Ofegantes. Cansados. Extasiados. Suados. Boca na boça. Sexo roçando sexo. Se espurrando. Até gozar. As mulheres lindas feias as feias feias feias lindas. Mulheres comuns. Incomuns. Todas ali. No Galdêncio. Na escola de samba. Ensaiavam a dança do acasalamento. Era sempre sãbado. Era sempre de noite.
As que viam através da gente as que nos viam através das lentes. Você é lindo dentro desse carro importado diziam elas com bocas batons vermelhos. Promessas. Elas. Todas elas hoje têm rugas, estrias… Como nós casaram Engordaram Tempo cruel Não perdoa Maltrata mais o belo O que todo mundo vê O que nos chama Assim há muito mataram nossas fantasias de despeitados que precisam ter o belo a fantasia na vida.
Para pais, capitalismo, futuro, família, filhos, tudo… Por isso passeatas Nossas bandeiras rotas Nosso romantismo tolo tosco de ocasião “Vida… Morte… Vida…” com torresmo debaixo do bigode do bigode este sim revolucionário dicionário de palavrões Nossos corações com cerveja a “Pulsar” de ódio de paixão de revolução. Mudar tudo. O mundo. Com Discurso. Punho cerrado. Só na mesa do bar
A única responsabilidade de não ter responsabilidade. Alguma. Nenhuma. Tudo agora é Passado. Repassado. Transpassado. Amassado. Impresso em folha de papel. Nesta folha onde o Tempo é finito. O ontem. Fim. Só lembrar. Retratos pregados na memória recuperados em rápidos encontros? ou desencontros? Nossa identidade. Nossas impressões Como éramos igualmente comuns. Muitas rusgas nenhumas rugas.
Todos ficaram. Só memória. Só quem viveu as tem. Ou ela nos tem? Ficou aquela posição congelada Só está o ONTEM Só. Um pedaço dele morre todo hoje. Existe o HOJE. Só. O agora. Nos punhos. Cerrados. Novas. Novas exigências. Experiências. Obrigação de vencer na vida. Ou apanhar dela. Ela imprime suas marcas. Nos vincos nas mãos na testa no pescoço em volta dos olhos…. Cabelos brancos… ou falta deles. Barrigas proeminentes. Poucos encontros nos passam a limpo. O que é o sucesso? O domado ou o domador? Nossa identidade se perdeu sem bússula. Amor é contato. Hoje o silêncio de elevador constrangedor nada a fazer. Nem a dizer. Distâncias trituram torturam a falta dos porquês. Nada temos mais a nos dizer. “Vidas Secas”. Olho pra eles “eu me lembro das pessoas que um dia eu fui” Eles não.
Bolsos vazios. Bocas cheias palavras palavras discursos vãos. Nus. Copos sempre vazios. Privê frequentadores. Indiferentes. alguns contentes outros dementes. Contatos nascentes. Todas as noites quase semelhantes. Sem beber iguais. Juiz de Fora. Correntes das quais difícil cidade emoldurada. Risadas. Piadas. Feliz idade. De um tempo contado… Ficou pra trás. Morreu. Já não É… virou tema, poema ao toque de um dedo. Vida. É. Corrida como na janela de um trem. A distância longe dos olhos das mentes dos corpos dos corações… Tudo vai ficando ficando desmanchando uma espécie de “Simfonia solitária em dor maior”. Lembrança dói. Constroi e desconstrói.
Cicatrizes não fecham feridas meus fantasmas minha vida no calçadão tatuagens história de uma passagem escondida debaixo da pele. Pedaços de mim ficaram por lá naquelas esquinas onde escolhi caminhos para trilhar. Amar. Desamar. Programar. Jurar. Dizer. Desdizer. Retratar em contos poemas riscos rastilhos não mais. eu mesmo. juiz de mim. Sei que estou melancólico. Me vejo de binóculo. Mal me reconheço. Me desconheço.
Raízes. Juiz de Fora. onde aprendi. Desaprendi. Ri. Sofri. Escrevi meu MANIFESTO Em dose. Intensa. Extensa. Pretensa. Minhas raízes invisíveis. Indizíveis. Longas caminhadas. Madrugada adentro. Dói dentro. Drogas arrancadas uma a uma dia após dia. Que desperdicei. Fui mais longe do que queria. Juiz de Fora apenas algo estranho da qual saí, mas que nunca saiu de mim. Nem vai sair como uma doença. uma tatuagem uma cicatriz. Meu amor meu desamor meu berço Meu tumor vou deixando na estrada por onde eu passar. Onde pisar com meu pé sujo de tempo Onde eu me sentar.
Vivo agora outro mundo outro país. Outro lar. Homem dividido ao meio. Corpo. Alma. Coração. Já fui de lá estando aqui aqui já fui de lá. Agora. Partido ao meio. Não sou nem de lá nem daqui. meu lado esquerdo se esqueceu do direito. De mim… Não. A vida cumpriu seu papel. Me rachou de vez. Sou de mim. Dos meus. A morte não me assusta. a VIDA sim… A vejo de fora… por fora… afora. Agora. Hoje. Só. sem revolução.
A Avenida rio branco que vem e vai sempre para o mesmo lugar Feliz paraibuna que está só de passagem alguém disse com voz embostada sem nenhuma mentira porém sem nenhuma verdade. Falou quem não vive nela. Não tem presença física lá. Agora JF está lá longe. Talvez até a noite chegar. E eu poder deitar pensar me deixar levar
O tempo cruel. Da última vez, vi as pessoas, seus contornos esmaecidos. Rotundos. O que era belo ficou comum. O que era feio ficou comum. Juiz… Fora… De fora… Pra fora. Não há reconheço mais. Não a quero mais. Nunca voltei. Estive nela. Com ela. Pela janela do apartamento a medi. A medida criou uma roupa que não me cabe mais. Jamais voltarei. Não tenho a posse dela. Nem lembrança consciente. Minha mente mente. Terei JF. Só. Na carteira de identidade na certidão de nascimento Na impressão digital. Nada mais. Cadê o João XVIII da minha adolescência? Da minha pobreza intelectual? Da construção da minha moral? Onde estão as pessoas? Dona Terezinha? Danilo? Sérgio? Seu Raul?
As pessoas estão não onde não se mexem mais Só se eu programá-las em sonhos. Estão incondicionalmente presas sorrisos ensaiados de fotografia abrem feridas eu era feliz e não sabia… Só vejo juiz de fora enfiada no retrovisor do ônibus do carro se indo indo indo indo…
Saudades do que eu era. Nunca mais serei. Nem poderei o tempo não deixará jamais… ele não perdoa…Passa a vida a ferro… Mas deixa o poema… Sem ele não tenho visão nem inspiração… Nada…
A água de chuva cai. Essa chuva. Não volta mais…
memórias ficam pingando como ela ou mergulhadas na cerração.
memórias são novelos rolos de filme instantes atropelados raiva paixão
E como doem…