Poeta de Gaveta

COBRA

quinta-feira, 05 de setembro de 2013

(LUIZ CLÁUDIO JUBILATO)

 

A Obra cobra.

Eu. Checar o dentro de mim vislumar o fora de nós

A Obra veneno.

Eu. Meu tormento me remoendo por causa do imundo

A obra desdobra.

Eu. Protagonista ferino trama rindo de tudo ferindo o mundo

 

A Obra devora

canta fala cheira afoga come fede até se empanturrar capítulo a capítulo de nós autor leitor

insiste com suas idas e vindas em me mudar eu soberano autor dono de destinos proprietário da trama

cada vez que nos enfrentamos em nossos muitos eus ela me repele me abraça me compele

aceito o desafio de transformá-la, atualizá-la, reorganizá-la, do início até o clímax, até o ponto final

ela cospe na minha cara minha pura inocência de momento quanto as minhas prerrogativas eram criancices ingênuas

ela não aceita esse novo risco eu me arrisco a um novo encontro e então ela exige nosso desencontro

 

A Obra tem identidade

Reage não abre mão de sua identidade não quer ser reescrita ela é a mesma mas eu autor não

toda obra tem sua claustrofobia sua verdade sua mentira sua dignidade sua incomensurável liberdade

a obra é cobra venenosa dobra-se nas entrelinhas se desdobra nas entrelinhas paralisa os músculos hipenotiza a razão

 

A obra é o ser e o não ser

Não sou eu não é você somos todos nós não é ninguém