Senhores e Senhoras: apresento-lhes o professor Rivotril
Artigo do professor Luiz Cláudio Jubilato, publicado em seu blog no dia 15/10/2013)
Não quero ser desmancha prazeres num dia de comemoração
Leia esse pequeno texto porque o processo educacional no Brasil pode ser resumido em poucas palavras:Incompetência, Mediocridade, Enganação, Politicagem, Desvalorização dos professores.
Mas, você não acha que o Aloísio Mercadante vai assumir isso. A culpa do caos da educação no Brasil é dos professores grevistas que já ganham salários “estratosférivos”, mas fazem greve para ganhar mais, deixando seus filhos sem aula e o país à beira do abismo. Não é esse o discurso oficial? Vamos acabar com a reprovação, pois ela não incentiva o aluno a continuar, vamos colocar o caos da educação na conta dos professores, como fizemos com o caos da saúde: culpamos os médicos, assim a população esquece da incompetência da gente que manda nessa porcariada toda.
Há salvação para os seus filhos largados ao deus dará? Claro que há! Por que não montar uma dupla sertaneja? um grupo de pagode? uma quadrilha para roubar dos “riquinhos” ou vender drogas para eles? ou virar jogador de futebol (com todo respeito a essas profissões, diga-se de passagem). Mas ser professor? Jamais. Vender pastel, cachorro quente e pinga dá muito mais. Minha mãe queria que eu fosse padre, médico ou militar. Segundo ela, essas profissões davam dinheiro. Quando eu lhe disse que seria professor, ela só não caiu em prantos para não me desiludir. Pobre, vivi, na faculdade, de crédito educativo, como muitos otários hoje vivem de bolsas do governo. Num país que não cresce vão dever até as calças daqui a alguns anos, pois acreditam que conseguirão emprego rápido. Ainda há a ironia: exige-se experiência, mas não se dá oportunidade.
No meu bairro se dizia: ” Se você não der pra ser nada na vida, vá ser policial ou professor”. Ganham muito bem, não é? Não arriscam a vida, não sofrem de depressão, “matam” aulas e/ou serem humanos sem remorso algum. Vivem num paraíso. São muitíssimo respeitados. A população confia cegamente na conduta deles. São uns privilegiados. Toda família, desde sempre, sonha ter um filho professor.
Vamos mudar para um assunto mais leve: a reforma educacional? Quando há dinheiro, pintam-se as paredes, trocam-se os vidros, tiram-se as crianças de escolas conteineres. O que podemos almejar mais: computadores, professores capacitados, qualidade dos livros do FUNDEF? Um ENEM mais justo, um ENSEJA dentro da realidade e um ENADE sem cursinhos preparatórios dentro das próprias faculdades? Aí já é pedir demais!
Para quem não sabe, o Rivotril é o segundo medicamento mais vendido no Brasil, receitado por psiquiatras e neurologistas como ansiolítico, usado para controlar a pressão que a sociedade exerce sobre o indivíduo. Imagine-se tendo que cumprir metas, puxar o saco do chefe para subir dentro da empresa, ser obrigado a rir das piadas sem graça dos executivos que ocupam postos mais altos na empresa, galgar o topo da cadeia econômica ouvindo aquelas famosas palestras motivacionais e ainda opinar sobre como elas o ajudaram a enfrentar, sem questionar, a pisada do dono da empresa no seu calo. Há como viver dignamente? Mesmo assim, há. Produzir dentro de uma sociedade que só pensa em produzir, fingir que ensina para quem finge que aprende, ser elogiado por todo mundo, mas ser mal pago justamente por quem elogia. Haja ansiolítico! Haja depressão!
A ansiedade excessiva leva à depressão e a depressão é a doença moderna que mata a produção. As profissões que mais sofrem com elas são justamente os policiais e os professores. Consta nas estatísticas oficiais que os professores, geralmente, saem das classes sociais menos abastadas e, por isso, têm menor capacidade de investir na sua formação, ainda mais ganhando o que ganham. São eles que levarão o país aos píncaros do capitalismo contemporâneo.
É mais do que notória a pesquisa feita por um grande instituto com os melhores alunos das principais capitais brasileiras. Nenhum, vou repetir, nenhum dos melhores alunos dessas escolas quer ser professor. Sou professor há 30 anos. Não saberia fazer outra coisa, senão dar aulas.
Nunca dei aulas em escolas públicas, por isso vai aí minha mais profunda admiração pelos colegas que insistem em militar nessa profissão, só não entendi até agora por que o governo não lhes patrocina um curso de defesa pessoal, contrata uma equipe de advogados para defendê-los de pais exaltados que querem porque querem censurá-los ou até expulsá-los das escolas, muito menos promover um curso de administração para as diretoras que, em grande parte, foram nomeadas por um conchavo político.
Faltam professores de matemática? Sim. De filosofia? Sim. De física? Sim. Por quê? Porque se ganha muito bem e se tem grande perspectiva de galgar salários estratosféricos na profissão, não é? E vem um sujeito, dono de uma fundação, numa grande revista de circulação nacional dizer que a melhora da educação nada tem nada a ver com a melhora do salário dos professores. Será que o governo importará os professores de “linguagens e códigos”, língua portuguesa e redação de Cuba? Da Espanha? Para ganharem Menos?
Será que criará o programa Mais professores. Concursos e mais concursos promovidos pelos estados não preenchem o número de vagas, a galera prefere vender pasteis. E depois o Ministro da deseducação fica “puto”, quando os alunos colocam receitas de macarrão nas provas de redação. Deveriam fazer o quê? Colocar uma receita de como salvar os professores do Rivotril? Sobre a reforma educacional de que tanto precisam e ninguém faz?
Agora vai minha homenagem aos professores das escolas particulares reféns do Ibope. O aluno é que decide o seu futuro: gostar ou não gostar resolve o seu futuro. A competência que se dane, afinal não são os filhinhos de pais ricos que pagam a escola? Esses colegas também não estão salvos do Rivotril.
A educação no Brasil tem salvação? Tem. Importar caixas e mais caixas de Rivotril ou colocar anti-depressivo nas caixas d’água das escolas públicas ou, principalmente, colocar quem faz as leis dentro de uma sala de aula. Mas, isso é pedir demais.
Parabéns colegas de profissão. Boa sorte
Hoje é o dia de que crianças?
Artigo do professor Luiz Cláudio Jubilato, publicado em seu blog no dia 12/10/2013
Este é um dia feliz, afinal é o dia das crianças, daqueles seres “tchutchukus” que comandarão esse “maravilhoso” planeta, afinal nós, os mais velhos, só o tomamos emprestado deles e o destruímos. Que sorte a deles, não?! Terão apenas que salvá-lo de nós e deles mesmos. Quem sabe “Os Vingadores”?
Prometo falar apenas dos bem nascidos, não é dia para se falar daquelas que morrem carregando nas costas sacos imensos nas carvoarias como se fossem mulas. O seu presente é não desenvolvimento físico. Seu futuro é a invalidez aos 18 anos.
Hoje é dia para se comemorar os recordes das vendas de brinquedos no comércio, afinal serão abertas novas vagas de emprego. Não é hora pra se falar de crianças mutiladas quebrando pedras em diversos estados do centroeste, norte e nordeste. Têm um futuro impressionante ganhando cinquenta centavos por dia. Estarão inválidas para qualquer tipo de trabalho antes dos vinte anos, se muito. Com seus membros amputados.
Prefiro falar das graças recebidas pelas crianças fiéis à Igreja e não das infiéis, escravas do álcool, do crack e do tráfico de drogas.
Hoje é um dia maravilhoso, quando todos os abastados comemoração o dia das crianças com brinquedos bolos e balas. Não é verdade? Não pretendo nem lembrar de todas as abandonadas nos orfanatos. Será que sabem o que significa ser criança? Saberão, tenho certeza, no dia em que forem exibidas como troféu, bem vestidas e maquiadas no CRIANÇA ESPERANÇA.
Prometo falar dos meninos e meninas que têm um cofrinho onde juntam moedinhas e jamais daqueles reféns das doações que dão prestígio a alguma celebridade ou feitas pelos ricaços que as fazem quando podem ser abatidas no imposto de renda.
Estou feliz hoje, porque me lembro da criança pobre, mas feliz que um dia eu fui, juro que jamais falarei daquelas muitas que nunca foram, não são e nem nunca serão. Foram esquecidas pelo governo, afinal só dão voto em época de eleição. Pior foram abandonadas por todo mundo mergulhado na sua santificada felicidade… ou não?
Aprendendo a Voar Caindo
Artigo do professor Luiz Cláudio Jubilato, publicado em seu blog no dia 24/09/2013
As águias atiram seus filhotes no abismo, pois lhes aplica a lei da iniciação, para que aprendam a voar. Ao serem projetados contra a morte, abrem as asas para se salvar. A isso chamamos defesa. A experiência transformará o medo em destreza, voos cada vez mais altos alcançará, limites só a luta pela sobrevivência lhes imporá. As mães humanas têm outro hábito, o de amparar seus filhos segurando-0s pela mão. Ao soltá-los, cairão e, se deixá-los sozinhos, como atirá-los no abismo sem asas, não sobreviverão. A aprendizagem dos seres ditos humanos é bem diferente. As crianças, desde cedo, amarão o status, brigarão para serem admiradas, adquirirem respeito, serem invejadas, mesmo tudo isso sendo conquistados à custa de maltratarem a mente. A mãe cria seus filhotes para ensiná-los a andar, a vencerem na vida, a sustentarem-se, a terem garras, a não abaixarem a cabeça, a terem metas grandiosas, a conquistar. Acredita que, valorizando a fama, a beleza, a riqueza, e, como todo predador, nunca fraquejar. As verdades não lhes interessarão, abraçarão, para jamais largar, a sua tão sonhada grandeza. Assim não sentirão medo, estresse, depressão, sustentados, mesmo sem asas, pelas suas armas, pela sua inabalável certeza. Apenas perceberão sua fraqueza quando, em desespero, estiverem caindo. As amizades sinceras, a diversão, a convivência com a família não importarão, enquanto receberem parabéns porque estão subindo. A pressa, a pressão do trabalho, os compromissos, as festas, o dinheiro, os puxa sacos lhes satisfarão. A educação dos filhos ficará para a escola, o porteiro do prédio, o motorista da van, os avós, a televisão.
Vem a vida, de repente, e desconhece tudo isso. Aproveita do fato de esse ser onisciente, onipresente não perceber o tamanho do risco. Volta, com punhos cerrados, para nocauteá-lo, impor-lhe seu maior revés, pois, quando se dá conta, ela lhe tira o chão debaixo dos pés. Vencer, a partir daí, ganha novo significado. Vitória torna-se sinônimo de esperar, porque forçosamente a pressa acaba, seus dias se limitam a tentar falar, ganhar equilíbrio, mexer, no mínimo, o dedo mindinho e até mesmo andar. Volta o onisciente, o predador onipotente a ser bebê, pois alguém precisa alimentá-lo e, se for fazer cocô, alguém tem de limpá-lo. Vergonha vira sensação inexistente: se algum paciente dizer que a sente, pode acreditar que são efeitos da arrogância ainda resquício do status adquirido antes do acidente. Verdade, às vezes, mente. Ver o mundo por outro prisma, aprender a se aceitar, é muito fácil propor a esse novo ser humano, o difícil é convencê-lo de que ele precisa se reinventar. Voltar a ser como era, torna-se uma obsessão, uma tortura, o maior desafio. Vê-se, com o passar das noites, perdido numa luta inglória, como uma pessoa a nado, sem os braços, atravessar um rio. Vontade de tentar, desejo de parar; às vezes euforia, às vezes frustração. Vislumbram uma caminhada solitária, como um cego numa multidão. Varrer os maus pensamentos, deixar de ser descontente faz dos psicoterapeutas, remédios, médicos, fisioterapeutas uma espécie de bengala. Vibram, como crianças diante de um brinquedo com fonoaudiólogos, quando eles os ajudam a recuperar a fala.
Contrariando tudo o que pensamos, não temos asas, porém a obrigatoriedade de vencer, impulsiona-nos a voar. Cremos, no entanto, que nunca há muros suficientemente fortes capazes de nos parar, nem obstáculos tão espinhosos a ponto de nos arranhar. Como nascemos num planeta cortado pelo meridiano de Greenwich, uma linha imaginária, nem nos damos conta de que há um meridiano nos cortando ao meio que passa pelo nosso nariz. Cada um de nós é parido partido ao meio, mas essas partes tão díspares estão grudadas a uma raiz. Cérebro, agora sinônimo de árvore, frutífera, cuja seiva compensa deficiências exacerbando os sentidos de um cego, um surdo, um mudo. Convence-nos a cada instante que, para darmos passos, temos de costurar cada parte, juntar tudo. Conscientemente, nossos pais nos incentivam a divisar o branco do preto, a felicidade da tristeza, o açúcar do sal. Cultuamos dentro de nós a luta entre o bem do mal. Caminhamos sabendo que alguns filhos nascem destros, outros sinistros: para os primeiros, a Igreja reservou o perdão e um terreno no céu; os outros, as fogueiras da inquisição, o inferno, o breu. Cientistas, economistas justificam suas teorias afogados na argumentação; artistas, místicos não se justificam, afogam-se na mais pura emoção; algumas pessoas sozinhas, são multidão; outras, mesmo acompanhadas, são solidão.
AVC (acidente vascular cerebral), sigla assustadora. A cada minuto mata um paciente. Estamos numa civilização de pessoas doentes.
Vamos mudar o significado dessa sigla para todos os sobreviventes. Dar a ela, em nome deles, novos conceitos, novos preceitos. Acabar com as inseguranças. Destruir os medos:
AVC – Acordar para Vivenciar a Construção de um novo ser.
AVC – Ávidos para Vislumbrar novos Caminhos.
AVC – Amarmos a Vida Compensa.
AVC – Amarmos a Vitória Compensa.
AVC – Aprenderemos a Viver Construindo.
AVC – Aprenderemos a Voar Caindo.