O MUNDO PODE SER FEITO, REFEITO, DESFEITO por um homem como Gabriel Garcia (universo) Marques.
(Prof.: LUIZ CLÁUDIO JUBILATO – 18/03/2014)
No final dos seus 87 anos, Gabo já não carregava as MEMÓRIAS DE SUAS PUTAS TRISTES consigo. Não se lembrava de seu intenso AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA. Na sua demência, com os olhos no nada, já experimentava CEM ANOS DE SOLIDÃO. Triste vê-lo débil, perdido em si mesmo, no seu mundo sem passado, presente ou futuro. Era A CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA. Gabo presenciou, na sua longa amizade com Fidel, primeiro O GENERAL NO SEU LABIRINTO, depois mais velho e menos idealista O OUTONO DO PATRIARCA. O realismo perde um tradutor fantástico. Tentam enquadrá-lo num rótulo literário. A Gabriel Garcia Marques, só podemos atribuir um único e genuíno rótulo: GÊNIO. E dizem que ele morreu. Quem disse? Não sabe que Gabo é desses seres humanos especiais que não morrem jamais. Vão cremá-lo. Pena que suas cinzas não podem ser espalhadas para adubar o mundo.
VOCÊ PULOU DO DÉCIMO SEXTO ANDAR
(O BOCA DO INFERNO – 6/3/2013)
Quem pula do décimo sexto andar, tem de saber exatamente aonde quer chegar. Há escolha. Salto no vazio. Arrasta uma parte de todos consigo. É previsível. Voo solitário. Só você pode, ninguém pode fazê-lo. Só você. A vida não perdoa, cobra o preço. Quando passar pelo terceiro andar, o arrependimento de nada adiantará. Olhará para baixo, mais quatro andares. E bummm!!! O chão. Querendo ou não, pedaços de você inundam o mundo. A mais ignóbil forma de autodestruição.
O terremoto pega todos de surpresa. Não há escolha. Arrasta tudo consigo. É previsível. O mundo treme. A vida treme. Agarrar-se a qualquer parede não adianta. Tudo cai. Escombros. Se nada caiu sobre você ainda, corra, corra, não olhe para trás. O perigo ronda. Querendo ou não, dos gritos, choros e gemidos não escapará. A mais pura destruição.
O tsunami ataca, onda vil, mortal. Não há escolha. É previsível. Arrasta todos consigo. É filha legítima de um terremoto. Nasce no fundo do mar. Uma sirene avisa. Há para onde correr? Onde se agarrar à vida? Sobreviver? O estômago da terra vira, revira, desvira. Subir numa árvore não adianta, a raiz não suportará. Escombros. A mais pura destruição.
Chegou à boca da urna. Inteligência manca. Inteligência aleijada. Não olhou nada: o passado não muda, o presente assombra, o futuro pouco interessa, pois atribuiremos nosso fracasso a alguém. Você saltou no vazio. Saltou do décimo sexto andar. A queda irreversível. É previsível. Não adianta. Não há no que segurar. São mais quatro anos. Sua vida sofrerá as consequências com as mentes trancafiadas e ideais mortos espalhados diante do medo.
Um terremoto político vem sendo gestado dia a dia, suborno a suborno, manipulação a manipulação, sessão a sessão, nas entranhas da câmara, do senado, da presidência. Calará as poucas vozes dissonantes. Censura. As resistências serão arrastadas. Censura. As pouquíssimas consciências serão caladas. Censura. Tapas na cara e na boca. Vergonha? Nenhuma. Não há democracia na qual se segurar. Ela não suportará.
Um tsunami econômico vem chegando. A crise silenciosa. Na cara das pessoas, nas placas dos estabelecimentos (Aluga-se, Vende-se, Fechado) nos juros escorchantes, na alta da inflação, nos rostos contraídos, nas rugas de preocupação. Aflição. Bolhas explodem o tempo todo. Não adianta agarra-se aos discursos “bola de sabão”. É previsível. A crise arrasta tudo, pessoas, planejamentos. Não há aplicações financeiras nas quais se segurar. Quanto dinheiro transita pelo mundo, você saberia contar? Alguém sabe. E sabe como utilizar.
Suicídio: o silêncio complacente, a atitude conivente, cada voto inconsequente;
Terremoto: silenciosa, mas constante destruição da crítica, método criado no ventre da dominação;
Tsunami: a economia mundial em frangalhos, nosso país muito pior (1929 parecerá brincadeira diante da especulação, da destruição).
Do décimo sexto andar andar até o chão não dá tempo nem de pensar. Escalar quatro para depois pular, é preciso ter certeza de que é isso mesmo que quer.
O CONCEITO MORAL DE CLIC CLIC CLIC
(O BOCA DO INFERNO – 9/3/2014)
Enquanto rabisco bobagens nessa tela estúpida que me corrige quando me concentro em errar. Meu vocabulário intoxicante atesta minhas idiossincrasias. Escrevo para não me entenderem. Não tenho saco para essa história de ser fácil para ser compreendido. Se entenderem, o recurso final atende pelo nome de suicídio… Imbecilidade cultural.
Lá fora, um ser quase humano tornado voz, berra. E chora. Depois o choro miúdo farfalha. Não importa o cano de descarga dos ônibus, nem a descargas casas. Não importa o comedor de fogo que não ganha um centavo no sinal. Esse país nunca valorizou artistas. Muito menos os mambembes. A pena forjada não dá o tempo de baixar o vidro. Dá para ver a cara amarela empurrar a moeda de novo para o bolso ao primeiro sinal do vermelho virar verde, cor da tranquilidade.
Xinga baixo, quase muda, a moça da bengala. O mundo ouve o clic da máquina. Flash. A objetiva avança. Só ela. As pessoas, não. Estacam. Jornalista é. Vive de lapsos, de momentos. Manter a equidistância profissional da notícia. É fato. No ponto do ônibus, cada olho tem um norte. Nem um olha em frente. De frente.
Só mais uma subtração de valor pessoal, disse o policial no jargão policial. No ponto toda estaca é surda-muda. Nenhuma é testemunha. O medo fede. O medo é feromônio para bandido ou sobrevivente ou craqueiro demente. Canelas finas fogem. O cão sarnento corre. Único. Toma uma atitude. Arrebenta o medo com um latido. O ganido rasga o silêncio das motos sirenes apitos ônibus buzinas…
O repórter pega pelo braço a personagem do momento, desconhece sua bengala. Sensacional: a vítima cega roubada estava da posse de uma marmita. Arroz com feijão. Onde estaria ela agora? O comandante esbraveja na entrevista com pinta de macho alfa. Esbraveja a incapacidade da polícia. Quem é o bandido? A polícia que atira ou o bandido que tira? A câmera desliga. Depois da matéria, sensacional: O comandante enfia a viola no saco. A prefeita não foi encontrada. Seu assessor também não. Nem o assessor do assessor. O silêncio vira tapa na cara da população. A polícia é vítima. O mundo é redondo. A polícia sabe; cada um de nós, também.
Abro a porta da sacada. Estou, no 14º andar. Minha falta de visão está acima da cegueira da moça cega. Vejo o mundo de cima. Minha indignação dura até a hora do almoço. Franco com polenta e frango. Não vi a cara dela. Não como de marmita. Só vejo o pescoço. Só lembro do policial falando no jargão policial: “Ainda bem que subtraíram uma marmita, não subtraíram uma vida”. Será? Quem é mais bandido: o bandido que sente culpa ou a polícia que inventa desculpas?
Pretensiosos, escritores, poetas, intelectuais, idiotas de todas as estirpes veem o mundo de cima. Tecem suas teses antropofágicas. Antropológicas. Supostamente lógicas. Ajoelham-se diante das evidências. Ficam de quadro. O rabo abanando. Estacas. Nem sequer imitam um cão sarnento ganindo. Interferem de longe, acobertados pela distância entre escrever, ler e entender.
Esses, plantas carnívoras, parasitam a vida dos outros vampirizam o anomimato, vivem de sugar a pele e a reinventar os outros que acham que existem de fato, quando só existem no fato.
Enquanto rabisco nessa porra desse teclado que insiste em não me deixar errar. Acho que a ponta do meu dedo corre para o final da linha, como põe final a uma vida. Inventada. Não é um ponto de ônibus, nem um ponto crucial.
Lá fora o mundo é real. Gente come gente. Comem-se com seus olhos, suas bocas, suas palavras, sua burrice, suas ideologias, seus estratagemas, suas drogas. O mundo é redondo disse o meu avô. O cão, único a morder uma canela fina, de um bando ido, me diz no 14º andar: o mundo é uma droga. Ninguém toma partido. Todo mundo desaprendeu a gritar. Clic. Desaprendeu a pensar. Clic Clic clic clic