DEBOCHE
Prof.: Luiz Cláudio Jubilato – professor e diretor do Criar
O Fantástico acaba de exibir uma matéria para que entendamos como são avaliadas as redações do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio).
RESUMINDO, PARA QUEM NÃO VIU: “10 jornalistas, de 10 estados diferentes, escreveram, de propósito, dissertações, que traziam erros condenáveis tanto pelo manual de correção quanto pelas instruções nas provas do ENEM 2013.
Os erros propositais reproduziram absurdos que o INEP afirmou, através do ex-ministro da educação, Aloísio Mercadante, com cenho franzido, mas arranhado, que não aceitaria MAIS.
Os textos que trouxessem “erros gramaticais” perderiam pontos. Os que trouxessem partes fora do contexto temático ou trouxessem “gracinhas” seriam anulados.
O Fantástico enfiou cinco professores numa “roubada”: sem treinamento para “afinar” a correção dos textos, de posse apenas das instruções da prova, partiram para dar notas e justificá-las perante o público. Logicamente, houve distorções: muito comuns nesses casos. Na verdade, querendo ou não, o programa acabou por imitar a banca escolhida pelo INEP.
Para que o leitor entenda: a UNICAMP, a FUVEST e a UNESP, por exemplo, fazem treinamentos constantes, para escolherem os professores capacitados para desempenhar os papel de corretores.
Em nenhum momento, o programa tocou em temas que, para mim, são deveras fundamentais:
A) são 90 testes, no sábado, (4:30h) e 90 testes e a redação, no domingo (5:30h), portanto há apenas 1h para escrever um texto, entre 20 e 30 linhas, quando, quase todos os vestibulares, oferecem 2h, em média.
B) o aluno tem apenas 2 minutos, em média, para resolver cada questão. É semelhante ao antigo teste para medir o QI de uma pessoa.
C) como é o processo de seleção de professores/corretores e o processo de treinamento.
Preocupante: duas redações copiaram descaradamente a coletânea e/ou os enunciados das questões. Esse procedimento, dentre outros, como FUGA SÓ TEMA, é condenado pelos critérios de correção, portanto a dissertação deveria ser anulada. Contudo, o próprio responsável do INEP pelas provas achou sinais de autoria nos textos para justificar as notas.
Os professores recebem por produtividade e uma professora deu o seu depoimento: corrigia 50 redações, por dia, porém recebeu a proposta de avaliar 150 textos. Levada pela ética, recusou. Mas, quantos, com a “corda no pescoço”, precisando de dinheiro para saldar dívidas, recusam?
Imaginem: um professor criterioso leva, em média, 10 minutos.
Faça as contas: corrigir 150 texto é humanamente impossível fazer esse trabalho.
Pense: como será a qualidade das correções?
Quero lembrar que minha análise é feris, porque não li os textos escritos pelos jornalistas. Tenho de confiar no que a repórter Sônia Bridi, que dispensa comentários.
Ps.: SEI COMO FUNCIONA TUDO ISSO, MAS VOCÊ, CRÉDULO LEITOR, NÃO SABE. POR ISSO ESSE DEVE SER MEU CENTÉSIMO TEXTO SOBRE O ENEM. NA SEMANA PASSADA MESMO, POSTEI UM. SEMPRE FUI CONTRA ESSA PROVA. EXPLIQUEI MEUS MOTIVOS NO POST ANTERIOR. ELA NÃO PASSA DE UMA GRANDE MÁQUINA PARA ANGARIAR VOTOS.
Mais uma vez repito, o que digo na primeira aula, para os meus alunos. O ENEM virou mais um vestibular NACIONAL e, da forma como é elaborado, não tem como dar certo.
SOMOS TODOS UM BANDO DE IDIOTAS
O BOCA DO INFERNO
Daniel Alves joga pelo Barcelona e pela seleção brasileira. Seleção, clube e jogador são internacionalmente badalados. Quando ia bater um escanteio contra o Villarreal, num jogo do campeonato espanhol, um jovem jogou uma banana, chamando o de macaco. Ele a pegou e comeu. Nem sei porque estou contando essa cena, todo mundo está de saco cheio de vê-la.
Neymar, instruído pela agência LODUCCA, cansado de ser chamado de macaco também, aproveitou a oportunidade para lançar a burra campanha "SOMOS TODOS MACACOS". Solidariedade ou autopromoção?
Segundo Daniel, comer a banana, foi um ato espontâneo. Não pareceu, ainda mais quando há uma agência de publicidade com o gatilho preparado para disparar a bomba. Pegando carona no fato, Luciano Huck lançou uma camiseta para ser vendida a quase setenta reais. Diante da grita geral, como quem foi pego com batom na cueca, se penitenciou e prometeu doar o lucro para as instituições sociais. Não disse quais.
Artistas, políticos, anônimos estão se promovendo às custas de Daniel Alves e seu ato "espontâneo", por isso apareceram comendo banana, brincando com a situação. O próprio Daniel, sentido-se usado e abusado, mudou o discurso, agora diz que a frase deveria ser: "Somos todos humanos". E mais uma obviedade: "Somos a evolução disso".
Vários setores da sociedade combatentes do racismo também gritaram contra a campanha, mas andam falando pra ninguém. Um racista não deixará de ser racista se for preso. O espanholzinho já conseguiu defensores que apelaram para a vitimização. O racismo está no cerne da Europa conquistadora.
Não somos todos macacos, segundo o filósofo Daniel: "Somos todos humanos". Será? Uma boa parte de nós, é desumana. Tortura, mata, destrói, em nome do dinheiro, do status, do poder.
"Você não entendeu, cara pálida. Não é isso que está em discussão" – diria você, caro leitor. É isso sim. Não somos todos iguais porcaria nenhuma, ao contrário, somos diferentes e é nessa diversidade que reside toda a nossa condição.
A pluralidade faz o mundo girar. A questão fundamental é como lidar com essas diferenças. Como respeitar as diferenças étnicas, religiosas sociais e culturais. Como combater os radicalismos.
Oportunismo tanto quanto água e comida tem limites. Celebridades, sub-celebridades aparecerem comendo banana, apenas reforça o preconceito, mas acreditam, na sua vasta inteligência, que estão protestando. Um fato ocorrido num estádio de futebol, tendo por trás uma agência de publicidade, não ataca a raiz do problema, nem abre, de uma forma séria, a discussão. Parece mais uma patacoada de televisão.
Esse fato ocorrido com um brasileiro, na Europa, não tira do Brasil a pecha de país racista. E pior ainda, de uma das mais torpes formas de racismo, o racismo "cordial". Tinga também foi vítima desse crime, contudo é menos famoso, não dá IBOPE MUNDIAL, talvez seja por isso que ninguém pôs uma peruca rastafari para se engajar numa campanha séria, muito menos idiota que essa.
O MACACO GORDO
Prof.: Luiz Cláudio Jubilato – professor e diretor do Criar
O CRIMINOSO: Quando peço ao aluno para ler um livro. Parece que estripei o pobre coitado: "Ai …professor! Tem de ler, mesmo? Não tem resumo, não? Nem filme? Ah! não acredito nisso. Só pode ser sacanagem. Cê tá brincando, né? Só pode ser. Aaaaaiiii, fessô, ninguém merece, né? Então, tenho de ler mesmo? Ah! Quebra o galho, fessô. Olha, nesse final de semana tem a festa da Veri e no outro… bom, no oouuutrooo…. tem a da Ana".
O CONTADOR: Quando peço para o ler um livro, o aluno logo me pede para contar a história. "É pra economizá tempo. Quantas páginas o livro tem? É muito grande? É muito grosso? As letras são muito pequenas? Esse não é daqueles livros que a gente precisa de dicionário pra ler, né? Quantos capítulos tem? Se for muito difícil, o senhor não quebra o galho e explica pra nóis antes da prova. Vai tê prova, né?"
O FENÔMENO: Quando peço para o aluno ler um livro, deparo-me com o fenômeno da transubistanciação. "Tem de ler esse 'troço', mesmo? Tem certeza disso, fessô? Que saco, tenho muito mais coisa pra fazê do que lê essa 'merda'. Ah! Fessô, quebra o galho, deixa essa 'coisa' pro mês que vem, pô!!! Cê nunca foi jovem, não? Duvido que cê já tenha sentado num buteco, com uma galera, pra falar sobre livro!"
O FERREIRO: Quando peço para um aluno ler um livro, tenho a impressão de acabo com a sua vida. "Ah! Fessô! o senhor ferrou com meus finais de semana. Vou demorar um tempão pra lê essa coisa? O senhor já teve namorada? Então sabe como é que é. E o pior de tudo é que a minha é uma gata. Se eu não pegá, vem outro babaca e carrega. Ela gosta mesmo é da balada. Ela não consegue fazer a diferença entre um pouquinho de macarrão com um porrão de macaquinho. Eu amo ela, ela é muito gostosa, fessô. Cê sabe o que é isso, né? Quebra o galho, fessô. Não ferra com minha vida, não!!!
O GAGO: Quando peço para o aluno ler um livro, tenho a certeza de que estou sendo ameaçado. O pior de tudo não é ser ameaçado. O pior é o ameaçador parecer gago. "Fessô! fessô! O senhor tá doido, fessô! Sai dessa, fessô! Ninguém vai lê essa porra não, fessô… Fessô! Fessô! Fessô. Tudo nóis aqui é chegado num sertanejo universitário, fessô! Tá vendo, fessô? Universitário, fessô. Tem um show do Suvico e Suvaco, hoje, no rodeio, fessô. Cê num acha que alguém, em sã consciência, vai ficá lendo seu livro, fessô?… Fessô, fessô… O senhô não tem nada pra fazer, não fessô? Ah! Quebra o galho, fessô! Deixa a gente ir vê o Suvico e Suvaco, fessô…"
O VESTIBA ULULANDO: Quando peço para o aluno ler um livro, os olhos ansiosos dele parecem me comer vivo. As perguntas são inevitáveis. "Esse livro cai no vestibular, fessô? Só vale, se caí. Tem resumo! Resumo quebra o maior galho. Ainda tem a sua aula, né, fessô? Não vem com esse negócio de cultura geral, não. Cultura? Sou a favor da cultura brasileira. Geral, pra mim, é quando saio na noite e pego geral. Em qual vestiba cai, fessô? É um pé no saco ficá lendo essas coisas, chatas, quando a gente tá cansado de sabê que não vai caí. Tenho muita física, química e matemática pra estudá. Vô ficá lendo livro? Como é que se chama aquela, biscate do livro… daquele carinha…? Aquele carinha que escreveu sobre aquela putinha que chifrava o cara com o melhor amigo dele! Sabe que isso existe mesmo, fessô? Eu mesmo conheço um figura que passou por isso. Quebra o galho, fessô. Diga logo o que vai caí."
QUEM QUEBRA GALHO É MACACO GORDO. ALUNOS ENQUADRAM PROFESSORES ENTRE ESPÉCIMES. O QUE ESTÁ NESTE TEXTO, É UMA PARTE DO QUE HÁ. A OUTRA PARTE, FICA PARA O PRÓXIMO TEXTO.