A SAGA DO COMIGO NINGUÉM PODE III

Parte 3: A REALIDADE DO SAPO BARBUDO –  O MUNDO É MEU! É MEU! TÁ BÃO?

 

(O BOCA DO INFERNO – 15/4/24)

 

Pegamo otra ideia da turma do inseticida. Na verdade, num gosto nada desse sujeito. Ele tem pose de quem está Sempre está perguntano: “Quem peidô aí? Quem peidô aí? Até chamam ele de intelectual. Só porque leu meia dúzia de livros? Parece até técnico de time de várzea: “É dono da bola, das camisa, manda e desmanda, mais num sabe jogá”.

Tudu quanto era universidade do mundo dava pra ele título de dotô. Ele num é dotô!!! Uai, tamém quero sê dotô. Sô eu o presidente. Se a questão é ler livro, peguei um livro pra lê. Lê parado? Sentado? Quem é que guenta? Tamém com a pança que eu ganhei, não podia, tinha que andá. Nem as pelada na Granja do Todo Mundo Torto me tirava a pança. A gente não dispensava uma pinguinha cum uma linguicinha no final. A gente é político, mas é gente. Essa tal de presidência engorda muito. Cada hora alguém faz um jantá pra me enchê os pacová, quereno me suborná. Esse povo de bancos e construtoras só qué que eu arrume um plano qualqué pra arrumá obra pra eles ganhá. E depois, lógico, me ajudá. É toma lá, dá cá.

Subi numa estera. Andava, andava, naquele troço, mais num saía do lugá. Suava que nem um gambá. Porra, lê livro é mais chato que andá de estera. Cê anda, anda, mais num chega a lugá nenhum. Mais do que adianta estudá, fui presidente, sem sabê uma vírgula, durante oito anos e ainda sô. Acham que iam me vê pelas costa, mais num fui emborã, não. Tô atrais das cortina, no porão, na copa, na olimpíada, no Curningão, em todu quanto é lugá. Só num tô na Papuda. Nem vô tá.

Us político oposicionista gargalham nas minhas costas. Contam uma piada besta: eu sô o maior químico da istória, transformei um país numa merda. No palanque, não dá para eles, mando vê. Ninguém joga cum o povo, como eu. Jogo nas onze. Bato corne, mato no peito e istufo as rede. Cumigo, ninguém pode. Cumigo é gol. Sô técnico que pega jogadô discunhicido, na várzea, e faço virá ídolo rapidinho. Sô químico mesmo. Parô na frente, se ferrô. Cêis cunhece algum presidente que virô filme. Virô fio do Brasil?

Num quiria i pra olliwood, quiria i pra ONU, nem que fosse pra servi cafezinho. Numa dessas, dou uma rastera num safado, viro presidente da ONU e domino u mundo. Não puis o companheru Manteiga no pudê. Não elegi o cumpanheru Hadad e a cumpanhera Di uma? us pulítico de carteirinha diz que jabuti não sobe em árvore. Se algum aparece em cima di um galho, foi porque alguém botô lá. Sô eu que tiro e boto, boto e tiro, quem eu quisé. Bão, quem os banco dexá e as empreitera assiná dibaixo.

Não puis um monte de gente nu tribunal de conta, no STF, na puta quiu pariu? Ninguém me pega. Só pega os babaca que num sabe se cuidá. Querem muito. Muito rápido. Querem dimais, até se enrolá. Num sabe fazê. Fiz tanta aliança que me chamam até de joalheria. Tenho o rabo de todo mundo na mão. Não adianta me acusá: num sinto, num oço, num vejo, num falo, num me meto em robada. Fico na minha. Arrumei a vida de todo mundo, antes de me mandá. Meus amigo me deram uma lavanderia que agora tenho cabelo armado e a cara cheia de botox. Pra que sê intelectual? Criei um FOME ZERO MUNDIAL. E até giz puesia, agora.

Me falaro que a turma do inseticida que inventô um tal de NENEM, NEM, ENEM… sei lá. A gente enxergô que o negócio era melhor que eles pensava. A gente arrumô e eu falei pro povo que era pra pobre botá fio na faculdade onde só entra rico, os burgueis. Pobre ia gozá. Pobre é que nem papel higiênico, aceita tudu. Ainda mais se eu falá. O negócio é ganhá eleição. Os invejoso começaro a me atacá. Foi aí que virei filme. Ia pra Hollywood, focá famoso que nem o Neymar.

Agora, tenho um instituto dado pelos amigo. Não falo mais pros pobre, me pagam agora pra falá pra dotô. Viajo o mundo vendeno o Brasil. Sô bom vendedô. Vendo pra dotô até pão cum mantega cum cara de cocô. Ué! Tô ficano foda, fiz otra puesia. Truxe pra cá olimpíada, Copa pra mostra que o Brasil é muito bão. Tamo feito, vamo fazê tanto de dinheru cum isso que o partido é que vai ganhá. Cum esse monte de cumpanheru preso fica e aquela refinaria ferrada, fizemo uma lavanderia tão grande que nunca vão nus pegá.

Pode fazê manifestação a vontade. Já fizemo os estádio, se num dé certo é a FIFA que se fudeu. Que hospital, que nada. Iscola, pra quê? O exemplo pra todo mundo sô eu. Seguramo tudu quanto é aumento. Cumpanhera Dilma vai se elegê. Vão sê mais quatro ano. Se a bomba istorá, a culpa fica pra oposição e a burguesia retrógrada que qué ganhá cum atraso do país. Já funcionô cum u cumpanheru Hugo, purque cum nóis, não.

 domingo, 11 de maio de 2014

BISCOITO DE TERRA

(PROF.: LUIZ CLÁUDIO JUBILATO – 10/5/14)

A repórter cumpriu a pauta direitinho. Competente, dissertou sobre o belo trabalho dos soldados brasileiros na reconstrução de uma terra arrasada. Terra de sofrimento, desespero, mas cheia de dignidade. Destacou a miséria absurda, a fome absurda, as crianças desnutridas, os adultos desnutridos, o país desnutrido. Narrou a saga do trabalho incansável das freiras e dos voluntários. Das lágrimas, que desciam de rostos encovados, era possível distinguir as lavas do inferno interior. Entrevistou mães inconformadas; crianças desdentadas.

Teve coragem até de se meter em ruelas onde impera a violência de grupos armados. Armas vindas de onde? Dadas? Vendidas? Por quê? Por quem? Arriscou-se no mercado de produtos contrabandeados. Conversou com pessoas, viu, constatou, pesquisou. Perguntou, perguntou, perguntou…

Mais do que de um terremoto devastador, o Haiti foi devastado por sucessivas ditaduras sanguinárias, ladras que carregavam suas panças cheias empasinadas dos subornos das grandes potências que usavam o país como entreposto para espalhar produtos roubados e/ou capturar braços, mesmo surrados, para a escravidão.

Nesse momento, onde estão as grandes potências piratas? Estão escondidas debaixo da sua carapaça da dignidade? Simplesmente mandaram esmolas e países subdesenvolvidos para cuidar de uma nação estropiada, quando mal cuidam de si? O Haiti não serve para nada. De fato, nunca serviu. Sempre foi uma ferida purulenta às portas das grandes nações para onde um povo faminto poderia fugir.

O Câmera foi de uma competência ímpar. Closes em crianças nuas, criancinhas abaixo do peso, pessoas de todas as idades e sexos, a ponto de enlouquecer. Cresce, em nós, uma raiva canina da ONU,UNESCO, NAFTA, OEA… bandos de siglas criadas para nos fazer calar. Não sei nem porque falo de tudo isso. As imagens, os relatos, descrições e narrações falam melhor do que eu.

Na verdade, escrevi para falar não sobre onde o Haiti está, mas sim sobre onde ele não está. Nele as pessoas comem biscoito de terra para subornar a fome. Lógico, não há nutrientes, apenas barro assado infestado de todo tipo de bactérias e coliformes fecais. Podem, evidentemente, provocar a morte. Mortos, em pé, todos estão. A repórter não se dignou a participar do banquete, contudo logo pespegou a pergunta óbvia a um moleque sorridente: “Que gosto tem?”, ao que ele respondeu de imediato: ” Tem gosto de manteiga”. Provavelmente, não tem. É possível constatar, como é possível prever que aquela criança nunca tenha visto manteiga na vida. Nasceu na tragédia, morrerá antes de ela acabar.

Como a imaginação misturada com imaginação e manteiga faz uma criança saltar, navegar, correr e voar… Quem sabe, um dia, sentirá gosto de frango e, no outro, até de caviar? Diante da lente suja de morte e miséria, sorriu desdentado para um Brasil desdentado que ele provavelmente não sabe onde fica, nem saberá. Na terra devastada, tudo é provável. Tudo é possível. Até falar francês.

A repórter visivelmente incomodada penetra no mercado da cidade. O cinegrafista fecha a imagem em um jovem que se debruça sobre um monte de tecidos rústicos com paisagens pintadas por ele. Em todas elas, destaca-se o amarelo. O sol. Estão cheias de homens remando canoas, há coqueiros em praias paradisíacas defronte um mar azul. Ela pergunta: “É assim que você vê o Haiti?” Ele, calmante, num português afrancesado, responde: “Não. Esse é o Brasil”. “Esse aqui, amarelo de sol, é que é o Haiti”. “Mas, os quadros são muito parecidos. Cheios de cores vivas!”, por quê? Insiste a repórter? Ele lhe diz: “Aqui, as pessoas mijam, fazem cocô nas ruas, jogam papel sujo. É feio”. “Esse aqui, sim, com coqueiros, mar azul, sol é o meu Haiti”. Um Haiti que ele vê, mas nunca viu. Provavelmente, nunca verá.

A reportagem que eu fiz não foi exatamente assim, diria a repórter, talvez indignada: “Você pulou partes importantes”. Talvez ela tenha razão. Mas, ela viu do que é. Viu onde o Haiti está. Eu, o pintor anônimo, o garoto desdentado vimos o Haiti que não está lá. Cada cego vê com os olhos que tem.

 sábado, 10 de maio de 2014

A SAGA DO COMIGO NINGUÉM PODE II

Parte 2: A LENDA DO SAPO BARBUDO – NUNCA NA HISTÓRIA DESSE PAÍS

 

(O BOCA DO INFERNO – 1/5/14)

 

Ganhei de todo mundo junto, sem pestanejá. Dei uma de artilheiro na final. Na cara do gol, enfiei o canudo e a bola entrou. Levantei o troféu na cara do sigla de inseticida, do marajá, que caçava marajá e tinha me sacaneado na eleição. Veado. Saiu pela porta dos fundos. Burro. Metido a nordestino. Ferrô os nordestino. Se fudeu. O do massacre da serra elétrica se fudeu tamém. O padre, cum jeito de chuchu, dançou que nem peru em véspra de natal. Bibi os defunto de um trago só. Meti a bola na gaveta, onde a curuja dorme. Juntei us cumpanheru. Tomei “umas duazinha”. Vesti uma beca. Ganhei um sapato dos paulista de Franca, apertado que nem a vida. Subi a rampa. Entrei no Planalto. U povo pirô. Tava mais feliz que pinto no lixo. Se pintô de bandera do brasil. Saiu na rua gritano.Tomô banho na piscina do palácio burguês. Encheu o caneco. Nunca, na história desse país, se viu uma “zona” tão grande. Todo mundo achava que eu ia mandá nesse país. Levantei a mão do zé das minas que já tava de mão dada cum zé do maranhão, que tava de mão com u canalheros, que sentava no colo do barbalho. Agora senti que tava mesmo fudido. Us companheiru me puseru na parede, tinha que sentá no colo desses cara e chacoalhá pra eles se quisesse governá. Tinha um tal de Maluf tamém que malufava como ninguém. infiei as mão nos bolso e fiz acordo com ele. Aprendi a melufar. Tive até que malufar o Brasil pra governá, que nem juiz ladrão que deu o pênalti que não existiu aos 46 do segundo tempo. Nunca, na história desse país, alguém malufou tanto como eu. Malufei nos Pampas, em São Paulo, em todo nordeste e noroeste, aonde deu. O partido inventô a história do FOME ZERO. Como sou trabalhadô, que num trabalhô, o mundo inteiro caiu de quatro. Só tive de infiá. Até os mendigo caiu. Us companheru subiu. U povo pirô. Sambô que nem a fiel quando o curingão é campeão. O primeiro diploma, que recebi, sem estudar, foi o de presidente da república. Chorei e fiz todo mundo chorá. Virei lenda: primeiro trabalhadô que num trabalha que virô presidente. Meus cumpanheiru entraru na mardita. Tomaram todas. Dei pros pobre que votô em mim, uma ismola, chamei de bolsa famia. Copiei essa ideia do inseticida, melhorei ela, e daí? Ampliei esse negócio pros pobre continuá votano em mim pra eu ganhá tudo quanto é eleição. Pra Mariza tamém dei uma bolsa, mais era a tal da Prada. Me disseru qui era boa. Eu só cunhecia mesmo era prata, cascalho, bufunfa. Era cara pra cassete essa tal de Prada, mais não tinha pobrema, não era eu mesmo que ia pagá. Pros companheiru dei bolsas tamém: bolsa ministério, bolsa conselheiro, bolsa aspone, bolsa aspone do aspone. Deitei e rolei. Os cara ajuelhava pra eu passá. Pros inimigo de agora, montei outros ministério menor. Eles num gostaro muito, queria mais, mais riru até o canto da boca. Dava pra botá a mão no monte, sem reclamá. Para a patuleia, o povaréu, o populacho,  num queria nem sabê. Só desconfiaru quando sentei, di cumforça no colu dos zé, dono das igreja, e do zé, dono do maranhão. Us político de carteirinha assinada me ensinaru que valia tudo em nome da tal de governabilidade. Nunca, na história desse país, ninguém sentô e chacoalhô tanto quanto eu. U pobrema é que us companheiru ficaro guloso, começaro a metê a mão no monte. Quem nunca viu filé minhon, quando vê, não cumê carne de pescoço, né. Ainda mais cum a porta do galinheiro aberta. Nunca, na história desse país, ninguém meteu tanto a mão no monte que nem eles. Tudo que eles via pela frente, ia pra cueca, pra num dá na pinta. Quem era pego, virava aloprados e doido ninguém prende, leva pra tratá. Começaro a chamá o robo de “mensalão”. É mentira. Mentira das barba. Mentira das grossa. Esse troço nunca existiu. Robaro dentro de vários mês. Dentro de vários anos. Por que chamaro de mensalão? Mensalão, não! Se fosse semestralão, anualão, até que eu aceitava.

 sexta-feira, 09 de maio de 2014