UNHA

Unha

Estranha palavra: arranha

Alcunha de garra.

Forma de cunha.
Unha

Garra encravada: entranha

deformada, mal tratada, atrofiada

O corpo fere. Na alma interfere

Dor aprisionada, esmagada, gritada

Sangue pisoteado, mimese das guerras do mundo.

Imundo.
Unha

Forma cortada: estranha

dor saciada, amansada, aquietada. Sim.

Nenhum sofrimento. Nenhum tormento.

Pedaços afiados, extirpados de mim.

Nenhum encantamento. Num encanamento.

Esgoto. Sem fim.
Unha

Garra. Arranha.

Cunha. Entranha.

Pelo encanamento, sem nenhum encantamento

Desce o fungo.

Imitação das drogas do mundo.

Imundo.

 quinta-feira, 03 de julho de 2014

A PONTA APONTA

O meu dedo indica dor.

Dor física: imaginária? literária? libertária?

Dor tísica: pobreza? fraqueza? incerteza?

Dedo horizontal: esmaga lábio contra lábio; a mente solta.

 

O meu dedo indica a dor.

Dor doída: fetal? ancestral? animal?

Dor roída: descomunal? visceral? crucial?

Dedo vertical: tranca a boca; a mente solta.

 

Meu dedo aponta. Punhal.

Risca meu peito, rasga a minha alma

Risca o caminho, a meta, a encruzilhada: o aríete.

machuca o erro, a perspectiva, a medida: o porrete.

 

Meu dedo aponta. Espiral.

Arredonda a lógica, arrebata tudo em mim.

Arredonda a história, o descompasso: o passo

machuca a metamorfose, o compasso: o passo a passo.

 

Meu dedo indica dor.

Bate. Acusa. Acelera a calma.

Rebate. Ilude. Previne, acalma.

 quinta-feira, 03 de julho de 2014

Meus queridos (as) vestibulandos(as),

O que vou dizer aqui, admito, muitos de vocês já ouviram pessoalmente de mim. Contudo, em função de aspectos importantes e esclarecedores atuais, a repetição não caracterizará excesso. 

Muitos de vocês sabem (pois já comentei) que tive uma oportunidade ímpar por poder atuar com Jornal anteriormente (mais precisamente no meio de minha vida universitária), escrevendo colunas semanais.

O fato é que, em certa ocasião, na redação, o redator chefe do Jornal em questão (evidentemente, sabendo que eu era estudante de psicologia) me ensinou algo que nunca mais deixei de aplicar em minha vida, principalmente, profissional. Suas palavras foram: "Saiba que os melhores textos que escreverá aqui, bem como, os melhores atendimentos que realizará como psicólogo, não ocorrerão, unicamente, com base no que aprendeu em conteúdos técnicos, mas, sim, acontecerão a partir do que for capaz em observação de mundo".

Parece óbvio, não é? Mas, nem tanto. A cada leitura (de qualquer fonte), a cada áudio, a cada conversa, em cada olhar, a cada caminhada na rua, procuro perceber os movimentos presentes. Desse modo, na última semana, no jogo da seleção brasileira contra a seleção chilena, um fato ocorreu e, a partir do mesmo, posso reapresentar um conceito, agora na prática, a todos vocês. Claro que vocês já devem, nesse momento, deduzir com certa facilidade sobre o quê estou falando, bem como, já devem ter visto ou lido análises de n profissionais sobre o fato … Mas, nesse texto, me direciono a vocês! Falo sobre a reação emocional de nossos jogadores. Contudo, não exatamente sobre o choro testemunhado (que não passa de uma reação de tentativa de regulação orgânica e psíquica), mas, sobre o quer é, verdadeiramente, combustível para aquela efusão emocional. Naturalmente, são vários os aspectos que podem ser analisados a partir do ocorrido (culturais, étnicos, íntimos, etc…) e, por isso, não entrarei em alguns desses méritos.

Na medida que sempre definimos a analogia entre Vestibular e competições esportivas de alta performance, vou citar, apenas, o seguinte: perceberam o quanto é prejudicial para a saúde mental imposições irrealistas e precipitadas??? Vocês podem se questionar: "Como assim?". Pois bem. Lembrem-se de discursos vindos da própria comissão técnica e, por que não dizer, comportamentos não-verbais oriundos da própria população brasileira estabelecendo como obrigação antecipada a conquista do título mundial pela nossa seleção. Traiçoeiramente, havendo um esquecimento geral que mais 31 seleções estariam na disputa, bem como todas outras questões. Lógico que sabemos da qualidade técnica de nossos jogadores (como eu sei da qualidade técnica de cada um de vocês). Entretanto, querer garantir título (ou vaga universitária) a partir, somente, dessa técnica (ou do fato de jogar em casa, etc…) é, no mínimo, irrealista e nítido desrespeito a todos os outros elementos que circulam no ambiente competitivo, os quais influenciam, fortemente, os resultados finais. O que aconteceu com nossos jogadores se tornou um exemplo claro da desvalorização dos processos de evolução e seus elementos (dedicação, empenho, comprometimento, treino, admissão de falhas…) em prol de uma supervalorização de resultados: o título! Afinal, aqueles choros todos, possivelmente, explicitam o que nossos atletas guardam em si: medo de se tornarem "goleiros Barbosas em condenação perpétua", como se tal goleiro fosse motivo de vergonha por ter conseguido figurar em um time que ficou entre os quatro melhores do mundo na ocasião.

Queridos(as)!!! Sejam também sensíveis aos fatos que ocorrem ao redor de todos vocês e bebam do que os mesmos podem oferecer de mais construtivo: aprendizado! Aprendam, definitivamente, que o papel de todos vocês é vivência real e lúcida do vestibular, o que significa tentativa/ aperfeiçoamento, tentativa/ aperfeiçoamento, tentativa/ aperfeiçoamento…Óbvio que todos sabemos o quanto querem suas vagas nas universidades! Mas, acima de tudo, pessoalmente eu desejo que cada um de vocês assimile seu valores pela execução e percepção de seu esforço e verdade íntima…Daí sim, irão elaborar, saudavelmente, qualquer resultado que for.

Beijão no coração de todos vocês!

 

Marcelo Filipecki

Psicólogo

 

 terça-feira, 01 de julho de 2014