OBA! HOJE É O DIA DA CRIANÇA

O texto abaixo é longo e chato. Sei disso, porque fui eu que escrevi. Só cometa o crime de lê-lo, se tiver muita paciência e tempo disponível, senão não perca o seu tempo.

(O BOCA DO INFERNO – DIRETO DO BERCINHO COM POMPONS)

Este é um dia feliz, afinal é o dia das crianças, daqueles pequeninos seres “tchutchukus”, “fofuchos”, frequentadores de shopping, que ganharão um celular com cinco anos de idade e comandarão o lar assim que puderem soletrar a expressão EU QUERO. Não falarei daqueles seres magricelos, cor de barro, que aportam nas praias, nas câmeras de um avisado fotógrafo e nas capas de revistas e jornais sensacionalistas de todo o mundo, além de enfeitarem os posts da internet, indignados ou chorosos. Todo o mundo, comovido, sofre com a impotência da dor dos pais se afogando, vendo o filho se afogar.
Este é o dia da criança, um dia feliz, e não cabe pensarmos nessa chatice de crianças sírias presas em campos de concentração, afinal fizemos conscientemente nossas doações para os orfanatos, onde há aquelas crianças sem passado, com um presentinho nas mãos, e sem futuro, do resto Deus cuida. Fizemos nossa obrigação. Quanto mais tempo mantivermos essas crianças lá, menos criminosos invadirão as ruas, menos terroristas haverá. Fizemos nossa obrigação. Por enquanto, guardamos um bom presentinho para eles, se forem bons meninos: não votaremos na pena de morte. Olhe que boa noticia…
Esqueçamos essas coisas complicadas dessa sociedade em estado terminal, falemos de coisas engraçadas, como darmos um brinquedo a nossos filhos e eles largarem o brinquedo para brincar com a caixa. Não é engraçado? Criança faz cada coisa… Até pusemos pilha na boneca que anda, fala mamãe, faz xixi… nem precisam fazer nada.
Podemos brindar, nossos rebentos darão continuidade ao que nós matamos para lhes proporcionar um futuro digno. Para não terem de enfrentar o que enfrentamos. E olha que passamos por cima de tudo em nome da felicidade deles. Fizemos tudo por eles. Daremos tudo a eles. Virá tudo pronto, dentro da caixa, estilo China in the box. Quem sabe reconheçam o esforço das gerações que converteram matéria prima em conforto para eles, mesmo destruindo o planeta e, infelizmente, prometeram leis, fizeram conferências, debates, mas não chegaram a um consenso sobre como salvar essa casa. Se seguirem bem nossos ensinamentos, construirão novas máquinas de moer consciências e brincarão, mais uma vez, com a caixa: seres in the box.
Prometo parar com essas besteiras e falar apenas de crianças bem nascidas, frequentadoras de buffets nos aniversários e não das que nunca verão um bife durante a vida. Não é dia de falar daquelas figurinhas mutiladas, porque ganham a vida quebrando pedras ou usadas como mulas nas carvoarias, plantações de cana, café e sisal, ganhando cinquenta centavos por dia, se muito. Daquelas cujo presente é não ter futuro, é ter no presente de presente a invalidez, o nanismo, a imbecilidade, a fome crônica.
Juro que vou parar de falar dessas bobagens, vou falar apenas das graças recebidas pelas crianças fiéis à Igreja, afinal é Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil e não das infiéis, que não viram e nem verão Nossa Senhora aparecer, não sabem e não saberão o que significa a palavra padroeira, nunca a escreverão, só sabem o que é ter um dono, dono do crack, da maconha e da arma. Aquelas chamadas de “aviões”, que assumirão a culpa do que não fizeram, para que o adulto criminoso não vá para a cadeia e mofe lá, das que só terão uma casa, a Fundação Casa (não é irônico?) até morrerem numa rebelião ou nas mãos de alguma facção.
Hoje é um dia maravilhoso. Todos os abastados comemoração o dia das crianças com brinquedos bolos e balas. Não é verdade? Não quero nem me lembrar das abandonadas nos orfanatos, das que nunca tiveram pais, nem país, porém têm a sorte de contar com a caridade de senhoras generosas, que lhes trazem as sobras quebradas da limpeza dos armários, coisas que jogariam fora. Como a sociedade já as descartou, antes sobras do que nada.
Hoje é um dia de glória, louvemos ao senhor que nos deu filhos sadios e ótimas condições de vida. Logo, logo eles serão “alguém”, afinal fazem balé, tocam piano, treinam em academias, estudam na melhor escola da cidade em tempo integral. Virarão advogados, médicos, presidentes. Salvarão a vida dos outros, principalmente as suas próprias. Irão à Disney, realizarão o sonho da classe média. Será que sabem o que significa ser criança? Que tudo isso é feito para garantir o seu futuro? Crianças pobres saberão, tenho certeza, que são crianças, no dia em que forem lavadas e arrumadinhas para serem exibidas como troféus por aquele homem empertigado, candidato a qualquer coisa, que lhes prometerá mundos e fundos. Não verão a parte boa do mundo, contudo, depois da campanha eleitoral, conhecerão, muito bem, os fundos. Em caso de um projeto social “vencedor”, “fantasticamente midiático”, podem ser exibidas no PROGRAMA CRIANÇA ESPERANÇA ou no TELETON. Solidários, que somos, seremos atendidos por um solidário artista, com sorriso margarina, agradecido pela doação.
Prometo falar dos meninos e meninas, cujos pais depositam, todo mês, uma gorda quantia visando uma aposentadoria confortável e jamais daquelas reféns das doações de algum ricaço. Doações trazem muito prestígio e rendem boas capas nas revistas de celebridades. E, lógico, doações podem ser abatidas no imposto de renda, afinal ninguém é de ferro. Doação custa dinheiro.
Estou muito feliz hoje, porque posso falar de momentos prazerosos. Lembro-me da criança “remediada” que fui, mas feliz, dentro das minhas possibilidades, é lógico. Juro que jamais falarei daquelas muitas que nunca foram, não são e nunca serão. Foram esquecidas pelos governos municipal, estadual e federal, mas não do dono do morro que implantou suas próprias leis e substituiu o Estado. Não moro mais no morro, moro em um prédio. Subi na vida literalmente. Tenho uma boa dose de sorte, uma boa dose de trabalho e uma boa dose de culpa nisso tudo. Todos temos. Ninguém é inocente. Não é Sem Medo?
Viva o dia das crianças.

 

 sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A POLÍTICA DO BATE, BATE, BATE / CANDIDATO QUE JÁ BATEU / QUEM GOSTA DE PROMESSA É ELE / QUEM NÃO VOTA NELE SOU EU.

(O BOCA DO INFERNO – DIRETO DO BURACO DE RIBEIRÃO PRETO)

Senhores candidatos a prefeito de Ribeirão Preto:

Não estou aqui para defender partido político nenhum. Estou aqui para cobrar. Exercendo meu poder inalienável de eleitor.
Quero apenas fazer algumas contatações. Todo candidato faz propaganda dizendo que representa as mudanças. Então, por que os senhores não mudam velhos hábitos politiqueiros? Um dos senhores afirma na sua propaganda que mudança é trazer algo novo. Não me diga?

Os senhores apresentaram tantas provas um contra o outro que sou obrigado a crer que ambos estão corretos. Ambos não perdem tempo ao afirmar que Ribeirão Preto está mergulhada na lama. Além da metáfora desgastada, ambos contribuem com o estrume para engrossá-la todos os dias, afirmando que quem ataca é o outro.
A agressão continua nos “debates”, se é que podemos chamar trocas de acusações de debates, talvez “dê porradas”. Beijar senhoras, levantar criancinhas é o velho cacoete de fazer politicagem. Mas, não representam “mudanças?” Nenhum dos dois apresenta propostas viáveis para melhorar a cidade seguidas de propostas sobre de onde sairá o dinheirão que as viabilizá-las.

Esse povo trabalhador, como afirma um dos candidatos, merece respeito. Respeito mesmo, respeito à nossa inteligência. Posar de vítima durante a propaganda eleitoral é ofender a nossa inteligência. Nenhum dos dois é inocente.

Se eu posso me sentar à frente do governador e do presidente para trazer uma série de coisas importantes para Ribeirão Preto, por que não o fez antes? Se eu sou capaz de denunciar falcatruas, atacar a gestão, por que não protocolar, com provas concretas, denúncias na polícia? Roubo comprovado é caso de polícia.

Senhores candidatos, a rejeição aos senhores é muito maior do que a confiança nos seus “projetos”. Essa cidade pode bater o recorde de votos, nulos, brancos e abstenções da história. Não sei, se se deram conta disso!

O desafio dos senhores é mudar esse discurso viciado de que o eleitor tem que votar, porque precisa ter compromisso com o futuro da sua cidade. Perceberam? Não funcionou? Não funciona pois, para o eleitor, tanto faz quem ganhar. Nenhum dos dois representa nada de novo. Ninguém acredita em nada.

 sexta-feira, 21 de outubro de 2016

REFLEXÕES DO PROFESSOR ÓBVIO

(O BOCA DO INFERNO – DIRETO DAS PÁGINAS DE UM “HD” EXTERNO)

Gerar: ato de criar vida / fazer nascer / procriar.
Geração: efeito de gerar / função pela qual um ser produz outro semelhante.
Olhem o que estamos fazendo com a nova geração, entre os 18 e os 25 anos! O que mais odiávamos, quando fazíamos parte da “Nova Geração”, era sermos rotulados.
Rótulos do produto por nós lançado há pouco no mercado de autoflagelação: Geração Z, Milenials, Canguru, Mimi, Silenciosa…
Carregar uma pecha é como viver enjaulado, o indivíduo perde a noção de dignidade, de individualidade. Passa a fazer parte da gangue dos tatuados, mesmo que sua tatuagem seja diferenciada, personalista, criativa.
No dia em que investirmos em ensino, talvez consigamos transformar ensino em conhecimento, transformar conhecimento em educação. E, a partir daí, nos transformarmos, nos reeducarmos para poder educar.
Estar sozinho com um jovem não significa lhe dar um tratamento individual, significa apenas tirá-lo do bolo, da massa, para, muitas vezes, aplicar a mesma fórmula ou a mesma pena que aplica a todos.
Ouvirmos o aluno, o jovem, creio ser a melhor maneira de construir um processo de ensino criativo. Precisamos urgente enterrar a nossa soberba de ensinadores, magos que podem sacar uma varinha e resolver tudo.
Ninguém ouviu a minha geração, deu no que: deu nessa coisa amorfa, nessa coisa toda remendada, complexada, a que chamamos de processo educacional.
Mas, não é só ouvir, é também provocar, descobrir os talentos, as particularidades, mas também criar estratégias para não matar o senso de comunidade.
Talvez assim paremos de estimular essa confusão entre aluno e filho, família e escola; de manter essa máxima determinista de que “filho de peixe, peixinho é”.
Agora, o partido “sem partido” quer criar a escola sem partido. Fatalmente, repetiremos a pecha que recebemos, quando éramos jovens, de “geração alienada”, a que deixou esse mundo devastado, onde são escritas muitas leis, são convocadas várias conferências, mas não se chega a lugar algum.
“Como nossos pais?” Não. Boa parte desses jovens invadem escolas para fazer, na prática, o que os a maioria dos pais condena e a minoria apenas aplaude de longe, muito longe, faz seus discursos filosófico-sociológicos, mas não enfiam a mão na merda.
Esses filhos jovens alunos não têm partido, na maioria das vezes, têm uma “causa” suficientemente forte para lutar por ela.
Não esqueçam meus novos “velhos” amigos, professores: uma avaliação, avalia o aluno, mas também o professor; criador e criatura. Nunca fomos bons alunos, então que aprendamos…

 sexta-feira, 21 de outubro de 2016