Cuidado com a Maíte
“Maíte” (chilique de vestibulando em maio)
Por incrível que pareça, a “maíte” existe. E não é “frescura”, não. É uma espécie de síndrome que acomete vestibulandos de várias caras, tamanhos, sexos, “espécies” e tem influência direta na aprovação ou reprovação no vestibular. Alguns a traduzem como ansiedade; outros, como depressão. Eu a traduzo como “falta de estratégia”. Imaturidade. Entra sabendo que é jogo de perde e ganha, mas já entra derrotado. Se não tomar cuidado, não traçar uma estratégia flexível e exequível, perde a vaga para um concorrente até menos qualificado, mas mais consciente do seu papel.
Na prática, agora é que começa a decisão de fato. Agora, começa o frio na barriga. “É a hora do vamos ver”. É o momento em que o indivíduo tem medo de ser reprovado até mesmo em “exame de fezes”. O imaturo só olha para o passado (chora por tudo o que deixou de fazer) ou para o futuro (olha para o fim do túnel, mas sequer vê o túnel), nunca para o presente (momento em que tudo se decide). Não aprende que é hoje que começa tudo. Se eu não fizer nada hoje, vou fazer quando?
Não precisa ser um gênio para contar quanto tempo falta para enfrentar o “monstro” do vestibular. Em maio, passou da hora de estabelecer uma “estratégia”. Ela se chama REGULARIDADE. Vou repetir: REGULARIDADE. Grosso modo: “Quantas horas, de verdade, você consegue colocar a ‘bunda’ numa cadeira e estudar”. Estudar, mesmo, sem assaltar a geladeira, atender telefone, “viajar na maionese”. Estudar sem enrolar. Quanto tempo? Aí se começa a traçar a tal estratégia.
Observe a sua sala de aula: muita gente, que não estudava nada até agora, começou a estudar forte (baixou a consciência). Muita gente que virava uma noite atrás da outra estudando, “chutou o balde” e agora passa o tempo todo com aquela cara de tédio (fez tudo errado). Faltou ESTRATÉGIA. Aquela que leva em consideração SUAS particularidades. Quem está no terceiro colegial parece cachorro que caiu de mudança. Quem está no cursinho ou parece Prometeu acorrentado: ISTO É MAÍTE.
A “maíte” e a “outobrite” têm sintomas parecidos, são irmãs gêmeas. São o retrato esculpido de quem não entendeu o que é um vestibular e está sentado “esperando a banda passar” ou esperando a cadeira elétrica como naquele filme famoso “À espera de um milagre” ou deu uma de Zeca Pagodinho “Deixa a vida me levar” ou crê que “não dá mais pra segurar, explode coração”.
Falta de estratégia (imaturidade):
1.Você se levanta, atropela a porta do banheiro, olha para a sua cara no espelho, pensa em ir à aula, mas convence a si mesmo de que está doente e volta para a cama.
2.Você acha que toda aula é um saco, todo professor é um chato, não aguenta mais ir à escola. Exercícios, nem pensar. Simulado é como esfinge: decifra-me ou te devoro. E o medo de se testar, de ser devorado?
3.Você mente para si mesmo o tempo todo: no curso de apoio, não entrega a tarefa, pois, com olhos lacrimejantes, diz que tinha muita coisa para estudar na escola e, na escola, diz que não fez os exercícios, porque o curso de apoio deu muitas tarefas.
4.Você mente para todo mundo e para si mesmo, dizendo que não tem tempo para nada, mas não faz nada, só pensa e reclama e só se entende bem com quem só pensa e reclama.
5.Você chora até em propaganda de margarina, até em desenho do Pica-Pau.
6.Você olha para as apostilas e tem ânsia de vômito? Elas estão ali empilhadas e, como em um amor platônico, um não consegue se aproximar do outro?
7.Você entrou em desespero, porque há um caminhão de matérias acumuladas. Você prometeu que colocaria em dia nos finais de semana, mas acabou indo para a “folia” e agora empurra para as férias mesmo sabendo que ninguém estuda nas férias. Aí vem o drama de consciência. Há uma coisa boa nisso. Você descobre que tem consciência.
Sabe por que está sofrendo de “maíte”? Porque você caiu na rotina: ou está pensando na aula, ou se arrumando para a aula ou assistindo à aula, ou até sonhando com a aula. Não é mais um “ser humano”, é apenas um vestibulando. Quem é apenas vestibulando, é como um urso: “Branco, gordo e peludo”.
Resultado: Sem uma estratégia, você começou a cavar sua sepultura.
Pense:
1.O vestibular mudou. Você precisa se atualizar: ler artigos de jornais e revistas, blogs, assistir a filmes, debates, documentários. Isso, às vezes, substitui uma apostila. Atualização significa estar preparado (a) para qualquer prova.
2.Você simula vestibulares em casa com o tempo cronometrado? Aprende com eles ou fica chorando, quando não consegue tirar a nota esperada? O simulado não é o vestibular, não define se você vai passar, mas lhe dá parâmetros: o que estudar mais, o que estudar menos.
3.Você “viaja na maionese” nas aulas e depois quer estudar em casa, porque estuda melhor sozinho (a). Primeiro: está invertendo as coisas, estuda-se na escola, assistindo bem às aulas, em casa apenas se revisa, fazendo exercícios. Segundo: por que é que você paga uma escola, se vai lá apenas para ver a galera? Melhor combinar para encontrá-la em um barzinho.
4.Você já percebeu que, entre a sua teoria e a sua prática, há um fosso? Você vai à aula, faz curso de apoio, “rala” em casa e acha que não vai passar? Se você não vai? Quem vai?
5.Está cansado (a)? Todo mundo está, mas ninguém vence sem estresse, mas, lógico, quando aprende a dominá-lo. O segredo é REGULARIDADE.
SAIA DESSA. HÁ TEMPO SUFICIENTE PARA VOCÊ FAZER O QUE QUISER, DESDE QUE SAIBA O QUE QUER.
Por Luiz Cláudio Jubilato. Educador e diretor do Criar Redação. Professor e especialista em Língua Portuguesa e especialista em vestibulares. criarvest@uol.com.br
Maio, O Mês do desmaio
Escrevi e falei tanto sobre esse tema que pensei em não fazê-lo neste ano, porém, como sou um educador e, para mim, um ponto inegociável da arte de ensinar é repetir, repetir, repetir… então escreverei e falarei de novo, de novo, de novo, tantas vezes quantas forem necessárias, para ver se consigo, em algum momento, convencer os meus alunos.
Cuidado com o mês de maio, ele é um grande divisor de águas, pode ser o maior responsável pela sua vitória ou pela sua derrota. Por quê? Porque, se você resolver “chutar o pau da barraca” agora, arrumando todo tipo de desculpa para não fazer o que tem que fazer, pode começar a pensar no melhor cursinho para o próximo ano. Você está estudando para ele, não para o vestibular.
Se você acha que o capítulo de hoje de “Malhação” é imperdível, que o capítulo da novela das 9h é imperdível, que “Vale a pena ver de novo” é o que há de mais novo e imperdível, abandona os cursos e aulas de apoio, porque se convenceu, depois de muito “não pensar”, que não dá conta, a coisa começou a se complicar. E muito. Se você arruma defeitos em todas as aulas e “Mete o pau” em todos os professores só para justificar o motivo pelos seus constantes atrasos e a “matação” indiscriminada das aulas, a coisa está feia mesmo. Você pode estar a um passo de “chutar” o balde.
Se você vai a todas as festinhas e filmes durante a semana, expressa a sua cara de tédio para o mundo e alega estresse, depressão e ansiedade, para não fazer nada, alguma coisa está errada. Já “chutou o balde”.
É um erro acreditar que a sua vaga em uma faculdade se decidirá com uma “aula dica” no final do ano ou com uma promessa de não comer mais chocolate, caso a consiga, enlouqueceu. Começa a buscar um “milagre”. Aí sim, a sua vaga subiu no telhado.
A busca pelo mais fácil pode tornar seu objetivo cada vez mais difícil. Vestibular é para os fortes, os que se esforçam, os que acreditam, mas, principalmente, para os que fazem, os que estudam.
Na verdade, sua vaga se decidiu muito antes, desde o momento em que sua família escolheu a primeira escola em que você iria estudar. No entanto, não pensemos nesse ponto agora. Não há tempo.
Vestibular é competir. Competição exige estratégia.
Saber a matéria é apenas um dos detalhes. É preciso também se atualizar, fazer exercícios, pensar em qualidade e não em quantidade das horas de estudo.
Uma estratégia de estudo exequível é estudar durante as aulas e não deixar para fazer isso apenas em casa, dormir bem, comer bem…
O que o mês de maio tem de tão especial? Resposta fácil: é o mês da rotina. Não há mais novidade alguma, pois o vestibular, a cada dia, ganha traços muito mais definidos. As piadinhas dos professores começaram a perder a graça, os companheiros de sala de aula já se dividiram nas famosas panelinhas e os simulados viraram um pesadelo quase todo final de semana.
Só se fala em aula: ou você está em uma aula ou indo para uma aula ou voltando de uma aula ou se preparando para uma aula ou até mesmo sonhando com uma aula. A vida se resume em aulas.
As cobranças familiares arrefeceram, as da escola aumentaram, professores passaram a bater nas mesmas teclas que ninguém “aguenta” mais. A cada discurso em que o professor “cobra” mais estudo e o coordenador desanca os “coçadores”, as próprias cobranças começam a ganhar contornos de filme de terror.
Se você adiar tudo para as férias, esqueça. Ninguém estuda nas férias.
Observe: muitos dos seus concorrentes se matriculam em cursos de apoio em maio ou procuram professores particulares. Por quê? Porque caíram “na real”, a rotina fez o efeito contrário, acordou-os, já lhes ensinou a procurar meios de fortalecer as partes em que estão fracos, senão ficarão pelo caminho.
Os ditos “vagais” agarram-se às desculpas para ficarem livres de cobranças. Os cursinhos, no próximo agradecem. As faculdades ruins já agradecem neste ano.
Maio é o mês do desmaio, sabe por quê? Porque não tomou as regras da sua própria vida nas mãos, acreditou que está refém das circunstâncias.
Por Luiz Cláudio Jubilato. Educador e diretor do Criar Redação. Professor e especialista em Língua Portuguesa e especialista em vestibulares. criarvest@uol.com.br
O Livro dança
O dedo toca a seta, que aponta para uma direção, a página anda para frente; toca a que aponta para o sentido oposto, a página anda para trás. Todo leitor digital deixa sua impressão digital na tela plana do computador. O livro luminoso passeia nos olhos, na razão, memória, identificação, amor, terror, medo, raiva, realidade, fantasia… no turbilhão de emoções e sensações, desejo e paixões de quem o devora, de quem abre suas pernas, reconhece os seus segredos, vira e revira a madrugada extasiado até o amanhecer.
Dois dedos agora são necessários para brincar de passear com as folhas para cima e para baixo, para frente e para trás. Ora vêm aos lábios que os degusta o seu sabor, para descer como cola, quando elas insistem em parar de brincar. Há os que precisam do perfume da tinta, que personaliza as letras, exala das páginas, do odor que impregna.
O personagem esférico, de tão grávido, de muitos “eus” mergulha fundo no tema, entra pelo livro adentro, só se revela inteiro no fim; o secundário surfa superficial na superfície plana da página; o terciário muitas vezes é percebido a duras penas apena pelo olhar. Nasce como mosca rara, existe para, no espaço de uma linha ou até um parágrafo, pouco existir.
Um personagem é meu siamês, retiro-o do tema e passeio com ele em mim; outro é a sua cara, vejo-o em ti. É um brincar de pique de esconde-esconde, montar um quebra-cabeça, em que se ganha em se perder. O livro dança grávido sempre, levando personagens, gente, sabores, odores, mundos, emoção e razão de mão em mão.
O livro provoca: decifra-me ou te devoro; esqueça-me e eu encho o espaço dentro, fora de ti.Vou deixá-lo fora de si. Ele é puro desafio, pura diversão. Não é chicote, para ser usado para uma severa punição. O leitor não aprova a prova, pois o livro não é calça de jeans. Ela estraga, quando lavada. Ele, não. A história estória é eterna, mesmo em folha rasgada. Ele suscita, ressuscita, diferente em si, quanto mais nos predispomos a relê-lo para nos reler, porque mudamos para envelhecer e nos metamorfosear.
Há um livro que me chama a atenção, virtual ou concreto, grosso ou fino: o que não li. O que vai brincar de dançar na minha imaginação.O livro precisa dançar de mão em mão, senão vira um mero objeto abjeto, para um tolo chamar de decoração.
Por Luiz Cláudio Jubilato. Educador e diretor do Criar Redação. Professor e especialista em Língua Portuguesa e especialista em vestibulares. criarvest@uol.com.br