O povo não é uma entidade abstrata

Os países da América Latina adoram um caudilho, um populista e um ‘defensor” da Constituição ao seu prazer e uma ditadura. É atávico. Um caudilho não respeita as instituições e se coloca acima do bem e do mal. Promove o culto à personalidade, é o Cristo redivivo, o Salvador da Pátria. Todo caudilho é um populista de carteirinha que fala em nome do povo, coloca-se como o dono dos pensamentos e vontades do povo. Ele é o povo. O povo parece uma “entidade abstrata” da qual só ele conhece todas as vontades.

Entre 1930 e 1945, tivemos o exemplo mais bem acabado desse tipo de gente. Getúlio Vargas dominava o rádio, isto é, as comunicações e a desinformação. Além disso, tinha a polícia política nas mãos, pronta para assassinar qualquer ideologia contrária à sua, Entrou para a história como “o pai dos pobres”.

Durante os anos 60, 70, 80, o cone sul abrigou algumas das ditaduras mais sanguinárias da história e, como se pode ver hoje, todas elas, de direita ou de esquerda, são corruptas, fazem dos correligionários papel higiênico em um primeiro momento, depois os jogam no lixo, para substituí-los por outros sabujos e bandidos da pior espécie.

Cuidado com essa frase: “O povo não aguenta mais…” Debaixo dela pregam-se os maiores absurdos. Praticam-se os maiores crimes, sob a tutela da massa manobrada.

Todos somos donos do nosso próprio destino, da nossa independência para pensar. As autoridades impuseram quatro quilômetros de distância entre as manifestações em São Paulo e três em Brasília. Esse é o retrato vivo do nosso “apartheid”.

Uma bala não mata uma ideia, mas provoca um efeito dominó de proporções inimagináveis, principalmente se acertar uma criança ou um jovem. Toda bala perdida tem endereço certo. Há muita gente armada e mal intencionada participando dessas manifestações. Ânimos exaltados, tragédia à vista. Protejam-se. Fujam de aglomerações e grupos radicais.

Defendam eleições livres e democráticas, só assim se fortalecem as democracias. Não defendo “impeachment”, defendo instituições fortes. Nelas, “o povo” expressa o que quer, mesmo quando não vai às urnas. Não creio que as forças armadas darão um golpe, sabem do seu papel constitucional.

Não se esqueçam de todos os que colocaram em cheque a idoneidade das eleições, foram eleitos várias vezes dentro desse mesmo modelo.

O voto é a voz do povo: essa entidade que parece “abstrata”. Faço parte do povo e ninguém (de direita ou de esquerda) tem autorização para falar em meu nome.

 terça-feira, 07 de setembro de 2021

CARTA ABERTA AOS MANIFESTANTES DE 7 DE SETEMBRO

Eu sou professor, dediquei minha vida a lutar pela vida, pelo livre pensar, pelo direito à livre manifestação, pela independência das instituições, pela sustentabilidade, pela valorização da ciência, por um sistema educacional inteligente, eficiente e criativo. Já vi todo tipo de manifestação e participei de uma enorme quantidade delas. Há muito, porém, não sinto um clima tão belicista, quanto o de agora, incentivado por quem deveria evitá-lo.

Convocar a policia, o exército e grupos radicais para manifestações é uma temeridade, é o mesmo que apagar fogo com gasolina. Fatalmente os “black blocs” terão a desculpa de que precisam para destilar sua violência a torto e a direito. “Black Blocs” não têm lado.

A função primordial das autoridades constituídas é preservar a integridade do cidadão independentemente da linha ideológica à qual pertence. Então, protejam-se e, lógico, às suas famílias.

Não deixem que ocorra uma nova Juiz de Fora ou uma invasão vergonhosa como a que ocorreu no Capitólio, nos EUA.

Indivíduos se infiltram nessas manifestações com o intuito de produzir cadáveres (mártires) em profusão. Com os ânimos acirrados e armas nas mãos de um delinquente, tudo pode acontecer. Quem mata, esfaqueia não é de esquerda nem de direita é assassino.

O voto é a melhor forma de manifestação.

Manifestem-se sim. mas em paz.

 segunda-feira, 06 de setembro de 2021

7 de setembro – Dia da Independência do Brasil

(O BOCA DO INFERNO  COM ESCAFANDRO)

As inverdades históricas

No dia 7 de setembro de 1822, D. Pedro subiu a serra de Santos abordo de uma mula, depois de uma visita à Concubina oficial (Domitila de Castro – marquesa de Santos). Protegia-o sua guarda pessoal, mais tarde, elevada à pomposa categoria de Dragões da Independência. Os desarranjos intestinais de sua alteza o fizeram correr para uma moita, de onde um gemido passou à História como O Grito do Ipiranga. Assim rompemos relações com Portugal. O “Grito do Ipiranga”, com sua alteza montada em um corcel branco, é uma idealização de Pedro Américo na sua obra. Somos chegados a um salvador da pátria, à praga populista e a uma mão de ferro.

A história do Brasil é marcada por uma sucessão infindável de enganos: Os portugueses “deram com os costados na terra do pau de tinta”, tentando achar ouro e as Índias. Os patrícios perderam distribuíram porrada, chicotada, roubaram o que quiseram debaixo dos nossos narizes, chegou aqui um regente fujão, que roubou a metrópole. Imitamos a sua corte de falidos, compramos títulos que não serviam para coisa nenhuma, a não ser para pompa e circunstância.

Somos a única colônia da América Latrina que pulou para a de império. Depois de estuprar as putas, as escravas e os cofres do império, Dom Pedro I se mandou para a “terrinha”, cansou da brincadeira, deixou a bomba nas mãos do filho ainda imberbe. Condecorado com medalhas e penas, Dom Pedro não sabia se era imperador ou cacique. Em 1888, a princesa Isabel assinou a Lei D’ Áurea, “libertou” os escravos que passaram à condição fantástica de “alugados”. Em 1889, Deodoro da Fonseca, um monarquista, proclamou a República. É mole? D. Pedro !!, nosso salvador, passou à condição de estorvo, e os republicanos à de salvadores da pátria, com duas ditaduras armadas. Parece piada, mas não é.

Voltando ao 7 de setembro, desafio qualquer jornalista a sair pelas ruas e entrevistar manifestantes sobre significado desta data, que leva tanta gente a “curtir” uma praia, não estar nem aí para a subida da inflação, do dólar e a queda da bolsa de valores. Duvido que, em cada 10, dois saibam. O negócio é “beiçar” uma caipirinha “mata-vírus” e dane-se o mundo que não me chamo Raimundo. Ou sacudir uma bandeira sem conhecer as propostas do seu candidato.

Só uma observação: dia 7 de setembro nunca foi, neste país de oligarquias e feudos, o “centrão” conhece bem isso, lançamento de campanha à presidência da república, nesta dará. Por incrível que pareça, a ditadura empurrou os escombros do país para as mãos do “presidente civil”. Piada. Sir Ney era também presidente da ARENA (Aliança Renovadora Nacional), que sempre beijou os coturnos dos milicos. O Nome dado esse período foi o de “Nova República”. Parece sacanagem, mas mão é, a república era gerida pelo dono de um feudo chamado Piauí. Do túmulo Getúlio aplaudiu, copiaram seu velho “estado novo”.

Guardem os aplausos, será que teremos “o nono estado novo” ou “a nova república nova”? Ou pularemos da condição de democratura para a de teocracia. O homem “salvou-nos” do PT sob o pretexto de que viraríamos uma nova Venezuela e a roubalheira acabaria. Como ocorreu com Collor de Melo (O Caçador de Marajás), o presidente enriquece a olhos vistos.

Somos um povo bem inventivo, como podem ver, já chamamos os EUA para a porrada e a China para o ringue. A dinastia caminha a passos largos protegida por um soldado e um cabo. Se Deus é brasileiro, tirou férias permanentes. Mais um salvador da pátria. Quem nos salvará dele, já que o voto está sendo acusado de não ser voto?

 domingo, 05 de setembro de 2021