A Arte de Professorar
PROFESSORAR É VERBO DE AÇÃO
TRANSITIVO DIRETO:
Eu professoro/
tu professoras/
ele professora/
nós professoramos/
vós professorais/
eles professoram
O indiferente não sabe, que não sabe, porém resolveu professorar. Acusou os professores de enganar e vagabundear. Vagabundear é verbo sinônimo de andar, andarilhar, andejar, circunvagar, doidejar, flutuar, fritar, girar, larear, passear, vadiar, zanzar…
O Sinistro, que por dever de ofício, deveria defender os professores, preferiu se deixar manejar ao se pronunciar. Acusou os professores de passarinhar, borboletear, mesmo que enganholados, enjaulados, emoldurados por uma tela de computador. Ironicamente, computa a dor. Professor, seja quem for, aprende a aprender, a conversar, a debater, a transformar, a trocar, a se desdobrar.
Até o sinistro destrambelhado, mal alfabetizado, pintou os professores de vermelho, de verde-amarelo, apelidou-os de esquerdopatas, psicopatas. Professor é professor, aprendeu a conviver com a dor, as ideologias e o torpor, a vivenciar a convicção, o fanatismo e a posição.
Professores não são escultores de cabeças, ensinam a colocar ideias, onde sequer ideias há. Ensinam a raciocinar. Os odiosos e odiados do gabinete sabem que rotular é a melhor maneira de se esconder para desmoralizar.
Aos odiosos e odiados, falta capacidade, idoneidade, noção de realidade para pensar. Um país sem ciência convive com a incompetência, a dependência, a indecência, a inconsequência, a cupidez. Têm que mentir, para se escravizar, perpetuar-se no poder.
Em um dia de comemorações, há muito a homenagear e também a sanear. Professores perderam o emprego em meio à pandemia, abriram mão dos direitos que já não tinham. E o Estado, esbravejando, matou de vez, a educação que pouco existia, pouco paria.
PROFESSORAR É SINÔNIMO DE:
Pensar
Raciocinar
Transformar
Refletir
MAS TAMBÉM DE:
Desafiar
Ensinar
Lutar
NÃO É:
Pura e simplesmente aceitar sem contestar.
OBA! HOJE É O DIA DA CRIANÇA
(O BOCA DO INFERNO – DIRETO DO BERCINHO COM POMPONS)
O texto abaixo é longo e chato. Sei disso, porque fui eu que escrevi. Só cometa o crime de lê-lo, se tiver muita paciência e tempo disponível, senão não perca o seu tempo.
Este é um dia feliz, afinal é o dia das crianças, daqueles pequeninos seres “tchutchukus”, “fofuchos”, frequentadores de shopping, que ganharão um celular com cinco anos de idade e comandarão o lar assim que puderem soletrar a expressão EU QUERO. Não falarei daqueles seres magricelos, cor de barro, que aportam nas praias, nas câmeras de um avisado fotógrafo e nas capas de revistas e jornais sensacionalistas de todo o mundo, além de enfeitarem os posts da internet, indignados ou chorosos. Todo o mundo, comovido, sofre com a impotência da dor dos pais se afogando, vendo o filho se afogar.
Este é o dia da criança, um dia feliz, e não cabe pensarmos nessa chatice de crianças sírias presas em campos de concentração, afinal fizemos conscientemente nossas doações para os orfanatos, onde há aquelas crianças sem passado, com um presentinho nas mãos, e sem futuro, do resto Deus cuida. Fizemos nossa obrigação. Quanto mais tempo mantivermos essas crianças lá, menos criminosos invadirão as ruas, menos terroristas haverá. Fizemos nossa obrigação. Por enquanto, guardamos um bom presentinho para eles, se forem bons meninos: não votaremos na pena de morte. Olhe que boa notícia…
Esqueçamos essas coisas complicadas dessa sociedade em estado terminal, falemos de coisas engraçadas, como darmos um brinquedo a nossos filhos e eles largarem o brinquedo para brincar com a caixa. Não é engraçado? Criança faz cada coisa… Até pusemos pilha na boneca que anda, fala mamãe, faz xixi… nem precisam fazer nada.
Podemos brindar nossos rebentos que darão continuidade ao que nós matamos para lhes proporcionar um futuro digno. Para não terem de enfrentar o que enfrentamos. E olha que passamos por cima de tudo em nome da felicidade deles. Fizemos tudo por eles. Daremos tudo a eles. Virá tudo pronto, dentro da caixa, estilo China in the box. Quem sabe reconheçam o esforço das gerações que converteram matéria prima em conforto para eles, mesmo destruindo o planeta e, infelizmente, prometeram leis, fizeram conferências, debates, mas não chegaram a um consenso sobre como salvar essa casa. Se seguirem bem nossos ensinamentos, construirão novas máquinas de moer consciências e brincarão, mais uma vez, com a caixa: seres in the box.
Prometo parar com essas besteiras e falar apenas de crianças bem nascidas, frequentadoras de buffets nos aniversários e não das que nunca verão um bife durante a vida. Não é dia de falar daquelas figurinhas mutiladas, porque ganham a vida quebrando pedras ou usadas como mulas nas carvoarias, plantações de cana, café e sisal, ganhando cinquenta centavos por dia, se muito. Daquelas cujo presente é não ter futuro, é ter no presente de presente a invalidez, o nanismo, a imbecilidade, a fome crônica.
Juro que vou parar de falar dessas bobagens, vou falar apenas das graças recebidas pelas crianças fiéis à Igreja, afinal é Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil e não das infiéis, que não viram e nem verão Nossa Senhora aparecer, não sabem e não saberão o que significa a palavra padroeira, nunca a escreverão, só sabem o que é ter um dono, dono do crack, da maconha e da arma. Aquelas chamadas de “aviões”, que assumirão a culpa do que não fizeram, para que o adulto criminoso não vá para a cadeia e mofe lá, das que só terão uma casa, a Fundação Casa (não é irônico?) até morrerem em uma rebelião ou nas mãos de alguma facção.
Hoje é um dia maravilhoso. Todos os abastados comemoração o dia das crianças com brinquedos bolos e balas. Não é verdade? Não quero nem me lembrar das abandonadas nos orfanatos, das que nunca tiveram pais, nem país, porém têm a sorte de contar com a caridade de senhoras generosas, que lhes trazem as sobras quebradas da limpeza dos armários, coisas que jogariam fora. Como a sociedade já as descartou, antes sobras do que nada.
Hoje é um dia de glória, louvemos ao senhor que nos deu filhos sadios e ótimas condições de vida. Logo, logo eles serão “alguém”, afinal fazem balé, tocam piano, treinam em academias, estudam na melhor escola da cidade em tempo integral. Virarão advogados, médicos, presidentes. Salvarão a vida dos outros, principalmente as suas próprias. Irão à Disney, realizarão o sonho da classe média. Será que sabem o que significa ser criança? Que tudo isso é feito para garantir o seu futuro? Crianças pobres saberão, tenho certeza, que são crianças, no dia em que forem lavadas e arrumadinhas para serem exibidas como troféus por aquele homem empertigado, candidato a qualquer coisa, que lhes prometerá mundos e fundos. Não verão a parte boa do mundo, contudo, depois da campanha eleitoral, conhecerão, muito bem, os fundos. Em caso de um projeto social “vencedor”, “fantasticamente midiático”, podem ser exibidas no PROGRAMA CRIANÇA ESPERANÇA ou no TELETON. Solidários, que somos, seremos atendidos por um solidário artista, com sorriso margarina, agradecido pela doação.
Prometo falar dos meninos e meninas, cujos pais depositam, todo mês, uma gorda quantia visando uma aposentadoria confortável e jamais daquelas reféns das doações de algum ricaço. Doações trazem muito prestígio e rendem boas capas nas revistas de celebridades. E, lógico, doações podem ser abatidas no imposto de renda, afinal ninguém é de ferro. Doação custa dinheiro.
Estou muito feliz hoje, porque posso falar de momentos prazerosos. Lembro-me da criança “remediada” que fui, mas feliz, dentro das minhas possibilidades, é lógico. Juro que jamais falarei daquelas muitas que nunca foram, não são e nunca serão. Foram esquecidas pelos governos municipal, estadual e federal, mas não do dono do morro que implantou suas próprias leis e substituiu o Estado. Não moro mais no morro, moro em um prédio. Subi na vida literalmente. Tenho uma boa dose de sorte, uma boa dose de trabalho e uma boa dose de culpa nisso tudo. Todos temos. Ninguém é inocente. Não é Sem Medo?
Viva o dia das crianças.
A cada 15 anos o Brasil esquece 15
De 15 em 15 anos, o Brasil esquece do que aconteceu nos últimos 15 anos (Ivan Lessa).
(O Boca do Inferno – direto do centro do centro da política)
Para quem não sabe ou não se lembra, Ivn Lessa foi um jornalista polêmico, instigante, sarcástico, um dos grandes a criar o jornal O Pasquim. Seus comentários eram ácidos.
Lembrei-me dessa frase, ao ler neste domingo a coluna da deputada Tabata Amaral do PDT na Folha de São Paulo. A combativa deputada que, por sinal, demonstra que a juventude não está perdida, ainda se interessa por política. Saiu-se bem nos raros momentos em que Pedro Bial lhe fez perguntas relevantes no programa Conversa com Bial. Advinda de uma classe média, estudante bolsista em um escola particular, impressionou-me positivamente também ao encostar a ministra Damares Alves na parede, ao se valer de um discurso articulado, baseado nas suas experiências, cheio de posições muito claras e argumentos inteligentes. Vê-se nela o que se convencionou chamar de emponderamento. O Brasil adora uma convenção e ainda mais uma palavra “noiva” para habitar discursos modernosos.
No artigo, ao qual me refiro, impressionou-me mal. A jovem deputada repetiu antigos jargões e se perdeu em expressões vazias, como “partido de centro-esquerda” (divertido isso, pois há a centro-direita e o centrão, falta o centro-centro), “velha política” (qual é a nova? Todos os salvadores da pátria repetiram esse jargão e continuamos exatamente onde sempre estivemos), “convicções sociais”, “crescimento sustentável”, “esquerda inflexível” (estamos ainda na conversa fiada de rotulagens? Então, quer dizer que há uma direita flexível? Então, o centrão é flexível quanto à distribuição de cargos e verbas?).
Só concordei com a jovem deputada, quando ela afirmou que o Brasil precisa de uma “reforma” (detesto essa palavra, porque traz a ideia do velho com botox) “política” (temos partidos?) “urgente”.
Não me importa se o indivíduo é de esquerda ou direita. Chamar o indivíduo de petralha ou de bolsominion nos fez sair do lugar ou só estimulou o confronto? Importa-me que ele tenha o mínimo de “SENSO” para defender suas posições. Todo conflito interessa a alguém que está de fora rindo. Neste caso, interessa a quem?
Abismou-me a deputada cair na lábia de que a “REFORMA DA PREVIDÊNCIA” ajudará a resolver os graves problemas que o país enfrenta (esta reforma cria distorções ainda maiores. Muita gente a defendeu em passeatas sem saber do que se tratava. Quando descobriu o estrago que os tentáculos do monstrengo faria, tentou voltar, mas já era tarde). O Ministro da Economia se arrepia ao tocar no imposto sobre grandes fortunas (até porque Paulo Guedes não é exatamente pobre), corte de privilégios do legislativo e do executivo (isso provocaria superlotação de enfartados nos hospitais de Brasília), a partir de ontem. Perceberam que no momento de votar os pontos de destaque da reforma, o congresso entrou em recesso? Não? Rodrigo Maia rapidinho tirou o dele da reta, porque sabe o que vem por aí. Então, esperem os congressistas voltarem oficialmente e verão. Muitos não voltaram para casa, continuam nas sombras de Brasília negociando verbas e cargos.
Torço deputada para que a razão seja maior que a sedução. Cuidado, quando políticos consideram qualquer político noiva.