Segredos Confessáveis

Por Prof. Luiz Cláudio Jubilato  – diretor do Criar Língua Portuguesa e Redação

Quando eu tinha 18 anos, os professores não brincavam e todo dia falavam como se fosse um mantra: "Vocês estão no ano do vestibular. Quem não estudar, não vai passar. "Era um pé no saco" – todo dia, mesma coisa.Transformaram esse "troço" num monstro com muitas cabeças. Muitos amigos "piravam", viraram ursos: brancos, peludos e gordos. Esqueceram de viver.

Os diretores diziam que tínhamos de escolher a profissão que exerceríamos para o resto da vida. Pensei: "O resto da vida é muito tempo. Nem sei quanto tempo vou viver".

Alguns amigos nasceram com o estetoscópio no pescoço: "Vou fazer Medina, penso nisso desde criança". Um tentou três vezes entrar na UFJF. Decorou a apostila e se tornou de tanto estudar. Tempos depois, aprendeu a explicar de tal forma que se tornou um dos melhores professores de biologia que conheço.
Eu era um sujeito confuso. Até uma certa parte do ano pensava em ser diretor de teatro, depois escritor. Depois de um conto publicado num jornal, tive certeza: "Serei escritor". Em seguida, imaginava-me um jornalista, talvez influenciado pelo melhor amigo, mas sempre tive uma imensa dificuldade de obedecer ordens. Nunca daria certo, me avisaram.

Li muito. Os garotos da rua jogavam bola. O meu pai e o meu irmão achavam que eu era doido ou gay. Para tristeza deles, virei objeto de gozação.

Na fila de inscrição, conversei com várias pessoas. Uma delas me disse: "O seu negócio não é aprender português a fundo? Então, porque não faz letras? Dei-lhe razão, então mais uma vez troquei para desespero da família que queria um filho "dotô".

Fui para o curso de letras. No primeiro dia de aula, deu vontade de fugir: "O que diabos eu estava fazendo ali? Dar aulas? Jamais…" Como sou teimoso, resolvi insistir. Comecei a gostar, mas vivia grudado na "galera" do jornalismo.

Com 18 anos, em 1978, as escolhas eram marcadas pelo desejo das famílias do status que o filho e, consequentemente elas, alcançariam. O negócio era ser médico, advogado ou engenheiro. O resto era "curso espera marido". Nunca tive o anseio de ter um marido. Comecei a trabalhar.

Hoje o leque diversificou tanto que as mais novas profissões não são sequer conhecidas. É um "crime" pedir a um jovem para escolher o que fará pelo "resto da vida". Falta-lhe maturidade. Conheço uma imensidão que "chutou o pau da barraca" e foi fazer outra coisa. As profissões mais rentáveis que darão mais "status" ainda não foram inventadas. 

Pergunte a uma pessoa de 40 anos ou mais se ela, algum dia, pensou que carregaria no bolso o próprio pelo telefone pela rua e/ou o próprio computador? Se ela imaginava o que seria a tal da internet e se,hoje, consegue viver sem ela? Observe quantas profissões surgiram a partir da internet, do celular e computador.
Tenho 54 anos, comecei a dar aulas com 18. Eu envelheço, meu aluno tem sempre 18 anos, então acompanhei várias gerações. Tenho ex-alunos que trazem seus filhos para estudar comigo, então lá vem outra geração. Numa profissão tão desvalorizada, quanto a minha, considero-me um vencedor. Criei, há 23 anos o CRIAR, uma referência em Língua Portuguesa. 

Não saberia fazer outra coisa a não ser ensinar, provocar. Meu jovem aluno, não se desespere, o vestibular não é um monstro. E NADA É PRA SEMPRE.

 quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014