Ribeirão Preto: Incidências e Coincidências

Suprema ironia: a Rua Lafaiete, nomeada em homenagem ao aristocrata revolucionário francês que lutou nas guerras de Independência dos EUA, cruza a Avenida Independência e termina na Rua Francisco Junqueira, nobre de ideais liberais, que derrotou o candidato conservador de D. Pedro I nas urnas.

Suprema ironia: a Avenida Independência leva um golpe e sofre uma bifurcação, à esquerda descola-se dela a Avenida presidente Vargas (ditador entre 1930 – 1945). Ambas seguem em frente, ambas cortam a Avenida 9 de Julho (homenagem à Revolta Paulista contra o Presidente Getúlio Vargas em 1932).

Suprema ironia: Vargas e Independência se distanciam, porém correm na mesma direção. Vargas passa por rotatórias diferentes para morrer em Bomfim. Vargas roda acima, à esquerda, em direção aos ricos e, à direita, em direção aos pobres.

Suprema ironia: A Independência morre abaixo na Avenida João Fiúsa, um professor de história baiano, que nunca esteve nesta terra de monoculturas: Café na época dele; cana, na nossa.

Suprema ironia: A Avenida João Fiúsa é curiosa. Corta Vargas e independência. O professor vai do Alto da Boa Vista, bairro dos abastados, à Avenida Caramuru, apelido de Diogo Álvares Correia (português que naufragou nas costas da Bahia). Logo em seguida, está a Vila Virgínia, um dos bairros menos abastados da cidade. Foi seu filho Godofredo Fiúsa, que adquiriu terras em Ribeirão Preto e, em seguida, as loteou. Hoje estica-se a João Fiúsa até Bomfim (nome do suposto cemitério onde foi enterrado).

A Avenida Nove de Julho começa em uma encruzilhada. Caminhando sobre pedras, caminha-se devagar. Depois de cortar a Presidente Vargas e a Independência, continua devagar, para morrer em outra encruzilhada. Ribeirão Preto é a suprema ironia a céu aberto.

 sexta-feira, 19 de junho de 2020