A MEDICINA DA COMPETÊNCIA
Há 27 anos que jovens passam pelas salas de aula do Criar Redação em busca do sonho de se tornarem médicos: para uns, o sonho se realiza depois de muita luta dentro da universidade e posteriormente no mercado de trabalho; para outros, o sonho fica pelo caminho, só queriam status; muitos entram em qualquer faculdade, esperando o milagre da multiplicação do dinheiro. Querer entrar em uma faculdade de medicina é uma coisa, estudar para ser um médico competente é outra; vários procuram outros cursos, porque querem ser universitários e satisfazerem suas famílias, mas anos depois, voltam para o banco dos cursinhos arrependidos da decisão torta.
Na minha família, há dois médicos: um deles, formado numa das melhores universidades do país, retornou à cidade natal, enfrenta hospitais sucateados, numa região pobre, onde os postos de saúde não têm as mínimas condições para tratar um ser humano doente. Ele não recebe o pagamento nos dias acordados e as autoridades responsáveis são despreparadas: não conhecem gestão, porque a nomeação de curadores e diretores obedecem a critérios políticos.
A culpa dessa desastrosa situação da saúde brasileira cai, quase sempre, no colo dos médicos ou na falta deles.
Diante desse quadro caótico, nossos governantes viraram grandes especialistas em desculpas, para esconder a inapetência e corrupção.
Falo isso, porque o caso Bolsonaro colocou na crista da onda, Juiz de Fora, política, equipe médica da Santa Casa da cidade e o SUS.
Primeiro, Juiz de Fora não é uma cidadezinha, possui 500 mil habitantes e uma das melhores faculdades de medicina do Brasil (UFJF), mas, se o fosse, haveria uma pequena diferença: sem equipamento e remédios, por mais competente que seja, não um médico não faz milagre. Segundo, a Santa Casa de JF não é um hospitalzinho qualquer, é um hospital que possui uma equipe abalizada para realizar qualquer tipo de cirurgia e equipamentos dos mais vários tipos, mas precisa de muito mais, principalmente remuneração digna. Relegá-la ao SUS, para desmerecê-la e fazer dela alvo de campanha política, mostra o contrário do que se quer, a Santa Casa mostra que ela é o SUS, que, se bem administrado, dá certo, funciona. A remuneração fica em segundo plano, quando se trata de salvar uma vida, mesmo que seja a de um candidato à presidência; terceiro, pedir remoção para um grande hospital de São Paulo é uma opção de uma pessoa abastada concorrendo a um pleito nacional. Bolsonaro, diga-se de passagem, agradeceu aos médicos pela presteza e competência; quarto, a imprensa demonstrar os valores ridículos, que a equipe receberá pela sua competência, revela o quanto a busca por status nada tem a ver com a profissão e, o quanto a competência e o compromisso levam a fazer muito com pouco.
O episódio de Juiz de Fora demonstra todo tipo de aberração: Não vale a pena mostrá-las.
Orgulho de haver médicos na família.
Orgulho de ser juizforano.
Orgulho de ser um professor formado na UFJF.
Meus cumprimentos aos médicos de todos os lugares e todas as camadas sociais, que têm que lidar com um governo inepto.
Parabéns para os médicos que salvaram Bolsonaro. Não sei se as urnas farão o mesmo.