QUANTO VALE?
“Todo homem tem seu preço” – Quanta novidade? Uns valem mais; outros, menos” – Quanto?
“Sou apenas um número naquela escola, passando por aquela catraca” – menina, cara cheia de espinhas, indignada.
“Entrei para as estatísticas, passei para a classe C” – novo consumidor abestalhado com o próprio sucesso, notificado pelo SERASA, pendurado no cartão de crédito. Nem percebe a manipulação dos números.
“Minha empresa está entre as dez mais produtivas do país” – cretino anunciante da cretina revista paga para vender mentiras palpáveis.
“Sou apenas mais um na multidão” – filósofo de botequim depressivo, libertando o animal num poema idiota sobre a multidão ansiosa por alguma coisa. Coisa que ela sequer imagina o que possa ser.
“Não sou só mais um artista no meio dessa mediocridade toda, meu talento é inquestionável” – pseudo-gênio vangloriando-se da sua pseudo-genialidade para a plateia de pseudo-intelectuais, que não viram o que não viram.
“Sou bem mais que um mero professorzinho, sou o professor, tá entendendo? O professor.” – arrogante aborto da cultura de almanaque, que não sabe que não sabe.
“Não aceito. Não são só dois milhões que vão me comprar” – honorável e incorruptível causídico cogitando perder a causa ganha, para favorecer um honrável e incorruptível amigo.
Número no talão de cheques. Número no cartão de crédito. Número no código de barras. Número da casa na rua. Número na chamada. Números… Números… Números… Números… Números … Números… Números… Números… Números… Números…
Calculo, conto, contabilizo, suborno, compro, vendo, pago, recebo. Tudo são números. Tudo são compras. Tudo são vendas.
Dinheiro…Dinheiro… Dinheiro… Dinheiro… Dinheiro… Dinheiro… Dinheiro… Dinheiro… Dinheiro… Dinheiro… Dinheiro…
Contabilizamos a nossa vida em número de dias, meses, anos, décadas, séculos… números definem nossos rituais de passagem…
Contabilizamos dívidas, lucros, candidatos, votos, eleições, juros, torcedores, cidadãos, classes sociais, pressão arterial, salário.
Somos cálculo… cálculo… cálculo…cálculo…cálculo…cálculo…cálculo…cálculo…cálculo…cálculo…cálculo…cálculo…cálculo…
Ironias da vida:
Balanço = número (antigo brinquedinho)
Banco = número (antigo assento)
Caixa = número (antigo receptáculo)
Caixa = número (antigo manipulador do dinheiro dos outros para os outros)
Capital = número (antiga cidade onde se concentrava a administração de um país)
Capital = número (antigo dinheiro)
Poupança = número (antiga gíria para definir bunda)
Seguro = número (antiga pessoa cheia de certezas)
Cliente = trouxa = panaca = idiota = correntista (eufemismo – atual investidor)
Há homens, que têm valor.