A CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA
(O BOCA DO INFERNO – Hoje – um dia pra se lembrar – 08/07/2017)
Que me perdoe Garcia Marques, mas o título é propício para o momento. Não sou um oportunista. Escrevo sobre esse desastre há tempos. Não aconteceu a “pane” da seleção do Galvão, muito menos a que tenta vender como verdade única a todos. Ronalducho disse que estava com vergonha. Tenho vergonha dele há tempos. Neymar viu, apesar de rico, que um país se faz com hospitais, sim.
O Brasil não joga futebol há muito tempo. Em excursão pela Europa perdemos, perdemos, perdemos e não aprendemos. A vitória na Copa das Confederações contra uma Espanha que jogou “sex-pôquer”, no dia anterior ao jogo, enganou. A pátria de chuteiras caminhava em direção ao hexa, a cegueira a levou a bater com a cara na Alemanha.
Pensem: O campeonato brasileiro é um fracasso de público e organização. Estádios caindo aos pedaços, brigas, clubes falidos, audiência em queda livre, garotos saindo do país aos montes. Os clubes viraram reféns de empresários e seus negócios milionários. A copa curaria essa escravidão moderna?
Garotos fortes, de cintura dura, são transferidos, aos montes, para a Europa e, logo de cara, adotam dupla cidadania. Diego Costa fez o que muitos fazem e farão… Quem o vaiou deveria ser vaiado. Observem o futsal: a Rússia é o Brasil B, a Espanha é o Brasil C. No basquete, quem saiu, não quer voltar, tal a bagunça, que aqui impera. No vôlei, ocorre o mesmo. Clubes falem um atrás do outro. Atletas vão para o exterior em busca de emprego. Não há estrutura. Vamos torcer por gente sem a mínima identificação com o nosso país. Alguns nunca jogaram aqui. Nem querem.
Observem o trabalho feito na Alemanha, Espanha e outros países europeus, além da organização e estrutura? Garotos daqui AGORA torcem para o Bayern de Munique, Barcelona, Real Madrid… Que Flamengo, Corinthians, Palmeiras, Botafogo…! que nada!… O negócio é assistir à Champions Ligue, à Eurocopa.
O desastre não é o de agora, é o que começará na próxima semana: o campeonato brasileiro. O “apagão” existe mesmo, o de quem não quer ver. A seleção conjunta do Felipão, que empurrou o Palmeiras para segunda divisão, e do Parreira, que se satisfaz quando ganha de meio a zero possui, jogadores que têm de ser apresentados uns aos outros no vestiário. Conseguiríamos formar uma seleção formada com jogadores que jogam apenas no Brasil?
Quando foi que essa seleção jogou bem a Copa do Mundo deles no Brasil? Já deveria ter saído se o juiz não nos ajudasse no primeiro jogo, com um pênalti não existente e a não expulsão de Neymar, por uma cotovelada dada num croata. Aliás, esse garoto não nasceu virado para a estrela, mas com a estrela “dentro”. Está sempre na hora certa, no lugar certo.
Primeiro, virou o Salvador da Pátria de chuteiras, de uma seleção “medíocre”. Segundo: puseram nas costas dele a responsabilidade de ganhar a copa: “herói”. Terceiro: por causa disso, queria a bola só para ele, batia faltas, escanteios: “ele é o cara” – diz o narrador Louro José. Quarto: o time era dele, jogava pra ele: “era dele”. Quinto: fez quatro gols: “ele é o cara” do Ronalducho. Sexto: é absurdo, mas deu a sorte de, contundido, escapar do vexame no jogo contra a Alemanha. Sexto: sua supervalorização desvalorizou os outros 23 jogadores: quer dizer que ele jogava sozinho? Vão dizer que o Brasil só perdeu, porque ele não estava em campo: “sortudo”.
O caudilhismo latino americano contaminou o futebol. A Argentina depende de Messi. Como o Brasil, não passa de um bando correndo atrás da bola. A Alemanha depende do seu conjunto, de uma tática bem elaborada, por um técnico estudioso que muda de acordo com o adversário, mas não abandona o seu sistema de jogo. Marcar a quem?
Nossos governantes, pra comprar uma copa, venderam a sala, a cozinha e, principalmente o banheiro. Os alemães só fizeram a parte deles. Foi uma catarse? Foi. Agora virá outra, depois que eles forem embora com a taça. Preparem o remédio contra as hemorroidas. O buraco é mais embaixo.