DICIONÁRIO DA COPA. NÃO SE ESQUEÇA DE ESQUECER
(O BOCA DO INFERNO – 14/06/14)
MANTRA: conjunto de frases e ideias que se diz automaticamente. Por exemplo: “Euuuuuu… sou brasillleeiiiroooÔÔ!!!! Com muito orgulhoooo, com muito amôôôÔÔÔ.” Você já viu algum grupo cantar isso, em uníssono, durante uma eleição? Ninguém canta isso, batendo no peito, a não ser em estádio de futebol.
FUTEBOL: A droga da “pátria de chuteiras”. Em 1970, foi usado para caçar “terroristas” e ocultar os crimes da ditadura. Em 2014, é usado pelos “ex-terroristas” para ocultar os seus crimes e caçar os da ditadura.
SELEÇÃO: um bando de jovens de classe social menos abastada, que se abastou com os dólares dos clubes milionários do exterior. Os clubes brasileiros famélicos pagam mal e em real. Todo Jogador topa “obedecer” cegamente o professor, para garantir contratos milionários e, se der, jogar para a platéia, sem ralar a canela. Jura lealdade até o professor se esborrachar na defesa adversária e perder o jogo.
FULECO: fuleiro mascote da copa. Deveria ser um tatu bola. Animal em extinção. O animal do Jérôme, daqueles que estão chegando à superpolução, tal a quantidade de processos, ignorou-o. Os traficantes cariocas, negociantes mais afeitos às mazelas do Brasil que a FIFA, criaram o “fumeco”: a pacotilha com “algumas gramas” para estrangeiro.
COPA DO MUNDO: uma forma indecente de fazer uma festa a fantasia na casa da noiva, convidar o pai da noiva para pagar o banquete, encostar o caminhão nos fundos da casa para levar os doces e os presentes, durante a festa, para ninguém perceber. O apalermado debaixo da fantasia de bobo da corte, convidado na sua própria festa, fica com a conta no bolso e os enfeites nas mãos. Só isso.
ARENA: local onde 22 homo sapiens reproduzem a Guerra de Tróia: a batalha pela fama e pela glória. Ao invés de os contendores enfiarem uma lança um no bucho do outro, enfiam as travas das chuteiras nas canelas uns dos outros. Futebol moderno: 1×0 é goleada.
ESTÁDIOS: antigos locais onde se jogava o ludopedio no Brasil. “A bola era de ouro, que vem da vaca, que come grama, então ela rolava de pé em pé na grama sem esse tal de jogo aéreo. Onde surgia o craque e não o crack. O craque era um filé de borboleta, jogava descalço, usava uma arma mortal, o “olé”. Tinha ginga, malemolência. Não era esses brutamontes de cintura dura. Que chutam para onde o nariz está virado. Ou chutam a mãe.
ABERTURA: coisa mal ajambrada, feita por uma estrangeira contratada para mostrar o que há de mais mambembe no Brasil, que deu início à Copa do mundo deles, o mundo, onde come solta a agiotagem federal, estadual e municipal. O vereador, o prefeito, o deputado estadual, o federal, o senador, o presidente emprestam descaradamente o dinheiro que eu, você, nós lhes pagamos, na forma de impostos, a duras penas, à iniciativa privada a fundo perdido. Nem seus filhos, nem seus netos, nem seus bisnetos, nem seus tataranetos, nem os deles jamais verão a cor desse dinheiro, só a inflação.
HINO: aquela música do Romantismo, com letra ao gosto Parnasiano, cujo vocabulário e a sintaxe ninguém entende, muito menos as metáforas, mas que dá pra cantar, como papagaio, tal qual catamos músicas em americanês, sem a mínima ideia de que sentido tenham.
TORCIDA: depende do ângulo que a gente vê gente. Por exemplo: nas arquibancadas, chame aquela gente apinhada de contorcida; nos camarotes, chame aquela gente escarrapachada de nova rica; na beira do campo, nas catracas, toda aquela gente que trabalha de graça portando crachás, chame de volunotários; nas tribuna azuis, aquela gente engravatada e toda maquiada, chame de aproveitadores ou usurpadores ou correligionários (dependendo de sua orientação ou desorientação política).
FELIPÃO: o escalador. O que acha que manda. Conhecido popularmente como vidraça, pau mandado. Serve pra levar pedradas: “Eta, empreguinho desgraçado”. Pode ser conhecido como chamada telefônica, também serve para desviar a atenção. Fala, fala, para não dizer nada.
PARREIRA: o atravessador. O famoso leva e traz. Transita entre o escalador e o imperador. Não à toa minha, sua, nossa magestade tende pelo nome de Marco Polo Del Nero que manda, sem aparecer, mas, na verdade, desempenha o papel de escudo ou capacho, dependendo da acusação. Não se furta de deitar cada vez que alguém quiser limpar os pés nele, desde que lhe paguem bem pelo ato.
BLATTER: o capo. Pelo amor de deus, capo aqui nada tem a ver com o órgão sexual, mas à Cosanostra, quer dizer Cosadeles. Esse é o que manda. O que faz de um governo o seu refém, afinal estabelece padrões para serem seguidos. Ninguém o detém. Tem as mãos grandes, carrega gente com pouco ou muito poder.
DILMA: mártir oficial. A vaia da elite, primeiro, a corou, depois a coroou. Ela agora é vítima de ser o que é. A mesma classe média dos camarotes que a colocou na presidência e não foi agraciada com o toma lá, dá cá, nem com um discurso cheio de promessas aduladoras, não se conformou. Sem dinheiro para trocar de carro todo ano ou ir para a Disney todo mês a vaiou.
VAIA: som que imita mugido. Humilha um artista, mas só quando ele não tem a cara de pau de alguém que resolveu entrar para a política.
NEYMAR: o salvador da pátria de chuteiras. A esperança em forma de cacatua de aspecto subnutrida. A cara do brasileiro franzino, nascido na periferia, exemplo para qualquer moleque que pretende usar a bola para subir na vida. A “vítima” dos coturnos dos zagueiros pilastras de mármore, altos como o colosso de Rodes. Ele vai nos redimir, ganhará a taça para nós. Vamos entrar para o primeiro mundo de vez. Mas, a maioria dos jogadores da periferia não vai ter nem o que comer.
LUIZ GUSTAVO: operário. Melhor jogador em campo. Corre de um lado pra outro. Dá carrinho. Briga com o adversário para que o salvador da pátria possa brilhar. Luiz Gustavo sofre de uma teoria sociológica: “a invisibilidade social”. Limpa a merda, recolhe o lixo. Todo crítico olha para o Cruzeiro do Sul, ninguém o vê. Se o vê, não o reconhece.
COADJUVANTES: o resto do time do Felipão, o mesmo que empurrou o Palmeiras para a segunda divisão, que só é chamado para dar entrevista para se justificar e municiar a imprensa sempre com as mesmas declarações para as mesmas perguntas imbecis. E também os motivos pelos quais o ator principal não brilhou.
TÁTICA: aquela aula chata que o professor rabisca na lousa, todo mundo finge prestar atenção. Logo depois esquece, ninguém segue, quando chega ao pátio.