VERGONHA DE UM PAÍS SEM VERGONHA?
(O BOCA DO INFERNO – 17/5/14)
Assisto a cada dia mais e mais manifestações contra os gastos do governo com a Copa do Mundo, também às sucessivas quebradeiras. Além de pagarmos, sem a mínima vontade, mas obrigados, a eleição da Dilma, já estamos pagando a destruição do patrimônio público. Quanta inteligência! Isto fora o rombo da Petrobrás, da Eletrobrás e de todos os Brás que aparecem nos nossos impostos, porém nem queremos saber.
Os europeus, cansados de conhecer nossa burrice crônica e o nosso complexo de inferioridade, nem quiseram saber das Olimpíadas, plantaram o abacaxi aqui. Salivaram, pois viriam mais uma vez roubar, agora montados em aviões, o nosso ouro e também usufruir das nossas putas. Para eles, continuamos a ser um bando de botocudos. Blatter (que significa bexiga, o órgão, segundo meu amigo Rodrigo) e seu assecla, Walcke, sinônimos de idoneidade moral, nós tratam assim.
Como estamos sempre enfiados nos últimos lugares do PISA (Programa internacional de avaliação de Alunos), sabem da nossa indolência e incompetência para com os estudos. Olhamos se temos como pagar as prestações das quinquilharias, com as quais nos empanturram, mas não entendemos nada sobre juros, nem nos preocupamos com o valor final. Reclamamos da falta de escolas, porém, quando as construímos, sequer passamos perto delas (vide o nosso ex-presidente e garoto propaganda). Escolas, hospitais, desenvolvimento, pra quê? Que comam a merda que, generosamente, lhes damos, pensam os reis.
A mim me parecem despropositadas nesse momento essas manifestações. Onde estavam esses manifestantes quando Lula ofereceu nosso ânus como prêmio naquele clip, sem vergonha, que reforçava todos os estereótipos impingidos a nós a partir dos dizeres daquela maldita carta de Caminha? Os lobos salivaram diante da possibilidade de roubarem “mais uma vez” o nosso ouro e usufruírem das nossas putas. Somos um país sem vergonha, com mania de grandeza. Até hoje andamos pelados.
Naquele momento, emocionados, todos provavelmente pulávamos, como nas vitórias de Aírton Senna, quando, iludidos por um esquema muito bem armado, para atrair incautos, nos venderam, tal como agora, a história torta de que entramos no mundo “civilizado?” pela porta da frente.
Será que ninguém teve o mínimo bom senso de pegar uma calculadora e pensar que o pai da noiva dá a festa, mas toda festa tem um custo, fora a esperteza do Buffet? E do convidado que sorrateiramente leva escondido na bolsa o bem casado? Num mundo em crise, a balela do país atrativo para investimentos de toda ordem, colocou. Compramos a ideia, agora estamos “pelados, pelados, nus com a mão no bolso…uh!uh!uh!”.
“Ah! ” Esse Brasil, brasileiro”, “do mulato inzoneiro/ vou cantar-te nos meus versos!”. Observe como nos vendemos? Que esperteza! Até agora os curinthianos creem que o Itaquerão é deles! Se até o Lula pulou fora, alguma coisa está muito, mas muito, errada. Observem: os ingleses construíram toda a estrutura da Olimpíada de Londres, com menos do que o preço de um estádio no Brasil. Mas, eles sabem fazer contas, não fugiram da escola, sabem como os juros destroem uma economia, uma nação.
Esse é o país que faz questão de não ver o óbvio: “Ah! Esse coqueiro que dá coco…”. Por que as obras das Olimpíadas estão atrasadas? Porque, quando há regime de urgência, para uma obra relevante, não há concorrência e os apaniguados põem no negócio o preço que quiserem. Por isso, nos deixam apavorados com o papo furado de que levariam as Olimpíadas para Londres. Pura conversa de salão de beleza.
Vendem-nos o óbvio, mas encaramos como obra prima, maravilha das maravilhas, nem lembramos dos que morreram no Itaquerão, até que caimos da cama para descobrirmos que o filme , “O Náufrago”, ganhou o Oscar, mas não há naufrágio nele. Parece gozação, mas não é: O Brasil sediará as Olimpíadas e vai nos levar aos píncaros do abismo.
Não tenho vergonha dos estádios inacabados, da falta de estrutura dos entornos. Todo mundo sabe que fazemos as coisas sem planejamento, que aqui é uma bagunça. Que a copa seria assim. Este é uma país sem vergonha. Os europeus vieram para cá por causa disso. Assaltam e fogem, porque sabem onde está o cofre e quem toma conta, quem é subornável, mas sabem também que ele não tem vergonha de posar de estadista, mesmo com a bunda de fora.