Arriscar e riscar
Dizem que a primeira frase de um texto é sempre a mais difícil. E embora ela já tenha ficado para trás, continuo com a sensação de que as próximas frases serão igualmente difíceis, pois o assunto que tratarei aqui é muito delicado e de certa forma assustador para inúmeros alunos: escrever.
As pessoas, comumente, pensam que para escrever bem é preciso sentar na carteira ou deitar no sofá e ficar olhando para aquele pedaço de papel branco, ou para o teto, igualmente branco e irritante e esperar a inspiração divina. De vez em quando, arriscar escrever uma palavra que, inevitavelmente, parecerá ridícula, mas que só será riscada após muitos minutos de contemplação e dúvida.
Diante do papel branco, ainda que com palavras nele escritas, o sentimento de incapacidade e frustração vem à tona e o mito de que para escrever bem é preciso ter inspiração nunca parecerá tão real e verdadeiro e, obviamente: inalcançável.
Menciono a inspiração porque muitos alunos são acreditam que eles, conscientemente, são incapazes de escrever bons textos. Contudo, é no mínimo ingênuo pensar dessa maneira, visto que bons textos são feitos por aqueles que conscientemente buscam a melhor forma de dizer algo, por aqueles que se importam em responder aos discursos, por aqueles que sentem a necessidade de confrontar quando todos querem que algo se silencie.
Bons textos, definitivamente, não surgem de inspiração, mas de um trabalho que não sufoca a curiosidade e a capacidade responsiva dos estudantes, um trabalho em que as ferramentas usadas são argumentos, palavras, técnicas. Sim, escrever é realmente assustador, mas só para quem o branco não é apenas do papel e sim o da mente.
Rubia Alves