Sorria: tem alguém gozando da sua cara

Haveria um louco se pendurando na altura de postes com uma câmera na mão, em plena luz do dia, filmando decotes de jovens e “cenas” de namoro na praça, ou seriam apenas os guardas de segurança monitorando as partes íntimas das mulheres? Nada ainda foi comprovado, embora o secretário municipal de Segurança de Araraquara tenha preferido afastar-se de seu cargo um dia após ser divulgado o vídeo mostrando o olhar de guardas civismunicipais que dão “aquela espiadinha”, de algumas horas, com close, nas partes íntimas de mulheres…

As câmeras de monitoramento se tornaram, há um bom tempo, não uma opção, mas um fato concreto do nosso cotidiano; temos a crença moderna de que a tecnologia será capaz de garantir a segurança e não nos importamos em sermos vigiados o tempo todo em shoppings, ruas, praças, supermercados… afinal de contas, isso é para a nossa proteção e já estamos acostumados. No entanto, quando mais um escândalo envolvendo a “necessidade” de câmeras vem à tona, e vídeos são gravados com o dinheiro público para, além de não ajudar a identificar algum possível ato ilícito, expõe as pessoas; é preciso re-pensar essa necessidade.

Quando alguém convence você de que as câmeras de vigilância irão de fato proteger as pessoas, esse alguém só pode estar gozando da sua cara; afinal de contas, construir ambientes seguros vai além do investimento em tecnologia, é preciso investir em “conhecimento, proximidade, relacionamento”, como afirma Francisco Klause, especialista em câmeras de vigilância. Há uma indústria altamente lucrativa que vem sendo construída em alicerces do medo e da insegurança, mas como é possível se sentir mais seguro com algo que é monitorado por pessoas cuja envergadura moral é questionável? Por pessoas machistas? Por pessoas abusivas? Por pessoas que veem você e você não pode ver?

Rubia Alves

 quarta-feira, 19 de março de 2014