A Hora e a vez do vestibulando desesperado

(Prof.: Luiz Cláudio Jubilato – Às vésperas da Fuvest e Unicamp)

Então, fessô. Só vim aqui pra batê um papo contigo: Tô mal, fessôl!
– O que está acontecendo?
– Não consigo estudar, não consigo dormir, não me aguento mais, tô de saco lotado…
– Finalmente, essa merda de vestibular chegou, né?
– Mas, eu não esperava ficá desse jeito!
– Antes era treino, agora é jogo. Quem quer ganhar, tem de domar os nervos, jogar o jogo.
– E o que eu faço??? Tem alguma fórmula mágica para isso?
– A primeira é parar de fugir. O medo de não passar está apavorando tanto, que não pensa na possibilidade de passar. Não está perdendo a vaga para o concorrente, mas para você mesmo.
– Mas, eu só penso nisso! E, se eu não passar? Mais um ano de cursinho? Não vou aguentar.
– E se você passar?
– Aí vai sê ótimo, né? Raspo tudo quanto é pelo do corpo. Até lá…
– Com esse medo doido de não passar, você está estragando um ano de estudo. Pare e pense: se não dá para abrir uma apostila, assista a um filme. Se não dá para ver um filme, navegue na internet e busque assuntos que lhe interessam, de preferência, temas atuais.
– Isso não é estudar…
– E o que é estudar? Abrir uma apostila e ficar olhando para ela enquanto ela olha para você: “Decifra-me ou te devoro”? Você abre a apostila e fica pensado na vida. Adianta alguma coisa? Você se tortura pensando em duzentas e trinta e cinco maneiras de não ser aprovado? Que é isso, masoquismo? O vestibular mudou; você não. Isso é estudar sim. O vestibular está repleto de questões de atualidade, de intertextualidade, de interdisciplinaridade. Acorde!
– Dá um tempo, fessô!!! Eu não consegui nem estudá a matéria toda…
– E você acha que alguém conseguiu? Este é o ano montanha russa. Ninguém fica em cima o tempo todo. Todo mundo oscila.
– Ah! Tem nego que é fera, fessô. Estudou tudo e ainda tá revisando…
– É mesmo? Você viu isso ou ouviu falar?
– Ah! ninguém abre o jogo, né? A gente vê, calcula pelo desempenho do cara.
– Muita gente gosta de fazer pressão. Nem as escolas conseguiram cumprir toda programação até agora. Só se essa fera, como você diz, estuda por conta própria. É um superaluno.
– Ah! não sei mais de nada.
– Sabe sim. Você está já arrumando um monte de desculpas, porque acredita que não vai passar. Já está deixando todo mundo prevenido pra não cobrarem nada de você. Vestibular exige maturidade, preparação adequada. É um jogo físico e psicológico. Há muita gente, que você jura que vai passar. E não vai. Não se preparou psicologicamente. Engoliu apenas as apostilas.
– Mas, eu me preparei, fessô!!! 
– Então você está fazendo tudo errado. Agora, não é a hora adequada para se cobrar pelo que não fez. Concentre-se no que fez.
– Como assim?
– Aposte numa estratégia. É preciso saber a matéria, mas também é muito importante saber fazer a prova. Existem testes que você resolverá por eliminação. Há outros em que as opções podem lhe direcionar para a leitura correta do enunciado. Muitas vezes, uma palavra no enunciado ajuda a resolver a questão.
– Eu não tenho mais paciência para pensar nisso.
– É mesmo?
– É.
– Então me responda: Você gostaria de passar por tudo isso de novo no ano que vem?
– Nem pensar…
– Então, meu amigo, junte o resto de paciência que lhe sobrou e enfie a cara no que puder. Se você fizer alguma coisa, tem alguma chance. Se não fizer nada, não tem chance nenhuma. Faça o mínimo, mas faça.
– E eu começo por onde?
– Por colocar uma camiseta, um short e um tênis e dar uma caminhada de, pelo menos, 30 minutos. Saia. Encontre os amigos. Chore, se for o caso. Esmurre o travesseiro. Gaste essa energia represada. Abrace as pessoas importantes. Beije. Peça colo à mamãe. Não sai “pra tomar umazinha”. Ninguém toma “umazinha”. Um porre agora seria um desastre.
– Eu não tenho tempo para caminhar, beijar, encontrar amigo.
– É melhor arrumar. Você virou vestibulando urso: gordo, branco e peludo. Saia dessa.. Por quê?
– Porque um organismo sadio, desestressado, rende muito mais depois de um bom banho, um bom sono e a aproximação com as pessoas.
– E depois?
– Se nada disso der certo. Ainda perdurar o sentimento de culpa, convide amigos para estudar em grupo. Uma mão lava a outra. Agora, por favor, nada remédio para ‘TURBINAR” a mente. Isso é absurdo e as consequências podem ser desastrosas.
– Vou tentar, fessô!
– Tentar só não basta. Evite as pessoas derrotistas. Se começar a ter pensamentos ruins, procure fazer alguma coisa que lhe dê prazer. Se nada disso der certo, um psicólogo, uma sessão de acupuntura, massagem e aula de alongamento são alternativas. Qualquer uma dessas terapias ajuda , emuito. Ocupe-se. Diziam os antigos que cabeça vazia é oficina do diabo.
– Obrigado, fessô.
– Me agradeça passando no vestibular. Lembre-se: “desespero, não”.
– Valeu.

 sexta-feira, 21 de novembro de 2014