MINHA DECLARAÇÃO

(O BOCA DO INFERNO – HOJE. AMANHÃ NÃO SEI MAIS)

Declaro, para os devidos fins, que não venho aqui falar de política, mas dos "blitzkgier" (ataques rápidos de surpresa). Os americanos e, principalmente, os alemães "deitaram e rolaram", durante a II Grande Guerra Mundial, usando e abusando, desse expediente. A intenção era pegar o "inimigo com as calças arriadas", de preferência sentados na privada, para evitar reações rápidas. Na propaganda eleitoral, esse expediente não tem como ser usado, pois a merda aparece, como num passe de mágica, jogada por um postulante a um cargo na fuça dos papa urnas, obrigados a sufragar. E todos estão com as calças arriadas ou saias levantadas prontos para colher o material bélico.

Declaro, para os devidos fins, que não pretendo falar de politicagem, mas de renda, lógico que não de calcinhas e sutiãs e sim de bufunfa, grana, cascalho. Perdoem-me a piada infame, não resisti. Quero falar daquele formulário que, em tempos de internet, o governo nos obriga, todo ano, a preencher. E ai de você se cometer algum erro (desculpe a piada infame novamente, mas também não resisti) virará piolho. Passará, querendo ou não, por um pente fino. Achado qualquer sinal de uma lêndea, vem a multa. A receita, que ironia, é enfiar a mão no seu bolso.

Declaro, para os devidos fins, que não nasci num circo, não tenho as habilidades de um domador, portanto não deveria, contudo estou sujeito à mordida do leão. Não só os dentes, mas também as garras são afiadas. Estão sempre disfarçadas de fiscais, aqueles com cara de fuinha e bafo de cobrador. Não conheço, porém me dizem, sem constrangimento algum, que tudo o que escapa das mãos da fiscalização acaba na conta da viúva. Viuvinha gastadeira essa, hein! Também, com essa mania de passear e se esconder em algumas dessas paradisíacas do Pacífico…

Declaro, para os devidos fins, que, de uma hora para outra, sem ganhar qualquer um desses fajutos prêmios, de uma dessas fajutas loterias, descobri algo absurdo que mereceria uma investigação apurada. Merece ser contado. Não é fofoca, veja bem! O porteiro do meu prédio, falemos baixo, é milionário. Ele tem, pasmem, uma bicicleta, uma casa própria, geladeira, televisão, enfim é uma espécie de Eike Batista das portarias. Fatura uma grana preta, já que trabalha em dois prédios diferentes: um de noite e no outro de manhã. Contra todas as leis, que regem a CLT, acumula cargos. Nas horas vagas, faz papel de zelador. Absurdo. O safado, pelo menos, não recebe bolsa família. Deve ter deixado para a pobre mocinha da SUV do primeiro andar. A classe média está pobre. O bolsa família dela não dá nem para encher o tanque do carro durante a semana! Engana as autoridades, o safado. E ainda tem a cara de pau de pedir aumento de salário. Ganha, pasmem, dois salários mínimos. É quer mais. Que trabalhador formado na USP, UNESP e UNICAMP ganha uma fortuna dessas?.

Declaro, para os devidos fins, que, depois de ver a declaração de renda dos nossos postulantes ao cargo mais importante da nação, fiquei com tanta pena deles que ando passando o chapéu (nasci naqueles tempos bicudos de hiper inflação que, graças a Deus, ao santo Luis Inácio e seus discípulos aloprados, não existem mais. Hoje não passam de memórias) na porta das igrejas, onde se espera que as pessoas sejam mais solidárias, para ajudá-los a pagar o aluguel de um barraco. Dou um conselho a eles, "se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia", que morem em Tabatinga. Como todas da cidades do país, há favelas. Em todas elas, há barracos para serem alugados. Se bem que o aluguel de um barraco anda pela hora da morte. Qualquer coisa, é só entrar no programa minha casa, minha vida. Eike já fez o dele, investiu lá. Tabatinga, pelo menos, fica perto de Brasília. E, qualquer trabalhador, pasmem, dá carona na sua moto ou carroça ou caminhonete para um pobre político desavisado, sem pedir uma grana pela corrida.

 segunda-feira, 29 de setembro de 2014