Análise do discurso

(O Boca do Inferno – ninguém vai ler isso)

* Conjunto de elementos de uma situação comunicativa oral: quem fala; a quem fala; o que fala; o ambiente; os argumentos e o vocabulário escolhidos; o gestual; a entonação, inclusive, a forma de olhar.

* Já escrevi sobre tema, mas sempre há novidades: Desqualificar o adversário e se autoelogiar é mais velho que “andar pra frente”. Demonizá-lo transformando qualidades em defeitos, acentuá-los e criar alguns é mais velho que o “rascunho da Bíblia”. Lula (o metalúrgico), Bolsonaro (o tiozão do churrasco) têm o discurso fácil para o povão ignaro entender. Lula (Nunca na história desse país…) e Bolsonaro (Não queremos que o Brasil se torne outra Venezuela) são adeptos dos bordões. São adeptos do messianismo: Salvadores da pátria. Querem fanatizar, manipular seus correligionários e, lógico, jogar para a plateia.

* Os esquerdopatas (apelidar é uma grande jogada) dizem que o Estado é laico, mas eu sou o presidente e eu sou evangélico: (momento Luís XIV – O Estado sou eu). Os evangélicos aplaudiram. O que é “laico” mesmo? O presidente perdeu a compostura, parecendo realmente o tiozão do churrasco: Queria o filho embaixador brasileiro em Washington, afinal ele foi chapeiro nos EUA. Atacou Leonardo de Caprio, que, supostamente, teria financiado ONGs, que queimam a Amazônia, para colocar a culpa no governo. Não daria ouvidos à pirralha Greta Thunberg, ativista que criticou o governo na Conferência sobre o Clima em Madrid. Ridicularizou um repórter, dizendo que ele tinha cara de homossexual. Disse que a mulher do presidente francês era feia. O povão reagiu indignado? Ao contrário, somos campeões em memes.

* Lula, O Filho do Brasil, é também verborrágico, sua oratória é impressionantemente convincente, já fomentou greves, fala de si na 3ª pessoa, mas também luta com a língua portuguesa. Os petistas ligam para isso? Não estão nem aí para o pugilato entre singular e plural. Atacou a imprensa, queria impor um marco regulatório. Os bolsominions (apelidar é uma grande jogada) também afirmam que ela persegue o coitado do Bolsonaro. Ouvi a frase: “Não vão deixar ele fazer nada”. Eles, quem, Cara pálida?

* A federação nacional de Jornalismo publicou um documento: A cada cinco pronunciamentos, em quatro deles o presidente ofende a imprensa. Faz comparações insistentes entre a esquerda e a direita, para se tornar paladino da direita, agora moda, Insiste em demonizar a Venezuela. Esse é o mantra que lhe deu a vitória nas eleições. Insiste em discursos homofóbicos, machistas, racistas, sexistas. Por quê? Porque a sociedade brasileira é, em grande parte, homofóbica, racista, sexista… Ninguém precisa ser gênio para saber que poucas pessoas leem mais de um parágrafo em um texto, seja em blogs ou posts, basta verificar o número de acessos ao Facebook, que está em decadência, porque há textos demais, em uma linguagem fora do alcance de 90% dos internautas.

* Li comentários absurdos de quem só leu a “Manchete”, não leu o texto e também o comentário do comentário. Sobre a votação da Reforma da Previdência, li o comentário de um iluminado sobre a Reforma da Previdência: “Eu não disse que gora vai aparecer um monte de gente “entendida” em Constituição?”. Quando há, são esclarecedores: “Que triste!”; “Muito triste isso!!!”; “o Brasil nunca vai mudar”; “Ninguém faz nada”; “Você é um esquerdopata nojento”; “Cala a boca bolsominion idiota”… Não é à toa que Trump e Bolsonaro ganharam as eleições, usando as “fake news” e governam pelo Twitter. Ambos vivem do absurdo: “No meu governo, o Brasil não virará uma nova Venezuela”. Com suas instituições brasileiras, ainda que capengas, o Brasil não viraria Venezuela nunca.

* O Ministro da Educação escreve errado: “imprecionante” e “paralização” foram dois casos expoentes. Algumas pessoas me perguntaram: “Mas não escreve assim? Eu jurava que era assim. Eu escrevo assim. É estupro? Eu jurava que era “estrupo”. Weintraub (Ministro Educação) trocou Kafka ou por kafta. Quase ninguém percebeu. Mas, quantos parlamentares conhecem Kafka? Publiquei um artigo sobre isso. Sofri ataques. Um: “Ele não tem o direito de Errar?”; outro: “Você nunca errou na vida?”. Pessoas públicas “jogam para a plateia”. Discursando com óculos escuros ou debaixo de um guarda-chuva, desconcertou a imprensa tanto quanto Bolsonaro andando de moto sem capacete ou usando uma camisa falsa da seleção. A rua 25 de março está lotada de gente comprando o falso conscientemente. Você acha que os estudantes vão brigar contra o “ Melhor ENEM de todos os tempos?”. A maioria espera que o outro lute, só quer passar no vestibular.

* A associação do discurso do então secretário de Cultura, Roberto Alvim com o de Joseph Goebbels foi descoberta pela advogada Manuela Lourenção. Assistiu ao vídeo em que Alvim anunciava o Prêmio Nacional das Artes. Nele parafraseia o “chefão” da Propaganda de Hitler. Ela, uma pessoa, entre milhões, descobriu. Alvim será esquecido. Perguntei a algumas pessoas quem era Hitler: disseram que era um “monstro” que matou milhões de pessoas. Goebbel, disseram, deve ser um time de futebol alemão. Amigos, que voltaram a conversar comigo depois do pleito, aplaudiram Alvim. Adorariam também ter arma cintura. São cidadãos de bem.

* Alvim (fala); pacientes (ouvem); ambiente milimetricamente montado para copiar o do alemão; trilha sonora do compositor preferido de Hitler, Richard Wagner; os argumentos parafrasearam os de Goebbels; olhar de um facista resoluto, didático. 

*​ A embaixada alemã o criticou, afinal a Alemanha vive a luta, sem tréguas, contra grupos neonazisas. Ao discursar, Alvim se esqueceu dos judeus, gente com grande poder financeiro, que perdeu milhares de descendentes na Segunda Guerra Mundial. A ferida ainda está aberta. O presidente precisa do dinheiro deles para se reeleger. Causa espécie que o chefe não saiba das tendências nazistas do subordinado a quem cobriu de elogios. 

*​ É verdade que Bolsonaro já chamou o nazismo (nacional socialismo) de socialismo (esquerda). Disse que o nazismo é de esquerda. É mole? Bush achava que Al Qaeda era uma banda de rock. Deu no que deu (a Guerra do Golfo). Ao pedir desculpas, Alvim disse que não sabia nada sobre o discurso de Goebbels, era cristão, portanto contrário a massacres. Fleury também era, deu no que deu.

 segunda-feira, 20 de janeiro de 2020