NÃO PERCO O MOMENTO PARA NÃO PERDER A PIADA

(O BOCA DO INFERNO – SEM EDUCAÇÃO)Enquanto todos discutem a extensão da prova, esperam desesperados o gabarito, para saberem se têm alguma chance de brigar por uma vaga e professores tecem loas à genialidade do tema de redação, creio que vou bater em velhas questões: “Sou totalmente contra o Exame “Nacional” do Ensino Médio desde a sua criação”.

A propaganda oficial, para angariar votos, é a de que esse “monstrengo” acabaria com o vestibular, mas, ao contrário da propaganda oficial, criou o pior vestibular do país. Quase 9 milhões de pessoas se acotovelaram na porta das escolas e faculdades, para, em dois dias, enfrentar uma maratona desumana e desigual.

Posso enfileirar alguns problemas graves e você, leitor, caso queira, pode jogar pedras em mim sem nenhum pudor:

1. Em 1998 a prova foi criada pelo PSDB, com o seguinte objetivo, tornar-se uma forma de auferir a quantas andava o ensino médio do país. Deveria eliminar o “conteudismo” e valorizar o raciocínio lógico. Um ano depois, como não houve adesão dos alunos, o governo a tornou uma porta de entrada para uma série de faculdades. O ENEM virava, a partir de então, uma prova conteudista, isto é, sem uma boa apostila e adestradores, o aluno não teria a mínima condição de disputar uma vaga numa das universidades relacionadas.

2. O PT viu, no ENEM, a oportunidade e transformou-o na maior máquina para angariar votos da história em cima de um monte de mentirasa. A prova virou a única forma de o aluno conseguir uma vaga nas universidades federais e, ainda, usufruir de financiamentos promovidos pelo governo, como: FIES, PROUNI, CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS…

3. O vazamento constante das provas tirou toda a credibilidade do ENEM. Neste ano, o INEP se apressou em divulgar o desmentido. A prova de redação, como foi espalhado aos quatro ventos, não vazou. Por via das dúvidas, divulgou o tema, como nunca fez antes.

4. Fiscais mal treinados, escolas caindo aos pedaços, sem condições de abrigar os alunos são alguns dos problemas mais leves. Compare a situação: no calor de 40 graus de Ribeirão Preto, há igualdade entre o aluno que faz a prova na escola pública (cadeiras capengas, sem ventilador) e que o aluno que faz numa escola particular (uma cadeira estofada, ar condicionado)?

5. O MEC gritou que, com uma única inscrição, daria aos pobres e aos ricos as mesmas condições de disputarem a mesma vaga nas universidades públicas. Mentira: sem uma apostila e adestradores, não é possível disputar vaga, em igualdade de condições, em nenhuma universidade. Quem mora no campo e quem mora nas grandes cidades não têm as mesmas oportunidades.

VOCÊ PERCEBEU COMO REPETI A EXPRESSÃO “IGUALDADE DE CONDIÇÕES”?

Eu poderia elencar mais umas cem críticas, mas você não acha que uma prova “Nacional”, aplicada num país de dimensões continentais, com tamanhas desigualdades sociais, econômicas e educacionais é uma piada?

Não tem como dar certo. A universidade continua sendo um terreno reservado aos ricos. A maior piada é presenciarmos um escândalo por ano e ainda fazer de conta que nada de grave está acontecendo.

 sábado, 15 de novembro de 2014