TRAGÉDIA SUBURBANA

(LUIZ CLÁUDIO JUBILATO – 25/07/2014)

 

AMBÍGUA, E SÓ…

(memória rememorada)

 

Vim aqui talvez para encontrar alguma coisa especial

Remexendo o lixo.

As folhas em branco, onde rabisquei qualquer coisa

cheia de erros de Português.

E só…

Não sei nem o que pode ser nesta casa velha

Ah, sim! Vejo crianças. Elas choramingam. E muito…

Faz frio. A luz apagou. Os fantasmas acordaram

arrastam qualquer coisa nos meus ouvidos. São velhas carcaças

Havia um oceano entre nós. Agora nem uma pia sequer

O velho capitão escanhoado, o lobo do mar da noite de chuva molha bobo

Cambaleia entre o aqui, o lá, o acolá… Não anda, cambaleia

Não traz espada nem comida dó uma garrafa e bafo de pinga

Lobos do mar não amamentam e não gostam de revistas

principalmente de revistas em quadrinhos.

Há vilões e assombrações dentro delas. Heróis são idiotas em seu ilusório poder

A matrona entrou correndo pela boca da porta cheia de vilania

boca escancarada, só gengiva. Descascada cariada

Os cupins corroeram os dentes dela… os peitos dela também

Bactérias são assim, destroem portas e peitos

constroem cáries, abrem frestas

Mastigado pelos dias o maciço vira polvilho, o polvilho vira pó

Ainda construirei cáries nos dedos do velho lobo

ele tinha de nos salvar da escuridão. Do medo. Do vilão. Dos que virão

Ainda criarei cáries no cérebro do escrivinhador, do desenhador, do contador

dessa história de mim, de quem me fez isso.

De quem me fez me enganar. Revirar as tripas.

Depois de tanto tempo me angustiar

As crianças continuam choramingando. Fungam. Cãozinhos. E só…

O velho lobo não as afaga. A matrona também não. É tarde da noite. E só…

Acendeu a luz. Agora já não é mais o Barba Negra, o pirata. Virou super-homem

Homens? super-homens não amamentam vilõezinhos  catarrentos chorões

O ex-herói fala pastoso. É brigão. Arranca seu pênis murcho pra matrona berrenta

É preciso prender o doutor X. Não é assim? Não sucumbir mais à criptonita

criptonita engarrafada provoca cáries no estômago, desarranjos intestinais

O herói não cagará desbragadamente no bandido para prendê-lo

O vilão cupim torna a diarréia ácida

tão ácida quanto a caipirinha do Tião do Bar da Esquina

provoca engulhos como a cena do streep tease da muxibenta gorda

daquela velha daquela suja boate suja do Brás que tem cheiro de bosta

Acho que um dia vou me masturbar querendo a velha Fisher

Nada me vem na cabeça de fato, só aquela foto velha da Playboy

não tenho sonhos heróicos! Eróticos! Heróiticos?!

Não sonho. Só vivo. E só…

Tenho olheiras na boca. Bile nos olhos. Não como ninguém

Tenho excreção na calça, na cara, na cabeça

Não sei se de dor de consciência – talvez só esperma. E Só…

Não fumo não bebo não vivo não jogo não bebo não vivo

Não meto não amo não vejo não beijo não escapo não amo

Quebro vidraças jogando bola – mas sem amigos nem inimigos

E Só…

As crianças choram ainda apavoradas. A luz apagou. O mundo acabou

O velho pirata não é só lembrança. Nem só o capitão gancho.

Ele está ali no outro quarto roncando ali

Não é vilão nem super-homem. Não é feliz

É um bêbado escarrapachado

Não é só lembrança. Real

Ele está só ali

A matrona olha com vilania. Ela tem o poder do sexo. E só

Ele não sabe, mas…

Está ao alcance da criptonita. Da espada. Da garrafa

Do fim.

 

 

 

 sexta-feira, 25 de julho de 2014