ANESTESIA ESPORTIVA

 

(O BOCA DO INFERNO – 14/2/2014)

Cresce cada vez mais a legião dos idiotas. Um parlamento idiota coloca um país de quatro. Copa aqui só a da cozinha do Ministério dos Esportes, que cheira mal…. muito mal. A Copa é do mundo. Não, do “nosso” mundo.

Vende-se: Casa da mãe Joana, no condomínio Brasil, com vista privilegiada para a Papuda e a rampa de descida do Congresso Nacional. Localização: América Latrina. Na rua da Corrupção, perto da praça da Enganação. Tem copa, cozinha, banheiros. Não se preocupe com a sujeira criada pelos engravatados peçonhentos. Há como remover o lixo. Convoque a empresa PROTESTOS/MANIFESTAÇÕES POPULARES LTDA. É a única que tem o poder de remover esse tipo de lixo. Não usa cacetete, nem capacete, nem “balas de borracha”.

CENA 1: Lacrimoso senhor septuagenário, conhecido nesta tribo, como “rei” do futebol, acaba de ganhar um prêmio de consolação: a Bola de Ouro, da FIFA. Deu certíssimo a pantomima criada pelo presidente Blatter, o secretário Jérôme Walcke e seus acólitos. Gargalharam. Engambelaram essa tribo de botocudos, como diria Chateaubriand. Quando o “rei” do futebol se ajoelhou, pôs sua tribo de quatro para a entrada, sem vaselina, do dominador. Dona Maria Ilídia, minha analfabeta, mas sábia avó, dizia, com seu risinho de canto de boca: “Ninguém, que quer o que é teu, dá ponto sem nó”. Joseph Blatter e Walcke puxaram os cordames, o “rei” dançou. Seu prestígio será capaz de empurrar goela abaixo desses idiotas, as negociatas do bobo da corte, o Sapo Barbudo, que se iludia como sua obsessão de dominar o mundo. Nossa festa está pronta, cantam os FIFALDINOS. A dívida, foda-se, está com eles. Então, deixemo-lo “coaxar” à vontade para ludibriar esses idiotas.

CENA 2: Com a estatura de um estadista, o “rei”, sem corar, vaticinou: “Era para a gente faturar bastante com turismo e tudo mais, mas infelizmente vem acontecendo tudo isso que nós vemos”, em referência ao atraso na construção de um país. Esquecer essas manifestações e “faturar”. Não é à toa que um súdito, Romário, “O Baixinho”, afirmou: “Calado, Pelé é um poeta”. E Pelé não se calou: “Ninguém me derruba, nasci com três corações”. Tenho ainda comigo uma ambivalência, prova da minha real condição: Sou Edson Arantes do Nascimento, para a sociedade; Pelé, para a imprensa bajuladora. Posso falar besteiras à vontade, ninguém nunca saberá qual das minhas bocas falou. Aproveitou e tascou mais uma das suas pérolas à agência Reuters: “Tínhamos a oportunidade nesses três eventos (Copa das Confederações, Copa do mundo e Olimpíadas) de o Brasil trazer e levar vantagem”. A que falou nem com o Português de preocupou.

CENA 3: Edson ou Pelé afirmou: “Trabalhei quatro anos para a Copa do mundo vir para o Brasil”. Só se foi engraxando os sapatos da aristocracia FIFALDINA ou se submetendo a tocar suas músicas para as famintas criancinhas africanas. O rei está caduco? Não, está nu. O Brasil não era candidato único? Mas, sapo barbudo, o conquistador, já não abaixara as calças antes? Quando ministro dos esportes, o rei emprestou seu nome a uma lei revolucionária que acabava com o passe do jogador, uma espécie de escravidão moderna: a Lei Pelé. Parecia, mas não é: “Acabou por ser injusta e prejudicou a galinha de ovos de ouro, ou seja, os clubes de futebol, que empregam os atletas e movimentam a economia esportiva do país”, afirmou o advogado Renato Ferraz Sampaio, especialista em direito esportivo. Quem manda agora são os ricos empresários.

CENA 4: Pelé foi o único ser vivo, segundo a lenda, que parou uma guerra, pois os soldados queriam vê-lo jogar. A lenda subiu-lhe à cabeça, acha possível parar com os protestos, não com a arte dos seus pés, mas com veemência das suas palavras. A idade avançada pode provocar senilidade, contudo não é esse o caso. Pelé, um desastre com as palavras, virou um homem assombrado pela vaidade. Acha que é um Deus.

CENA 5: Ronaldo Nazário, que se crê um “Fenômeno”, discípulo do rei, postou-se diante dos microfones. Carrega a maldição de destruir com a boca o que fez com os pés. O rotundo súdito, embaixador da Copa, soltou essa pérola: “Está se gastando dinheiro com segurança, saúde, mas sem estádio não se faz Copa. Não se faz Copa com hospital. Tenho certeza que o governo está dividindo investimentos”. Certeza? Qual? A palavra do morto que insiste em parecer vivo, Aldo Rebelo? Devemos, então, aproveitar o legado deixado pela copa. Qual? Os estádios? Deixemos de lado o legado, chamemos um delegado. Estádio vai virar escola, indústria, hospital? Alguém, por favor, me explique: de onde um país “pobre” extraí tanto dinheiro para construir esses mostrengos de concreto? Segundo Jérôme Walcke, os FIFALDINOS queriam uma Copa do Mundo no Brasil, nunca pediram 12 novos estádios no Brasil. O redondo Ronaldo esqueceu suas origens humildes. Colocou seu carimbo na roubalheira. Para reformar um Maracanã, usou-se tanto dinheiro que daria para construir cinco.

CENA 6: Não sou “curinthiano, nem “colorado”, “nem furacão”, por isso me acusariam. Seria suspeito se protestasse. Mas, se eu fosse, iria pra frente do estádio me manifestar. O governo afirmou e reafirmou que não usaria dinheiro público, porém o “empresta” a fundo perdido, para empreiteiras. Os impostos que dariam para construir a escola onde seu filho estudaria, o posto de saúde onde você se trataria, a indústria onde você trabalharia, a praça onde você e seus filhos se divertiriam… Então, não faça manifestações apenas, arranque o pedaço do estádio que lhe cabe e leve-o para casa. Dê ao seu filho. Tomara que ele sirva, pelo menos, para ele brincar.

CENA 7: O governo usou descaradamente a imagem de ícones do esporte que se deixaram usar. Romário, o Baixinho, questionou Ronauducho, o embaixador, por causa da sua conivência com a roubalheira. Aquele que se crê fenômeno, virou-lhe as costas. Talvez mais interessado em agitos na Barra da Tijuca. Você talvez não tenha entendido, mas é sócio de vários estádios e centro de treinamentos, mesmo sem jogar. E nem estamos falando ainda em Olimpíadas. Se o povo se conscientizar, não há “rei”, “fenômeno”, discurso ou polícia que, mesmo treinada para dar tiros com “balas de borracha”, capaz de aplacar a fúria e a indignação popular. A própria polícia pode nos ajudar: seus salários baixos, suas armas obsoletas, os impostos que pagará… ajudarão a manter essa corja no poder. E o dever? O dever de um ser humano é se defender e proteger os seus… E somos um país pobre, isso não vale para fazer turismo internacional. Não é assim, presidenta Dilma?

 domingo, 16 de fevereiro de 2014