ACULTURAÇÃO DOS IDIOTAS

 

(LUIZ CLÁUDIO JUBILATO –  29/1/2014)

 

Essa é mais velha que o rascunho da bíblia, mesmo assim vou contar, pois é  muito característica da nossa burrice cultural: Uma baleia encalha na praia perto de um povoado. Oportunidade de um banquete é sem igual,  contudo todo mundo ficou com medo de comer. E se aparece aquele povo maluco que briga até com navio e arpão, o tal do “greende peçe”. Se esse povo topa até ficar atrás das grades naquele tal lugar de chup-chup que aqui ninguém nem tinha visto o nome e nem sabe onde fica. Imagine o que iam fazer na quentura desse lugarzinho esquecido de deus. Os pescadores, então, tentaram empurrá-la de volta para o mar. O bicho pesado que só a peste, precisava de muito mais gente do que tinha no povoado. Não tinha como empurrar o bicho de volta pro mar.

Resolveram os homens que as mulheres e crianças, que não prestavam pra nada, iam se revezar jogando água em cima do bicho para ele não secar. Nada dava jeito. Ninguém sabia mais o que fazer. Baixou o desespero. Todo mundo coçava o cabelo, os que tinham barba e bicho de pé também, até que apareceu um sujeito de fora, vesgo, gago, manco com uma ideia salvadora: “Ocêis são muito besta. Já num feiz tudo. Nadica de nada adiantô. o bicho num morreu? Esse cheru ruim vai empestiá o povoado, aí ocêis vai vê cum quantos pus se faiz uma canoa. Não tem mais o que fazê. Comê não dá, o bicho apodreceu. Já qui num dá pra cumê, nem pra impurrá, só tem um jeito, vamo explodi a baleia”. Um olhou pro outro, o outro olhou pro um. Um balançou a cabeça como se fosse um sim, os outros “acompanhô”.

Como todo mundo concordou. Todo povo gritou: “Ideia salvadora, o ômi aqui é o salvador”. Enfiaram dinamite por todos os lados. Até nos olhos. Acenderam os pavios ao mesmo tempo, o bicho podre explodiu. Só que os pedaços caíram todos sobre o povoado. O fedor começou pequeno na noite. Com o sol, engrossou. Ninguém mais aguentou. Todo mundo queria ir embora e agora xingava o outrora salvador.

Nossa “cultura” é uma baleia encalhada. O povo, vaca de presépio, espera alguém pra salvador. O povoado, a nossa sociedade, que espera uma ideia que acabará com sua falta de imaginação. Um idiota, metido a besta, vem de fora, propõe uma novidade. É idolatrado, o mais novo ídolo, o pensador. O fedor, o deserto cultural em que estamos mergulhados. A podridão vem do mar onde estão as baleias, nossa vida de criatividade que encalha na praia. Uns tentam salvá-la, outras simplesmente lavam as mãos. O mar, tão poluído, deixa as baleias tão perdidas, que nem sua superfície se salvou.

 sexta-feira, 31 de janeiro de 2014