ENEM gerou debate na Mesa Redonda do Criar
Além de dicas de estudo passadas por representantes das principais universidades do Brasil, participantes também tiveram a oportunidade de debater sobre o Enem e ainda conhecer posição da entidade durante o evento
O Criar – Sistema de Ensino de Língua Portuguesa promoveu na última quinta-feira (10/08), a IV Mesa Redonda sobre os Vestibulares. O debate aconteceu no Centro de Convenções de Ribeirão Preto e reuniu cerca de 800 alunos.
Participaram da mesa redonda o professor Carlos Alberto dos Santos Cruz, da Faculdade de Odontologia de Araraquara, representante da Vunesp; Meiréllen S. Almeida, da coordenação da Unicamp; Maria Nice Duarte Martins, coordenadora de ingresso discente da PUC Campinas e Pietro Ciancaglini, do departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto – representando a Fuvest.
Na ocasião também foram apresentadas respostas da professora Malvina Tania Tuttman, atual presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e responsável pelo ENEM, para sanar as dúvidas dos alunos e professores do Criar sobre o exame. Malvina Tuttman enviou respostas por email endereçadas à mesa redonda. As questões foram formuladas por alunos e professores do Criar, antes do evento.
A leitura foi conduzida pelo professor de Língua Portuguesa e Redação, Luiz Cláudio Jubilato, diretor geral do Criar, que dirigiu o debate com olhar crítico sobre as questões ponderadas.
O debate foi planejado, por conta da necessidade de se apresentar respostas do Enem (Exame Nacional de Ensino Médio) aos estudantes. Grande parte deles vivencia dificuldades nas provas e também expressa curiosidades e questionamentos polêmicos sobre o exame. Confira abaixo conteúdo, na íntegra, do email respondido pela executiva do Enem.
Criar – A primeira grande preocupação do aluno é com o tempo que lhe é oferecido para fazer 90 testes, no primeiro dia, e 90 testes e uma prova de redação, no segundo. A diferença é de apenas 1h de um dia para o outro. Na avaliação do INEP, 1h é tempo suficiente para ler enunciados tão longos nas questões, pensar sobre uma coletânea, redigir o texto, passar a limpo e ainda fazer sugestões para resolver o problema? A FUVEST e a UNESP oferecem, em média, 2h para que o aluno construa o seu texto.
Malvina Tania Tuttman – Essas decisões não são tomadas aleatoriamente. A equipe do Inep responsável pela elaboração da proposta de redação é composta por pesquisadores com grande experiência na área de linguagens e, sempre que necessário, são realizadas consultas a especialistas com expertise na área de avaliação. Com base nessas consultas, a informação de que dispomos é de que uma hora é suficiente para que uma pessoa com ensino médio construa um texto com as especificações de uma redação do Enem.
Criar – A segunda grande preocupação é com a forma como as redações são corrigidas. Muitos alunos recorreram por não concordarem com a sua nota e tiveram a nota majorada. A quantidade de candidatos no Enem, o curto espaço de tempo para a correção, não colocam em xeque todo o sistema de correção, já que seria quase impossível afinar a correção de uma banca tão grande e de lugares tão distantes?
Malvina Tania Tuttman – A correção da redação do Enem é feita por dois corretores, sendo que um não tem acesso nem à correção nem à nota atribuída pelo outro. Havendo uma diferença de 300 pontos ou mais (em mil) entre uma nota e outra, essa redação é automaticamente enviada para um terceiro corretor. Esse terceiro corretor é professor com larga experiência na área de linguagens e na maioria das vezes com titulação de doutorado ou mestrado. A correção é distribuída por núcleos de coordenações regionais envolvendo vários professores e universidades, o que garante a correção no tempo previsto.
A informação de que alunos recorreram e tiveram a nota majorada não procede, visto que o Enem oferece recurso de ofício (ou seja, essa correção por dois corretores e um terceiro em caso de diferença de nota) e a divulgação da nota ocorre apenas após encerrado esse processo.
Criar – O discurso inicial da primeira prova do Enem, em 1999, é que seria privilegiado o raciocínio lógico e não o conteudismo. Já, na segunda prova, verificamos que não se deu sequência a essa fórmula. Com o novo Enem, ficamos cada vez mais próximos das provas dos vestibulares mais tradicionais do Brasil. Se o Enem foi criado, para que o aluno de escola pública possa galgar uma faculdade pública e disputar a vaga em igualdade de condições com o da escola particular, o novo Enem não está se distanciando cada vez mais disso?
Malvina Tania Tuttman – Absolutamente. A prova do Enem não é conteudista. É uma prova que privilegia o raciocínio. É claro que se espera que o participante demonstre ter as competências e habilidades adequadas a essa etapa de ensino. Mas não se espera a mera decoração de conteúdos. Por exemplo: em questões em que seja necessária a aplicação de uma fórmula, essa fórmula é oferecida no próprio enunciado da questão.
Criar – A proposta inicial era a de que o Enem acabaria com o vestibular tradicional, afinal, com uma inscrição, pode-se tentar uma vaga em mais de uma faculdade pública. Grande parte das escolas e cursinhos já abriu turmas específicas para a prova do Enem. Apesar de a propaganda falar o contrário, ele não está, na prática, se transformando em vestibular único?
Malvina Tania Tuttman – O ideal é que não seja necessária nenhuma seleção para que qualquer brasileiro que deseje frequentar um curso superior possa fazê-lo. Só há processo de seleção por não haver vaga suficiente para toda a demanda existente. Nosso sonho é que deixe de existir esse funil. Que a educação superior seja uma etapa disponível após a conclusão do ensino médio a todos que se interessarem.
Mas o Enem é um democratizador desse acesso. Em primeiro lugar, por suas características pedagógicas, justamente por ser uma prova que privilegia o raciocínio e não a decoreba. Em segundo lugar, pelas facilidades materiais: estão isentos de taxa os alunos concluintes do Ensino Médio de escolas públicas e os demais interessados carentes. Além disso, a taxa de inscrição para os demais é de R$ 35,00 – bem menos que a metade do que se cobra em um vestibular. E o Enem abre possibilidade para o estudante pleitear uma vaga em diversas universidades do país. Só pessoas com abundância de recursos podiam concorrer em diversas instituições, de cidades e mesmo estados distintos. O Enem possibilita que, com um único exame, o estudante concorra a vaga em diversas instituições.
Criar – Apesar de gastar mais com as inscrições, o aluno tinha muito mais opções, quando as universidades federais faziam suas próprias provas. Além disso, depois de tanto tempo fazendo essas provas, as bancas examinadoras conseguiram um know how em exames vestibulares. Por que não aproveitar essa experiência para fazer a prova do Enem ou deixar o exame apenas como uma das fases do vestibular das federais?
Malvina Tania Tuttman – O know how das universidades públicas está sendo utilizado. O Inep lançou um edital convocando todas as Instituições de Educação Superior (IES) públicas interessadas a se inscreverem e participarem da elaboração de itens para o BNI (Banco Nacional de Itens) do Enem. 43 instituições já estão participando de atividades para a elaboração dos itens que estarão nas próximas provas. Agora, no final de julho, foi realizado o segundo evento de capacitação de instituições cadastradas para elaborar e revisar questões, com a participação de coordenadores de 22 instituições.
Criar – A prova do ENEM já enfrentou sérios problemas nos dois últimos anos, com vazamentos e impressões erradas. Isso criou sérios transtornos para universidades, mas, principalmente, para os vestibulandos que protestaram contra a sua falta de transparência. Apesar disso, o governo planeja fazer duas vezes esse exame no próximo ano. Como o INEP está se estruturando para evitar que esses problemas ocorram novamente?
Malvina Tania Tuttman – O Inep criou uma Unidade de Operações Logísticas e está detalhado todo o processo de aplicação, com a contratação de empresas especializadas para cada etapa do processo. Isso não ocorria no passado, quando a forma de contratação envolvia todo o processo sendo fornecido por uma só empresa. Isso nos permite, por exemplo, contratar uma gráfica de segurança máxima.
Além disso, foram firmadas diversas parcerias. O Enem tornou-se uma ação de interesse da sociedade brasileira. Em função disso, vários parceiros foram incorporados a seu processo de aplicação.
Além das forças armadas – Exército, Marinha, Aeronáutica -, temos o apoio da Polícia Federal e de todas as secretarias estaduais de segurança pública.
Contratamos, ainda, uma empresa de gestão de risco que monitora cada detalhe do processo e também celebramos uma parceria com o Inmetro. Estamos tomando todos os cuidados para que o participante do Enem se preocupe apenas em estudar e fazer uma boa prova.
Criar – O sistema de inscrições pelo SISU mostrou-se obsoleto para atender a demanda de alunos, quando o número de inscritos era de 3 milhões. Agora, com 6 milhões, isso não tende a piorar? Quais as medidas que o MEC está tomando para minimizar isso? Não foi absurdo ficarem tantas vagas sobrando nas universidades federais no primeiro semestre por culpa do SISU, a ponto de o governo ter de abrir novas inscrições em julho?
Malvina Tania Tuttman – O SISU não é de competência do Inep – é um programa do Ministério da Educação, tocado pela Secretaria de Educação Superior. Mas posso assegurar que foram tomadas medidas de reforço do sistema de informática que permitem acesso muito grande. Prova disso foi o sucesso nas inscrições ao Enem este ano, já que tivemos até 300 mil acessos simultâneos e o sistema manteve-se estável.
Criar – Num país de dimensões continentais, enormes diferenças na estrutura educacional, mas de transporte precário, como o Brasil, fazer uma prova nacional não é uma temeridade? Não seria melhor fazer uma prova regional, com o auxílio das bancas das universidades públicas, por que isso contemplaria melhor as especificidades de cada lugar?
Malvina Tania Tuttman – Tentamos minimizar qualquer dificuldade de transporte. Prova disso é que o Enem será aplicado em 1.599 municípios este ano. Levamos a prova a locais de difícil acesso – inclusive nos valendo de aeronaves e embarcações.
Para o Inep, o Enem é uma avaliação em larga escala. Dessa forma, é fundamental que seja um exame nacional, para permitir comparabilidade e proporcionar diagnóstico preciso da situação em diversos estratos.
O uso que foi dado ao Enem – como critério de acesso a universidades participantes do Sisu, do Prouni – como critério de acesso individual por diversas instituições, como critério de seleção para emprego, de concessão de bolsas de estudos por instituições ou governos estaduais ocorre justamente pela qualidade desse exame.
Quanto ao Sisu e ao ProUni, o importante para o Governo Federal é garantir a igualdade de condições de ingresso às universidades. As provas já são construídas por meio de um banco de colaboradores, incluídos por meio de Chamada Pública que capta profissionais de todo o país.
Criar – O sistema de pontuação da prova do Enem tira do aluno a clareza sobre quantos pontos ele realmente fez na prova. Muitos, inclusive, fazem a prova no 1º dia e, por acharem que não foram bem, não querem ir no 2º dia. Existe uma fórmula para que o aluno entenda mais facilmente esse sistema?
Malvina Tania Tuttman – Na página eletrônica do Inep há uma explicação detalhada da TRI – a Teoria de Resposta ao Item, utilizada no Enem. Não é uma fórmula fácil, mas é uma fórmula segura e justa.
Além disso, a TRI permite que se comparem resultados de edições diferentes. Isso, que já é muito importante hoje, será ainda mais quando passar a ser aplicado mais de um Enem por ano. Já em 2012 serão duas edições do exame.
Criar – Existe realmente a possibilidade de o aluno receber sua redação corrigida em casa, até para que ele possa se preparar melhor para as próximas provas?
Malvina Tania Tuttman – O Enem busca se aperfeiçoar a cada ano. Medidas que possam vir a melhorar o processo são estudadas permanentemente – e essa é uma delas. Isso, no entanto, não seria para agora.