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Renato Tales Gomes
Criar Ribeirão Preto

Pense fora da sopa

O artista Andy Warhol revolucionou o universo artístico, na década de 60, ao pintar uma tela com várias latas de sopa e estabelecer o conceito de arte pop. Peça fundamental no processo de criação do artista foi o uso da imaginação, essa que ao longo das décadas teve o seu valor alterado, até chegar à plurivalência atual. A partir daí, a imaginação é valorizada de maneira antagônica dentro dos campos político e econômico e, consequentemente, as manifestações culturais são afetadas por tais aspectos.

O mercado de trabalho idolatra a imaginação, enquanto a política tende a refreá-la. Dentro do contexto da 4ª Revolução Industrial, no qual o homem é obrigado a disputar postos de trabalho com inteligência artificiais, a imaginação é tida como imprescindível e fator chave nos currículos. As máquinas maximizam a produção, mas são mentes versáteis as capazes de driblarem as crises e criarem medidas lucrativas. Em contrapartida, os governantes, de maneira geral, consideram as novas formas de se pensar a política como uma ameaça aos privilégios e ao status quo. Disciplinas que estimulam a criatividade junto do espírito crítico - Filosofia e Sociologia - são excluídas das bases curriculares e o raciocínio lógico-matemático é valorizado, de modo a tratar os criativos como transgressores. Logo, a imaginação só ganha o devido valor no campo dos lucros e é contida nos demais para frear mudanças.

Por conseguinte, as manifestações culturais se apropriam de tal valor sobre a imaginação. Por um lado, na era pós-Warhol, as releituras ganharam espaço aliadas a uma promessa de rendimentos rápidos e a imaginação perdeu o seu protagonismo prévio. Grande parte das produções atuais do cinema e de séries são refilmagens com leves mudanças de títulos das décadas passadas, indo de Blade Runner até Westworld. Por outro, a imaginação no campo musical, antes tida como recurso para a contestação política em períodos repressivos, se esvaiu em melodias, muitas vezes, banais e repetitivas. Salvo os estilos em que o protesto faz arte da sua gênese, como o rap, as demais vertentes estão alinhadas a mover multidões em gritos monossílabos e melhorarem suas contas bancárias.

A imaginação, portanto, é valorizada na economia como recurso gerador de lucros e condenada pela política, por se constituir como elemento precursor de revoluções, a ponto de a cultura se apropriar de tal visão. A máxima propagada na mídia de "Pensar fora da caixa" acabou banalizada e já não surte tanto efeito, de modo que ela poderia ser alterada, baseada na obra de Warhol, para: Pense fora da sopa!. Talvez assim, a imaginação possa alcançar o seu devido valor fora do plano econômico também.