Em Atenas, na Era Clássica, eram considerados cidadãos apenas homens do sexo masculino, maiores de 18 anos, de uma certa classe social e filho de pais atenienses. Somente esses podiam opinar e exercer a democracia grega. Esse termo se tornou mais abrangente no Brasil moderno, em que homens e mulheres - independente da renda ou nascimento - podem exercer sua cidadania. Mas até que ponto? O voto obrigatório dialoga com o período democrático atual?

Votar é direito estabelecido na Carta Magna da nação. Ademais, ele é uma obrigação. Escancara-se, portanto, um paradoxo: como defender a liberdade da democracia, tendo como instrumento a imposição aos cidadãos. Segundo pesquisas do instituto Datafolha, apenas 39% da população brasileira é a favor do voto obrigatório, a maioria esmagadora apoia o voto facultativo. Infelizmente, no período eleitoral, a quantidade é superestimada enquanto que a qualidade não.

É possível melhorar a qualidade dos eleitores (e por conseqüência, dos eleitos) por institucionalizar o voto facultativo concomitantemente a um ensino de política nas escolas brasileiras. No quadro "Abaporu", de Tarsila do Amaral, o homem é anaformizado - pés e mãos enormes e cabeça incrivelmente pequena. Essa é uma representação do brasileiro, que tem laços quase que umbilicais com o trabalho braçal e pouca afeição com o intelectual. Isso é resultado de anos de obrigatoriedade de voto e falta de ensino, quando se trata de política. Então, como esperar que os "abaporus" da contemporaneidade saibam votar?

Essa questão tem a mesma força que a resposta dada pela esfinge em seu mito. "Decifra-me ou devoro-te". Faz-se necessário desvendar o quadro político do Brasil para não ser "devorado" por mais corrupção. O voto facultativo é um passo em direção à solução, uma vez que por meio dele, somente eleitores com real intenção de votar comparecerão às urnas. Um exemplo disso é os Estados Unidos da América, e isso funciona muito bem por lá.

Indubitavelmente, o voto deveria ser facultativo no Brasil. Mesmo que a democracia grega tenha seu nascimento há muitos anos atrás, é preciso atualizá-la. Essa seria uma forma de atenuar o caos político da corrupção "decifrando" a política desde cedo nas escolas. É possível esperar que os "Abaporus" da atualidade saibam votar, porque aqueles que o fazem estão de acordo com a liberdade da democracia.