Na escravidão, as "amas de leite" amamentavam os filhos da casa grande, alimentando, tambem, o carinho da criança pela "mãe negra". Eis uma adoção simbólica, de filhos por pais, independente de características físicas. Outrossim, hoje a adoção legal é discutida de maneira contrária, pois, grande parte das pessoas deseja escolher a aparência do filho na adoção. Tal ato, faz com que embora o número de famílias interessadas em adotar seja grande, boa parte das crianças cresçam em abrigos e fundações. Duplamente rejeitados, os danos aqueles que não pertencem a faixa etária e a etnia desejada agravam-se ainda mais.

A família a qual escolhe o filho por semelhança com a própria imagem não está pronta para adotar, pois esta preocupa-se mais com a "persona" quem com a "personalidade". Segundo o delineado pelo psicólogo Jung, tais conceitos definem-se respectivamente como a imagem criada perante a sociedade e as características intrínsecas ao indivíduo. Aqueles que verdadeiramente se dispõe a cuidar, educar e amar uma criança, precisam ir além das aparências e dos preconceitos histórico-sociais que corroboram a nossa sociedade.

Ademais, quando a essência é o que realmente importa, o desejo de ver os primeiros passos são meros detalhes comparado à possibilidade de acompanhar os passos de toda uma vida. Não obstante, a nescessidade de encontrar uma família é proporcional à idade do menor, considerando o quão fundamental é, na formação do caráter e da moral, a instituição primária. Logo, se o ato é dotado de empatia, a preferência etária comum torna-se um comportamento paradoxal. Dessa forma, Boa Ventura S. Santos acertou ao dizer que "estamos a três desertos de uma perfeição moral", vive-se de personas as quais não condizem com as vontades individuais.

Nesse interím, restringir o perfil da criança na adoção é uma forma de preconceito racial e etário, que nos distancia de relações tal qual a das "amas de leite". Viver no mundo das aparências, portanto, reflete o preconceito acorrentado ao Brasil e o distanciamento da moral. Visto isso, é necessário por fim a tais práticas antes que mais crianças cresçam duplamente rejeitadas, sem família.