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Viviane Raquel Higa
Criar Campinas

Jovem: de Boneco de Olinda a João Bobo

A busca pelo final feliz, o "happy end", pelos jovens tornou-se coisa de contos de fada do passado. Hoje, com a atual realidade competitiva, que massacra a capacidade de imagem das pessoas, uma vez que é necessário ser sempre racional, os jovens são frequentemente influenciados pela tecnologia, a qual, de certa forma, incentiva a humilhação para estabelecer relação de superioridade. Com isso, a juventude passa a buscar o "happy slapping", estapeamento feliz, para se sentirem satisfeitos. Assim, diante do sedentarismo do século XXI que as tecnologias nos proporcionam, o estímulo à liberação de endorfina, hormônio da satisfação, que antes era pelas atividades físicas, passa a ser através da humilhação do outro.

Os programas de televisão, que informam e entretêm as pessoas, nas décadas passadas divertiam os telespectadores através de programas como "O Gordo e o Magro", que traziam risos sátiros sempre envolvidos por um laço de amizade. Já nos dias atuais, com a concretização do instinto competitivo, a diversão ficou a cargo de programas como o "Pânico na TV", que provocam risos através da humilhação do outro como uma forma de impor uma hierarquia de superioridade. Dessa forma, os jovens são estimulados aos atos de violência, seja física ou moral, para se imporem na sociedade, e, consequentemente, tornam-se fantoches da mídia e do sistema capitalista que exige desnivelamento social.

Mas, como nesse sistema de nada adianta fazer se não for mostrado aos outros, a tecnologia aprimorou-se de tal maneira que em diversos eletroportáteis já são incluídos câmeras fotográficas e filmadoras, as quais se tornaram instrumento para exporem a violência. Com isso, os fantoches passam a imitar os degradados programas de televisão produzindo vídeos caseiros. Assim, a filmagem, que era algo nobre para registrar momentos alegres, passa a ser uma ferramenta do sistema, que estimula a superioridade, registrando violência.

Para divulgar os deprimentes vídeos caseiros, surgem aprimorados programas na internet para a disseminação do "happy slapping". Dessa forma, a globalização da violência fútil de adolescentes atinge tanto países desenvolvidos, como, por exemplo, a Inglaterra, como também os em desenvolvimento, como o Brasil. Assim, os meios de comunicação, que antigamente divulgavam movimentos engajados como o "Luddista" de destruição das máquinas em protesto contra a ausência de direitos aos trabalhadores, hoje, incentivados pela mídia, divulgam movimentos de destruição dos homens.

Portanto, a tecnologia em conjunto com as barreiras que o sistema nos impõe para alcançar o "happy end" estimulam os jovens a buscarem o "happy slapping" num mundo que os ignora preferindo dar prioridade à agilidade das máquinas, as quais geram capital. Dessa forma, o planeta assiste à destruição dos jovens assim como o século XIX assistiu à destruição das máquinas. Assim, os fantoches que no fundo buscam ser um "boneco de Olinda", grande e vistoso, tornam-se "João Bobo", que é guiado pelo vento e visto aos risos como algo que nunca vai se endireitar, mesmo porque o sistema não permitirá que a poderosa arma detentora da imaginação saia de seu poder.