Ao idealizar sai teoria sobre uma sociedade perfeita, Thomas Hobbes assegurou todos os poderes desta a um único governante, o Leviatã. Este seria o pilar preliminar para a estabilidade social e adquiria, como conseqüência de sua competência, o apoio e a devoção popular. Atualmente, no entanto, não há um único político pensante e atuante que desempenhe essa supremacia. Na verdade, na era do consumo compulsório, é o dinheiro o grande Leviatã do século XXI.
Com uma influência intocável e incalculável, ele se responsabiliza pela constante segregação na dinâmica global. Espacial, social e culturalmente, a quantia monetária determina hábitos e vivências diárias independentes do desejo individual do cidadão. Para ir ao teatro ou ao cinema, requere-se um caro ingresso. Para morar num dos luxuosos enclaves fortificados, daqueles que estendem muralhas ao lado das favelas, é necessário estabilidade econômica. Dessa forma, cada vez mais, nossa sociedade deixa de ser uma e se torna muito dispare, em que vários estilos de vida coexistem, mas não se interligam.
Ademais, em conseqüência dessa segregação, o dinheiro passa a moldar o caráter dos grupos sociais. Assim, como previu Hobbes, esse Leviatã conquista seus subordinados que aí desejam tão somente alcança-lo. É isso ocorre principalmente na sociedade de consumo em que primordialmente, o que possuímos define nossa personalidade. Dessa forma, os donos de contas bancárias polpudas gabam-se de seu poderoso status enquanto a ambiciosa classe média almeja a exacerbada junção de capital visando se integrar completamente ao "Leviata’s way of life".
É possível perceber, portanto, que o dinheiro é o mais importante sustentáculo da sociedade consumista do século XXI. Ele é estimulante individual diário que nos faz almejar seu acúmulo para elevarmos nosso padrão de vida. Hobbes estava certo: encontrar-se um Leviatã, inabalável, intecável e cativante. Porém, a humanidade também foi submetida à sua própria segregação e egoísmo para ser capaz de segui-lo.