Nada mais agradável que um café da manhã em um belo dia de sol...a xícara fumegante, o pão, a geléia...as cadeiras vazias. Não sei realmente onde, mas acho que o pessoal daqui de casa foi a algum lugar... e me deixaram aqui (talvez por causa da cara feia que faço quando mencionam passeio exóticos demais). Por que se preocupar? Não há nada melhor que um bom silêncio para colocar as idéias no lugar... Não vão me deixar só pela vida inteira, afinal... O precipício desesperador da solidão ainda está longe... pelo menos é o que penso.

Sim, sim, acho que todos sabem que ninguém morre por ficar sozinho uma hora ou outra, mas, e se essa " hora ou outra" se transformasse em anos, como reagiríamos? Seríamos definitivamente jogados em um abismo perigoso, o qual salientaria a vulnerabilidade pungente a que a homem está exposto. È um medo implacável que nos invade e subjuga, fazendo-nos escravos de nosso próprio corpo, dependentes dos outros...portadores de uma síndrome à qual não estamos imunes.

Espera um minuto... não devo ter ficado insano ainda. Até onde sei nosso querido planeta era bastante povoado; lembro-me de perder a conta de tantos números... Solidão! Solidão? como pode isso existir se o mundo quase transborda de pessoas? È assim que chega a conclusão do que "sentir-se só" está muito mais relacionado ao estado de espírito que físico e, também, ás inúmeras barreiras que impomos em nossos dias, que, embora sejam uma tentativa de nos blindar contra possíveis ataques emocionais, são os responsáveis por grande parte desse temor silencioso que adquirimos.

Mesmo assim, com toda essa necessidade de uma convivência social efetiva, esquecemos-nos de que momentos de paz são essenciais. Se escreve é porque estamos fechados eu e meus pensamentos para que eles não fujam, sem ignorar, por favor, que as obras mais memoráveis da humanidade são filhas do silêncio e da solidão, afinal, nunca li registros históricos que afirmassem que Leonardo da Vince tenta pintado a enigmática Mona Lisa com uma platéia assistindo-o. Não apesar do medo de admitir, os momentos solitários são sim inerentes a nossa nobre existência.

Entendo. Mas, mudando de assunto... será que o pessoal vai demorar para voltar? Espero que não, porque o café esfriou e já não tenho mais nada para fazer... Não estou com medo, não, definitivamente não. Acho que é assim mesmo, quando estamos sós queremos companhia, e se estamos acompanhados procuramos solidão. Essa é a eterna incoerência da humanidade... Queria tanto saber se mamãe vai demorar... Onde foi que deixei o telefone?