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Debora de Barros Foggioni
Criar Franca

Onde estão as "Compadecidas"?

Uma das maiores evidências da globalização é a crescente consciência da necessidade da existência de leis que protejam a dignidade humana. Nunca houve episódios como esse na história: o mundo sempre foi um quebra-cabeças incompleto, o que ocasionava a falta de integração entre suas peças. Hoje, esse quebra-cabeças está completo. O respeito universal aos direitos do homem é a ferramenta essencial para emoldurá-lo, garantindo uma ordem duradoura. O maior desafio é que esse respeito brote de todas as nações naturalmente, sem nenhuma forma de imposição.

Nunca, na história da humanidade, os diferentes cantos do mundo foram tão integrados. Os primitivos viviam em bandos isolados uns dos outros. Os gregos, romanos e muitos outros, apesar de grandes civilizações, foram povos que lutavam por terras de específicas regiões, sem a real consciência da vastidão e diversidade do planeta. Assim caminhou a humanidade até o fim da Guerra Fria, quando ficou claro que em todas as disputas e guerras existentes, os inimigos lutaram, paradoxalmente por uma mesma causa: o respeito à dignidade humana.

É nesse sentido que se pode enxergar o progresso que houve desde então: reconhecimento da existência e da necessidade de concretização do respeito aos direitos humanos em âmbito mundial. Apesar disso, muitas culturas se contrapõem a todo esse processo de globalização. Por isso é necessário que os países defensores do universalismo dos direitos do homem relativizem as questões culturais, já que passamos por um período de transição, mas não sejam impotentes, como muitos foram no episódio do massacre de tutsis realizado por hutus na Ruanda, em que nem mesmo a ONU conseguiu impedir o genocídeo naquela época.

A condenação à morte da mulher iraniana, Sakineh, acusada de adultério, é um dos extremos a que pode chegar o posicionamento diante de ameaças à dignidade humana: relativizar a cultura local ou condenar radicalmente essa atitude como uma infração os direitos humanos? As atitudes dos estados e das organizações mundiais, nessas situações, devem pender para a relativização, na medida em que desentendimentos, nesses momentos, podem desembocar no maior dos crimes contra a humanidade: a guerra. Apesar disso, interferências pacíficas através do diálogo são fundamentais.

Na peça " O Auto da Compadecida" , de Ariano Suassuna , apesar de todos os pecados na terra, as personagens lutam pelo direito de serem perdoadas por Deus. O radicalismo está presente na figura do demônio, que deseja a punição para todos. A Compadecida é a intercessora que, através de seu pacifismo, consegue assegurar o direito reivindicado pelas personagens. Na nossa realidade de luta pelos direitos humanos, temos os demônios do radicalismo e os deuses do perdão. Falta-nos encontrar as "compadecidas" que façam essa ponte.