O homem desenvolveu o fogo: todos se beneficiaram. Depois desenvolveu a máquina de escrever: parte foi beneficiada. Recentemente, desenvolveu o acelerador de partículas: apenas os físicos da área compreendem. O conhecimento diferencia as pessoas e quanto mais especifico é o assunto, mais elitista é a informação. Após séculos de aprimoramento é de se esperar que usufruir de toda tecnologia existente não ocorra. Porém ter a oportunidade para escolher o que compreender ou não é um direito (que não se exerce).
A profundidade das ciências atuais é tamanha que se tornou impossível estudar todas. Por exemplo, um doutor em "química orgânica" lê um artigo de "física nuclear" e não compreender sequer os exemplos dados. Há uma elite intelectual, que em grande parte dedica a vida ao desenvolvimento de novas tecnologias (cada um em sua área). A responsabilidade de tal elite é promover avanços para a sociedade. Mas há parte das descobertas que simplesmente não serão massificadas, caso do artigo de física nuclear ou do acelerador de partículas. Afinal majoritariamente não há utilidade para as massas.
Entretanto o desequilíbrio entre tecnologia e desenvolvimento intelectual de grande parte do mundo não chega perto dos níveis citados acima, e este sim é um problema. Enquanto alguns carregam em suas mochilas livros virtuais contendo a "biblioteca de Alexandria", outros não têm mochila e muito menos conhecimento do que é a tal biblioteca. Além de injusta, a situação fragiliza o grupo dos excluídos, pois sem conhecimento, o indivíduo geralmente se conforma ou é manipulado. O conhecimento liberta. Prova do mesmo é o Index Libroirum Proibitorium, arma de controle contra o questionamento de seus dogmas.
Apesar do index librorium proibitorium não vigorar mais, o conhecimento é detido no início do processo, ao não se ter acesso a educação de qualidade. No Brasil, há cerca de 35 milhões de analfabetos funcionais (que obviamente são imensamente menos "desenvolvidos" que as tecnologias existentes). hipoteticamente poderiam ser 5 milhões de cientista brasileiros, conseqüentemente, 5 milhões de cérebros pensantes, 5 milhões de descobertas que jamais descobriremos.
Ou seja, a falta de investimento na educação, além de cruel é burra. A educação é a base do desenvolvimento social, por que indivíduos pensantes formam uma sociedade mais coerente e geralmente mais consciente. Caso da Suíça e da Noruega, recordistas em baixos níveis de infrações aos direitos humanos. Para aniquilar qualquer desigualdade, precisamos de uma população interessada, pensante que não será manipulada ou acomodada.
Quando crianças, sonhamos em ser astronauta, cientista, policial. Embora relutantes, temos que admitir que na realidade nossas crianças não têm esse poder de escolha. Ironicamente, desenvolvemos tecnologias capazes de realizar sonhos complexos como ir à lua, e negamos a realização dos mais simples. Concluímos que o desenvolvimento tecnológico superou o desenvolvimento social ao negar-se a educação de boa qualidade. A conseqüência desta disparidade, além de errada por princípios éticos, é a perda de possíveis cérebros pensantes.