A liberdade é uma utopia; uma mentira social cravada na mente mortal para aliviar o fato de viver. Na verdade o único carnal a gozá-la, mesmo que por poucos instantes, foi Adão. Porém, Deus, como ser onipotente, decidiu criar Eva, uma fêmea; deu-se início a escravidão humana.
De fato, o ser racional, fruto da complexa seleção natural, carrega em seu âmago a necessidade animalesca de perpetuar-se; o divino outorgou a sua obra: "multiplicai-vos". Desse modo, foi imprescindível o começo das primeiras aglomerações - tribos, vilas, cidades - para assegurar a sobrevivência. Por seu turno, a busca pela ordem fez nascerem as imposições sociais e todas as regras de vivência estritas ou não, mas arraigadas em cada pessoa.
A procura pela ordem construiu o Estado, as formas de governo e a igreja, que são as mais nítidas formas de coerção e provas da facilidade do livre arbítrio. Ademais, Weber caracterizou o primeiro como monopolizador da violência para a manutenção das instituições. Com veracidade, pois impostos e constituições são elaborados com o intuito de evitar o caos e reinara ordem. A própria democracia força os cidadãos a seguirem as leis, e subjugarem a elas. Por sua vez, a religião também priva e delimita os seus fiéis; mesmo o que é acesso ao divino segue princípios e dogmas, indiferentemente de ser uma seita cristã ou uma suposta "Igreja do Diabo".
Assim, o próprio ser humano é prisioneiro de si próprio. Os sentimentos, as emoções e os vínculos, por mais fúteis ou essenciais que sejam, colaboram para construção da percepção de mundo e para a integridade psicológica de cada indivíduo. Tanto os gostos, as paixões e os amores, como a dor, o ódio e a vingança são reflexos da mente e inerente a qualquer mortal. Até a morte é outorgada aos viventes.
Desse modo, a liberdade, idealizada ou natural, é uma falácia imposta Nietzsche disse que não há fatos eternos, tão como não há verdades absolutas para a raça carnal. Por sua vez, Machado, em sua teoria do humanitismo, ilustra bem a falsa e o legado da miséria humana: "Ao vencedor, as batatas", ou seja, a suposta liberdade criada resume-se a um sonho, uma utopia.