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Thiago Grigoletto
Criar Ribeirão Preto

Pátria minha, ninguém te ama!

Não é Voltaire, nem Rousseau; não é Montesquil, muito menos D’Alembert. É só mais um admirador de gênios cronistas tentando, pelo princípio de Mimesis, unir o requintado iluminismo ao estranhamente belo futebol; é só mais um qualquer tentando entrelaçar o clássico Freud ao "arretado" Vampeta.

Foi por esses dias. O "ninguém" que vos fala, assistindo ao torneio esportivo mais visado do planeta - a copa do mundo - parou para pensar (viu? Ninguém pensa!)... Minha mãe, que sempre repudiou o futebol das tardes de domingo, estava com uma camisa oficial da seleção brasileira; minha sobrinha, que pensa que Dunga é só o anãozinho da "Branca de neve", xingava esse por ter esquecido o "gansinho feio" e seus malabares; nossa cozinheira, já um pouco pra lá de Bagdá (ou de Marte, talvez) dizia o tempo todo: "Pedala Robinho, PEDALA!"

É, minha família não era assim por exatos 4 anos. Excetuando-se eu e meu pai - com quem aprendi a gostar de futebol - o resto mal lembrava se o calçado dos jogadores era chuteira ou tamanco. Como diria meu querido Vovô (que Deus o tenha): "O futibó é surpreendente, ninguém tem que vê isso!" Bem, há 4 anos a copa do mundo acabava para nós, brasileiros. Nossas bandeiras foram todas jogadas no lixo. Nosso patriotismo foi-se embora junto com aquele par de meias do boníssimo Roberto Carlos. Daí para frente resolvi esquecer que ninguém é brasileiro. Tinha trabalho a fazer, e contas a pagar...

Foi ai que Freud e outros me vieram à cabeça. Ficou mais do que claro, para mim, que o futebol - e a copa do mundo, em especial - são os rituais que tem a maior probabilidade, a maior eficácia na construção de identidades nacionais. O que mais faz toda uma nação desfilar com a bandeira nacional na mão (e claro, um copo básico de cerveja na outra)?

É querer ser bom no que todo o mundo valoriza? Talvez o fato é que a copa do mundo se tornou muito mais um evento sociológico do que esportivo. E isso traz várias dúvidas a quem a estuda, como ninguém estudou... Ta com dúvida! Será que aquela "menininha", que de futebol só entende do sorriso do Kaká, comemora um gol para extravasar uma emoção fulminante, ou grita mesmo só para cumprir um papel social imposto a ela? Essa eu pulo, vou esperar surgir um novo Freud, que tenha cacoete para responder isso.

Por mais globalizado que esteja o futebol, por mais que alguns "antiguistas" digam: "O futebol de hoje não é nada!"; ainda se vê traços culturais bem definidos no campo e nas arquibancadas. A copa do mundo representa a hora marcada e irremediável para sermos patriotas. E por isso afirmo: todo mundo gosta de futebol, mais do que isso...Ninguém ama essa pátria!